Foto: Agência UFRJ de Notícias |
Camila Andrade |
Os grupos que unem a auto-afirmação como doente em constante tratamento e auxílio mútuo estão cada vez mais marcados no mundo contemporâneo. Vigilantes do peso, Narcóticos Anônimos e Alcoólicos Anônimos, por exemplo, são grupos que trabalham os problemas das pessoas com uma metodologia diferenciada. Um dos trabalhos apresentados na Jornada de Iniciação Científica abordou os discursos dos sujeitos imersos na irmandade Alcoólicos Anônimos (AA), mostrando como a identificação dos membros uns com os outros possibilita a recuperação.
De autoria da bolsista Camila Andrade de Araújo e orientado pela professora Carla de Meis, o projeto Tornar-se Alcoólatra: Narrativas de identidade sobre o alcoolismo em grupos de mútua ajuda dos Alcoólicos Anônimos analisa a história, a metodologia e os resultados obtidos pela irmandade. A pesquisa foi embasada na convivência e em relatos com membros da irmandade do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, e em métodos utilizados por grupos de mútuo auxílio como um geral.
Passo a passo da atividade do AA
Em primeiro lugar, a apresentadora expôs a história do AA para, em seguida, explicitar a maneira como ele se coloca diante dos indivíduos e vice-versa. O objetivo deste trabalho é descrever as narrativas de identidade sobre o alcoolismo, ou seja, como há construção de novos sujeitos na vivência das práticas e da comunidade dos Alcoólicos Anônimos.
Ao decidir-se por buscar auxílio, o sujeito assume uma nova identidade: o doente alcoólico. Ele, no momento em que resolve parar de beber, é que efetivamente se descobre dependente e necessitado de ajuda. O momento anterior a este é o chamado “fundo do poço”, no qual a pessoa chega ao limite de tolerância ao sofrimento e entende que precisa de ajuda. O AA chega neste momento à vida das pessoas.
A narrativa é o segundo passo, que consiste na rememoração das experiências. Neste momento, a pessoa pensa em tudo o que, durante toda a sua vida, poderia ter levado ao alcoolismo, fazendo um reposicionamento diante dos fatos. A pesquisa de Camila faz uma análise psicológica destas narrativas, que normalmente não são divulgadas para preservar o anonimato e a política do não-julgar típica da irmandade.
A bolsista também comenta como a igualdade é um valor importante dentro do AA. Por isso, o coordenador de cada grupo busca colocar-se como um igual, negando qualquer forma de hierarquia. Esta negação também inclui o não julgar os atos cometidos por uma pessoa enquanto ela estava sob o efeito do álcool.
A recaída é vista como uma possibilidade para qualquer um, e, apesar do discurso rígido dos Alcoólicos Anônimos, ela é bem encarada e tratada dentro da irmandade. Sendo assim, todos se crêem na eminência de retornar ao vício, “lutando para atravessar um dia de cada vez”.
Enfim, a pesquisa conclui que o AA, com seu método de auto-compreensão e mútuo auxílio entre os membros, acaba criando uma identidade a partir destes laços de solidariedade e desenvolvendo uma rede de suporte aos alcoólatras para superar seu problema.
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