Nesta quinta-feira (03/04), o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) recebeu o crítico de cinema e jornalista Ruy Gardnier e o mestrando em cinema japonês contemporâneo André Keiji, para um debate sobre o filme Café Lunière, do cineasta taiwanês Hou Hsiao-Hsien.
A exibição da obra faz parte da mostra Hou Hsiao-Hsien, selecionada pelo programa “Fórum na Tela” do mês de abril. Durante esta semana, já foram exibidos quatro filmes do diretor taiwanês, e o último está programado para hoje, sexta-feira, dia 4 de abril, às 18h30, no Salão Pedro Calmon – Avenida Pasteur, 250, Praia Vermelha.
O objetivo do programa, de acordo com Denílson Lopes, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e coordenador da mostra, é trazer às telas da universidade diretores de cinema contemporâneos pouco conhecidos, que não foram lançados comercialmente ou só circularam em festival.
– É uma tentativa de suprir uma deficiência na formação, apresentando trabalhos que não se encontra em locadoras, na televisão, nem em circuitos de cinema. É para que estudantes ou pessoas que gostem de cinema possam ter uma outra posição – elucida.
Debate
Após a exibição de Café Lumière, dando início à discussão sobre o longa metragem de 2003, o jornalista Ruy Gardnier expõe a trajetória da carreira de Hou Hsiao-Hsien, marcada não por contar uma história linear, mas por dar uma densidade às seqüências, com apelo tanto sentimental, quanto de tempo.
– O diretor vive um período de aprendizagem de 1983 até 1988, quando ele coloca a si mesmo a problemática de traçar a história de Taiwan no século XX. Cada vez mais ele vai tentar extrair as suas seqüências de um fluxo narrativo linear e vai trabalhando com uma câmera lenta, sinuosa, envolvente.
Na evolução das obras de Hou, Gardnier explica que a graça dos últimos filmes consiste na própria instalação, no espaço de tempo específico em que a qualidade independe da narrativa. “Em Café Lumière, nossa sensação vem dos efeitos de temporalidade e jogos de espaço que ele cria”, concluí.
Em concordância com o crítico, André Keiji reforça que, apesar de as primeiras obras do taiwanês partirem de uma narrativa histórica voltada para a constituição do país, o que se nota é a predominância de sensações sobre a verbalização. O mestrando ainda ressalta a característica do momento presente, como um fluxo em que não cabe a psicologia dos personagens:
– Quando chega à contemporaneidade, ele potencializa o tempo através dos planos, da brincadeira com foco e da posição o objeto, e se volta para o presente da duração da imagem. Nesses últimos filmes, parece que a característica da sensorialidade da imagem está exacerbada, até mesmo na postura dos personagens.