No dia 23 de novembro, Érika de Paiva Bucasio, psiquiatra, apresentou na sessão de estudos no Instituto de Psiquiatria da UFRJ a palestra sobre Burnout em equipes de resgate e salvamento do Corpo de Bombeiros do Município do Rio de Janeiro. O tema abordado constituiu sua tese de mestrado, concluída no IPUB neste mesmo ano.
A psiquiatra inicia a apresentação esclarecendo ao público o que é Burnout, também chamado de síndrome de esgotamento profissional. “Esta é uma síndrome relacionada a problemas ocupacionais, caracterizada pelo esgotamento físico, psíquico e emocional em decorrência de trabalhos estressantes e exaustivos, cujo quadro clínico resulta da má adaptação do homem ao seu trabalho”, explica Érika, destacando três dimensões no diagnóstico do Burnout: exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional.
A especialista conta que essas dimensões – caracterizadas respectivamente por estresse e cansaço relacionados à pressão no trabalho, distanciamento e frieza em relação ao cargo exercido e sensação de improdutividade – quando apresentadas ao mesmo tempo pelo indivíduo e em alto grau de manifestação, são sinais da síndrome de Burnout. “Não deve ser confundido, porém, com uma situação de estresse e fadiga momentâneos”, alerta Bucasio.
A psiquiatra explica também que a síndrome de esgotamento profissional traz conseqüências tanto para o indivíduo quanto para o trabalho: “num primeiro plano, pode acarretar maior sensibilidade a infecções, aumento do risco vascular, insônia, abuso de álcool e outras drogas, depressão e ansiedade. Já em outro aspecto, pode resultar em alta rotatividade, abandono e acidentes de trabalho, baixa produtividade, entre outros”, enumera a médica. Esses desdobramentos do Burnout levaram ao seu reconhecimento no Brasil como acidente de trabalho, sendo previsto pela Previdência Social, no Decreto 3.048 de 1999, e descrito no manual de procedimento para os serviços de Saúde pelo Ministério da Saúde.
Após o breve esclarecimento sobre as particularidades da síndrome, Érika explica então os procedimentos adotados em sua pesquisa feita com base na análise de casos em todas as unidades do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. “O estudo privilegiou, sobretudo, a pesquisa em equipes de ambulância, geralmente formadas por médico, enfermeiro e motorista. Foi aplicado um questionário a 267 profissionais, indagando sobre a relação deles com o trabalho exercido”, conta a psiquiatra, que completa: “A análise foi realizada apenas com os profissionais em exercício, descartando aqueles que estavam de férias ou com dispensa médica durante o período em que a pesquisa foi realizada”.
A especialista revela que os estudos chegaram à conclusão de que há uma prevalência baixa da síndrome de Burnout entre esses profissionais. “A síndrome foi diagnosticada em 19 indivíduos, que corresponde a 7,3% do grupo analisado. Entretanto, foi observada uma diferença significativa relacionada a sexo, idade, escolaridade, situação conjugal e saúde física relatada”, conta Érika, afirmando que foi constatada maior incidência de Burnout em jovens, mulheres, pessoas que não tem parceiros e pior saúde física relatada, com maior número de consultas médicas e internações no último ano.
Por fim, Bucasio destaca que essa pequena porcentagem de Burnout em profissionais do corpo de bombeiros pode estar relacionada ao orgulho, unidade e reconhecimento pelo trabalho exercido por eles. Ainda assim, entretanto, uma das dimensões da síndrome apresentou uma taxa mais elevada, chamando a atenção durante a pesquisa. “A exaustão emocional é a característica de maior incidência, o que pode indicar uma sobrecarga de trabalho”, supõe a psiquiatra, que defende: “Esse aspecto pode ser mudado, fazendo uma intervenção na forma como o processo de trabalho do Corpo de Bombeiros está estruturado. É preciso diminuir essa carga de estresse enquanto é baixa e antes que afete a saúde desses profissionais”, conclui a especialista.