No último dia 13 de outubro, a mídia divulgou a suspensão dos serviços realizados na emergência do Hospital Geral de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Houve interdição devido ao surto da bactéria Enterococcus faecium, presente na flora intestinal. Esta bactéria, quando em estado controlado dentro do organismo de uma pessoa saudável, não traz necessariamente malefícios à saúde. Contudo, em pacientes que acabaram de sofrer uma cirurgia, recém-saídos de terapia intensiva, dentre outras situações, há maior suscetibilidade a ter infecção por esse tipo de bactéria.

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Bactéria resistente a antibiótico exige controle

No último dia 13 de outubro, a mídia divulgou a suspensão dos serviços realizados na emergência do Hospital Geral de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Houve interdição devido ao surto da bactéria Enterococcus faecium, presente na flora intestinal. Esta bactéria, quando em estado controlado dentro do organismo de uma pessoa saudável, não traz necessariamente malefícios à saúde. Contudo, em pacientes que acabaram de sofrer uma cirurgia, recém-saídos de terapia intensiva, dentre outras situações, há maior suscetibilidade a ter infecção por esse tipo de bactéria.

No último dia 13 de outubro, a mídia divulgou a suspensão dos serviços realizados na emergência do Hospital Geral de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Houve interdição devido ao surto da bactéria Enterococcus faecium, presente na flora intestinal. Esta bactéria, quando em estado controlado dentro do organismo de uma pessoa saudável, não traz necessariamente malefícios à saúde. Contudo, em pacientes que acabaram de sofrer uma cirurgia, recém-saídos de terapia intensiva, dentre outras situações, há maior suscetibilidade a ter infecção por esse tipo de bactéria.

– Quando ocorre a colonização (proliferação do enterococo) das bactérias tornadas resistentes no corpo de uma pessoa, uma cirurgia, por exemplo, pode desencadear uma infecção, pois o paciente está fragilizado. Mas pessoas rígidas, saudáveis dificilmente apresentam esse problema –, declara Fernando Cardoso, chefe da Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ.

Para ele, o problema todo não se deve ao Enterococcus em si, mas ao VRE, ou seja, a bactéria que é resistente ao antibiótico vancomicina, por já ter contato prévio com este medicamento, aliada a certos fatores, pode desencadear quadro de infecção.

Questão de infra-estrutura hospitalar

A colonização é assintomática. As bactérias podem se proliferar no corpo de uma pessoa e ela pode nunca apresentar problemas. O caso realmente é grave para o meio hospitalar, porém, quando ocorre infecção descontrolada por VRE.

O contágio pode se dar pelo contato corporal ou pelo ambiente comum. “Este fator é absolutamente significativo dentro do sistema hospitalar. Quando as condições são precárias – como é o caso de muitos hospitais – e não há um controle eficaz, o surto é inevitável. O paciente tomado por uma infecção por VRE deve ser isolado, mas não há leitos suficientes. A higiene também deve ser rigorosa, mas, novamente, os hospitais públicos na atualidade não conseguem efetivar esta prática.”

Fernando também afirma que esta resistência não é nenhuma novidade, e em países europeus e também nos EUA estes casos são conhecidos e analisados há 20 anos. No Rio, porém, este surgimento é mais recente, em torno de cinco anos atrás. “Na verdade, o surgimento de VRE’s não surpreende os médicos, é o surto que nos preocupa. Este incômodo acontece não só porque não sabemos o motivo do aumento de casos, mas também porque o uso da vancomicina é a alternativa mais barata para o tratamento de pacientes acometidos por esta infecção. Há outras formas de tratar a infecção, mas são mais caras, e tornam o problema ainda mais grave para o hospital público.”

Segundo Fernando Cardoso outras bactérias (MRSA e pseudomonas, por exemplo) se comportam também como surtos nas emergências dos hospitais há algum tempo. “Como esta é mais nova e causou o fechamento da emergência do HGB, é natural ocorrer esta reação desesperada por parte das pessoas.”

Como toda infecção bacteriana, esta também pode levar à morte, se for indevida ou tardiamente tratada. Contudo, Fernando destacou, os medicamentos não surtem efeito algum em pessoas que não sofrem da infecção. “É preciso o quadro se manifestar para que o antibiótico funcione. É claro que as pessoas se assustam, pois o assunto é recente. Mas não adianta tentar evitar a doença tomando o remédio.”

Prevenir é mais barato que remediar

De acordo com o chefe do CCIH, o Hospital Universitário já tem uma outra opção além da vancomicina para o tratamento de infecções causadas por enterococos. Mas nem todo hospital apresenta múltiplas possibilidades. Fernando também ressaltou a existência da vigilância do VRE. “Aqui no HU nós procuramos controlar estes casos, para evitar surtos como este ocorrido no Hospital Geral de Bonsucesso. Por isso, fazemos cultura da bactéria para estudos e fazemos o isolamento quando pacientes apresentam este quadro. Mas isso também não é regra nos hospitais.”

O médico comentou a necessidade de fazer o controle destes casos porque a prevenção, para ele, é a melhor maneira de evitar estes transtornos. “Isso é causado por assistência incorreta a estas doenças. É preciso investir nos hospitais, em mão de obra e infra-estrutura adequadas.”

Como os tratamentos alternativos são bem mais caros do que a vancomicina, a busca é pela aplicação de verbas em métodos preventivos. Mas Fernando, que portava um broche com a pergunta “Qual é o valor do médico?”, vê que o valor da própria saúde não está sendo considerado. Assim, é de se esperar, se as condições dos serviços de saúde continuarem como estão, surtos como este acontecido no HGB tenderem a se tornar mais freqüentes por todo o Brasil.