No mês de fevereiro, o projeto “Caminhos Geológicos” do Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro (DRM-RJ), em parceria com o Instituto de Geociências da UFRJ, inaugurou na cidade de Volta Redonda, no condomínio Vale da Colina, bairro Jardim Amália, o primeiro painel explicativo na região do Médio Paraíba. O projeto indica a ocorrência de uma exposição rochosa no local – chamada afloramento – da Bacia sedimentar de Volta Redonda, que conta parte da história geológica da região.
Segundo Claudio Limeira Mello, pesquisador e professor adjunto do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFRJ, o programa do DRM-RJ busca identificar, preservar e divulgar pontos de grande interesse geológico, tendo à frente Kátia Mansur, doutoranda em Geologia pela UFRJ e coordenadora do projeto “Caminhos Geológicos”.
– Alguns lugares são particularmente importantes para se entender a história da Terra. É o que chamamos de patrimônio geológico. É a mesma ótica de conservação de construções que marcam determinada época, paisagens exuberantes ou locais que abrigam espécies em extinção, considerados monumentos históricos, naturais -, explica o professor.
Ele conta que, atualmente, a maior parte dos painéis do projeto está na região dos Lagos, como a demarcação na Orla Bardot, em Armação dos Búzios, e na Reserva de Tauá, em Cabo Frio. O DRM-RJ, porém, tem ampliado a abrangência do programa, que hoje conta com aproximadamente 40 placas explicativas, prevendo a implantação dos mesmos em todos os municípios do Rio de Janeiro. “O projeto procura parceria nas universidades, convidando-as a indicar locais que possuem aspectos geológicos importantes que merecem ser preservados por seu caráter didático, científico e cultural”, afirma Limeira, lembrando que foi desta forma que o afloramento sedimentar na Bacia de Volta Redonda chegou ao conhecimento do DRM-RJ. Nessa região ele e Renato Cabral Ramos, pesquisador e professor adjunto do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional da UFRJ, desenvolvem pesquisas.
Estudos Geológicos
Essas pesquisas são feitas a mais de dez anos na região, formada por rochas sedimentares de aproximadamente 50 milhões de anos, que contam a história de formação do Vale do Paraíba. Segundo Limeira, não apenas Volta Redonda, como também outras cidades ao longo do Médio Paraíba do Sul, como Resende, Itatiaia, Taubaté, entre outras, foram construídas sobre rochas sedimentares. “Este tipo de terreno é mais propício à ocupação, por apresentar um relevo mais plano e suave, o que indica também o tipo de formação rochosa. Já as rochas metamórficas e magmáticas, por sua vez, apresentam um relevo mais acidentado”, explica o professor, apontando também que estas são formadas no interior da Terra, ao contrário das sedimentares. “Devido à sua formação na superfície, a rocha sedimentar – como arenitos, folhelhos e conglomerados – representa antigas condições ambientais que prevaleciam em determinada região em determinado tempo geológico”, esclarece.
No caso da Bacia de Volta Redonda, Limeira conta que a área foi deprimida tectonicamente e a partir de então passou a acumular materiais sedimentares, como arenitos e argilitos. “No afloramento no Vale da Colina, percebemos camadas de composições litológicas diferentes, que contam uma história de sedimentação fluvial e de movimentação tectônica. Pelo registro geológico, percebemos que a região já sofreu abalos sísmicos, do mesmo modo que há aproximadamente 50 milhões de anos possuía um expressivo sistema fluvial”, aponta o professor, destacando na região a existência de um tipo de cascalho de formato bem arredondado, chamado de ovo-de-arigó pela população local, típico de canais fluviais.
Segundo o especialista, a sedimentação na Bacia de Volta Redonda apresenta uma espessura estimada em torno de 100 a 200 metros, sendo a principal área, pelo seu tamanho, chamada Graben de Casa de Pedra, que fica no bairro de mesmo nome. “Do ponto de vista geológico, pode-se dividir Volta Redonda em dois setores sedimentares: a região da Casa de Pedra e a área urbana da cidade, que ocupa boa parte da Bacia”, disse o pesquisador, que completa: “Por Volta Redonda ter se expandido antes do estudo geológico, muita informação foi destruída ou está ocultada por construções, uma vez que os primeiros estudos geológicos de mais detalhe na região foram feitos apenas na década de 70, pelo professor Elmo Amador, do Instituto de Geociências da UFRJ”, explica destacando que, desde a década de 90, a UFRJ retomou os estudos na região.
Claudio Limeira esclarece que o conhecimento da geologia dessas áreas é em função de exposições naturais ou construídas pelo homem. “Geralmente o início do estudo dessas áreas se dá por cortes de estrada, de barrancos de rio, escavações para construção de residências, entre outros meios que expõem o terreno. Essa é a vantagem da urbanização na Bacia de Volta Redonda. Por outro lado, há o problema da cobertura dessas áreas com cimento ou grama, porque esse material sedimentar na região é muito friável, desmorona com a erosão superficial”, afirma o especialista.
O primeiro Painel no sul do estado
O pesquisador conta que existem ao menos cinco sítios de importância geológica em Volta Redonda, dos quais o afloramento no Vale da Colina integrava a relação de pontos de estudos conhecidos por seus alunos de graduação. “Como havia um projeto de instalação de uma praça no local, a prioridade foi dada a este afloramento sedimentar na indicação de pontos de interesse geológico para o DRM-RJ. Entramos então em contato com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da Prefeitura de Volta Redonda (IPPU), apresentando a importância didática e científica do afloramento para estudantes e pesquisadores de geologia. Apesar da existência de um projeto de cobertura do corte com grama, a Prefeitura aceitou incorporar à praça a preservação daquela estrutura sedimentar”, relembra Limeira.
Atualmente, a praça chamada Carombert Rocha Maia está construída e aberta à comunidade, que terá palestras a respeito da história geológica de Volta Redonda. “O painel do projeto ‘Caminhos Geológicos’ já foi colocado, explicando que o afloramento também é um patrimônio. A própria associação de moradores do bairro solicitou à Universidade e ao DRM-RJ as palestras que vamos realizar no bairro sobre a história e a evolução geológica da região, para que a comunidade entenda exatamente a importância do monumento geológico que está sendo preservado”, disse o pesquisador.
Limeira ainda destaca que este é o primeiro sítio geológico incorporado a uma estrutura urbana. “Esse aspecto é bastante interessante, pois ao mesmo tempo em que a população utiliza a praça para o lazer e para o convívio social, está diante de um patrimônio geológico antes desconhecido. É necessário, porém, o acesso à informação, como o painel e as palestras, para que as pessoas criem a consciência de que não se trata apenas de um ‘barranco’, pois, a partir do momento que foi identificado como um sítio geológico, é um registro histórico que deve ser preservado”, finaliza o especialista.