Jandyr de Menezes Travassos, professor no Observatório Nacional (ON) e pesquisador com doutorado em Geofísica na Escócia, a convite da Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveu a palestra “Catástrofes terrestres naturais e induzidas”. A apresentação, que ocorreu na última quarta-feira, 3 de Outubro, integrou o projeto Ciência às 6 e Meia e incluiu explicações de algumas causas e conseqüências das catástrofes mais comuns que ocorrem no planeta.
— Catástrofes são fenômenos rápidos, definição que para os homens significa uma duração de alguns minutos, mas, para a Terra, pode englobar milhares de anos. Tais acontecimentos, por exemplo, terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis, tempestades, a diminuição da capa de ozônio, entre outros, podem ou não produzir resultados desastrosos, dependendo do nível de vulnerabilidade da área atingida — define, Jandyr.
Para ilustrar que catástrofes nem sempre são negativas, o pesquisador citou os terremotos que acontecem no Brasil, em locais pouco sensíveis e inabitados do Acre. “A intensidade desses tremores, que aqui não provocam desastres, chega a se igualar a que ocorreu em Taipei, no norte da Ilha de Taiwan, em 1999, matando mais de duas mil pessoas e deixando 80 mil desabrigados”, revela Jandyr, para registrar a variação de resultados de acordo com o espaço terrestre que é atingido.
O professor diz ainda que os processos catastróficos são importantes, pois moldam a Terra em sua forma e afetam a vida em geral que nela se desenvolve. Uma das funções é garantir o equilíbrio do planeta. “A gravidade é perfeita para garantir que alguns gases sejam retidos enquanto outros são seletivamente liberados. As temperaturas permitem que a água exista em estado sólido, líquido e gasoso. A distância do Sol é exata para que incida luz em abundância, pouca radiação ultravioleta e temperaturas não contínuas, que otimizam as condições para a evolução das espécies”. Esta harmonia de fatores, porém, vem sendo alterada pela ação humana.
Um dos benefícios alcançados com a ocorrência de catástrofes, mais especificamente os terremotos, é permitir que estudiosos conheçam melhor a estrutura interna da Terra. Segundo Jandyr, a partir da análise da energia liberada pelos tremores, foi possível criar um modelo terrestre de camadas concêntricas desde a crosta, mais externa, até o núcleo. O pesquisador seguiu com detalhes a respeito dos tempos geológicos que dividem a história evolutiva do planeta, que se desenvolve a cerca de cinco bilhões de anos, passando por processos extensos como as formações rochosas e as movimentações dos continentes até a formatação atual.
Falando da ação humana, Jandyr deixou claro que “a Terra vai sobreviver a estas alterações que estão sendo produzidas. O homem é que vai deixar de existir caso as mudanças prejudiciais continuem ocorrendo neste ritmo acelerado”. Uma preocupação freqüente, porém, não é exatamente como se tem divulgado: o nível da água nos oceanos não vai se elevar com o derretimento das geleiras do Ártico e da Antártida. Os problemas são outros. Por exemplo, diminuir a superfície de gelo diminui automaticamente a quantidade de energia solar que é refletida e também prejudica a vida da fauna destas áreas, como é o caso dos ursos polares, que caminham sobre as capas de gelo. O derretimento de geleiras montanhosas interfere diretamente em populações que vivam em áreas próximas, haja vista que provocará falta de água, com conseqüente destruição de plantações e criação de pastos. Entre outros cenários descritos pelo pesquisador, ficou o recado de que, sem dúvida alguma, o aquecimento global já é preocupante e precisa de soluções imediatas para evitar o pior.