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O que a virologia pode fazer contra a dengue?

Desde que a epidemia da dengue se alastrou pelo Rio de Janeiro, o professor do Departamento de Virologia da UFRJ, Maulori Cabral, não sai da mídia. Televisão, jornal, rádio, internet, todos os meios são aproveitados como forma de conscientização contra a doença. A mosquitérica (armadilha “genérica” para mosquitos, feita com garrafas pet) já é usada como “amuleto” em diversas escolas e comunidades. O Fuzuê da Dengue, promovido pela UFRJ em parceria com a Fiocruz, junta-se às diversas ações promovidas pela nossa universidade para alertar a população sobre a epidemia e conter a doença.

O Fuzuê da Dengue tem por objetivo visitar escolas, associações de moradores, igrejas, residências e quaisquer outros locais públicos, educando todos sobre os riscos da dengue, mitos e verdades, a forma de evolução do mosquito e como todos podem ajudar a combater a doença, através da mosquitérica. “Em Saquarema, no primeiro semestre do ano passado, os alunos das escolas municipais fabricaram as nossas mosquitéricas. Quando surgia alguma contaminada com larvas que fogem da luz – característica do aedes aegypti – a escola era informada pelos alunos e passava estes dados para o Ministério da Saúde. Os agentes, então, visitavam o entorno da casa onde havia se instalado a mosquitérica, para promover o controle dos focos. Saquarema provavelmente será o primeiro município a se livrar da dengue por via educacional”, comemora o professor Maulori.

No último Sábado, 5 de abril, o grupo passou pela Ilha de Paquetá, promovendo diversas atividades educativas. “Este lugar será o nosso laboratório de civilidade populacional. Dia 4 de maio estaremos lá novamente para fazer a avaliação do resultado das nossas ações, e mostrar que população educada é população sem dengue”, afirma o professor. No dia 24 de abril, será a vez da comunidade do Pavão-Pavãozinho receber o Fuzuê.

Curiosidades sobre a dengue

Ovos aderidos a recipientes de plástico se mantêm viáveis por até dois anos, esperando qualquer oportunidade de irrigação do ambiente para o desenvolvimento das larvas, pupas e, por fim, do mosquito. Um em cada mil mosquitos da espécie aedes aegypti já nasce contaminado com os vírus da dengue. Por este motivo, onde há um quadro epidêmico de dengue, seja qual tipo for, e não se acabam com os mosquitos, a doença se mantém no ambiente urbano de forma endêmica. “À medida que se tem uma congregação de pessoas com potencial de adoecer, e ovos de mosquitos em abundância, criamos o ambiente ideal para que a endemia atinja seu ápice sob a forma de surto. É isso que estamos vivendo agora”, explica o professor.

Alguns indivíduos estão mais predispostos a desenvolver os sintomas da dengue, em maior ou menor proporção. “Na situação atual, aqueles com alto risco de manifestar a doença em sua forma mais grave podem morrer, ao serem contaminados por um simples mosquito. Infelizmente, não há testes laboratoriais que avaliem a vulnerabilidade de cada um. A melhor maneira de escapar deste risco é evitando a contaminação pelo mosquito”, continua.

Por outro lado, 90% das pessoas contaminadas não evoluem para quadro clínico nenhum, adquirindo uma dengue inaparente. No entanto, elas guardam um registro, que são os anticorpos reativos.

Como todos sabem, a água parada é a maternidade dos mosquitos. “Mas o que precisa ficar claro é que esta água não pode ser 100% limpa. O mosquito busca um ambiente rico em nutrientes, para garantir o desenvolvimento da prole, sem óleo nem detergentes dissolvidos, e em local sombreado. Quanto mais substâncias orgânicas, melhor”, esclarece Maulori.

A virose dos mosquitos, curiosamente, faz bem à família deles. Um mosquito contaminado põe os ovos, muitos dos quais se tornarão mosquitos fêmeas (apenas as fêmeas buscam sangue para alimentar sua prole) que necessitarão novamente deste sangue. As pessoas adoecidas pela dengue desenvolverão febre, cansaço, e geralmente buscarão ambientes fechados. Os filhotes da fêmea são guiados pelo calor que emana do corpo. Os doentes, então, se tornam doadores de sangue muito mais fáceis para estes novos mosquitos, já que estão com uma maior temperatura corporal por causa da febre, e prostrados.

As crianças de até um ano de idade, filhos de mães que já tiveram algum tipo de dengue, terão em seus sangue substâncias que já trazem uma certa forma de proteção. Porém, nos casos das flaviviroses (gênero de vírus que provoca a febre amarela e a dengue), a presença prévia destes anticorpos contra um dos tipos de vírus aumenta a probabilidade da infecção ser potencializada, caso ela seja atingida por um outro tipo. Nos países asiáticos, por exemplo, 25% dos casos de mortalidade infantil (até um ano de idade) são decorrentes da dengue hemorrágica. “Se não acabarmos com os mosquitos, as estatísticas no Brasil não serão diferentes”, lamenta o professor.

Tule e Microtule

 Saiba como construir sua mosquitoeira

Para elaborar a mosquitoeira, utiliza-se um pano chamado microtule. “Esta ‘tampa’ faz toda a diferença, pois não permite que a larva crescida escape e posteriormente se torne mosquito. Um detalhe importante: tule é diferente de microtule. Quando for a uma loja de tecidos, sugiro que peça primeiro o tule. Quando trouxerem, aí sim, pergunte pelo microtule. Muitas pessoas estão criando suas mosquitéricas com o material errado. É preciso tomar cuidado. Em vez de criar uma armadilha de mosquitos, talvez você esteja fazendo um criadouro”, esclarece Maulori.

As escolas podem agendar visitas do Fuzuê da Dengue pelo telefone 2562-6698 (Disque-Dengue da UFRJ).