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Integração sensório-motora a partir da eletroencefalografia quantitativa

Aconteceu na última sexta-feira, dia 14 de setembro, mais uma Sessão do Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria (IPUB/UFRJ), com o tema "integração sensório-motora e sincronia de fase: uma avaliação através da eletroencefalografia quantitativa".

Para o debate, foram convidados Roberto Piedade, coordenador do projeto de pesquisa do IPUB de métodos de eletroencefalografia (EEG) quantitativa em psiquiatria, e Alair Ribeiro, professor da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ e orientador do mesmo núcleo de estudos. Os palestrantes apresentaram uma análise das conexões neurais relacionadas aos sentidos e aos movimentos, a partir do mapeamento cerebral.

Segundo Ribeiro, a observação das alterações eletrofisiológicas em função do controle e aprendizagem motora, proporcionada pelo exame, permite associar o laboratório a outras linhas de pesquisa dentro do Instituto. "A EEG é uma ferramenta neurofisiológica que permite o entendimento de alterações sensório-motoras em doenças como por exemplo, o mal de Parkinson ", afirma.

O professor também divide o estudo dos distúrbios psíquicos em três campos interligados: sensação e pecepção, plasticidade e memória implícita. " A primeira área relaciona o sistema de interação com o meio – os sentidos – à aprendizagem ou percepção das coisas, uma ‘criação’ do Sistema Nervoso Central a partir dos estímulos que recebemos do meio. A partir de então, desenvolvem-se processos de adaptação e controle, que são a plasticidade. Por último, a memória implícita é responsável por comparar a nova informação recebida ao que já existe de forma interiorizada, um ‘banco de dados’ com experiências anteriores", disse o especialista.

Alair Ribeiro ainda explica que a aplicação do exame de eletroencefalografia quantitativa em situações de estresse, aprendizagem, relações com o meio e com a tecnologia, levam a uma gama de possibilidades que permitem o estudo das interações e desempenho do ser humano nessas tarefas. Entretanto, apesar de dar ênfase às aplicabilidades do mapeamento eletrofisiológico, o professor lembra que a adoção de qualquer estudo das conexões neurais "contempla apenas uma parcela das reações fisiobiológicas e do comportamento humano, em detrimento de outras visões de estudo", afirma o orientador.

O palestrante ressalta que o laboratório utiliza-se de procedimentos simples para análises. "Em uma das pesquisas desenvolvidas, aplica-se uma corrente elétrica no polegar. A eletroencefalografia quantitativa evidenciou um fenômeno plástico mais intenso na região do córtex cerebral. Essa experiência, apesar de realizada em pessoas  sadias, pode indicar, por exemplo, uma alternativa de tratamento na reabilitação motora", descreve Ribeiro.

Roberto Piedade, por sua vez, critica os inúmeros métodos de estudo que pretendem determinar a que área do cérebro corresponde determinada atividade. Para ele, "as áreas são associativas e não determinadas. O que de fato importa é a conexão das regiões envolvidas em certa atividade emotiva ou sensitiva. Ao perceber a realidade externa, o cérebro decompõe os objetos em partes, processadas em diferentes regiões cerebrais. A percepção do objeto como um todo, se dá pelo processo de conexão dessas partes, chamado ‘binding process’", explica o coordenador.

Segundo o pesquisador, o problema fundamental é "como o cérebro processa e integra as diferentes partes dos objetos alocados em áreas cerebrais esparsas. Não se pode acreditar que a danificação da área ‘x’ será diretamente responsável pela deficiência ‘y’. Ela atrapalha, na verdade, o estabelecimento de conexões neurais importantes para que ‘y’ não ocorra", salienta Piedade. Segundo o psiquiatra, uma das vantagens da eletroencefalografia quantitativa é "permitir uma maior eficiência na mostragem por definição temporal, permitindo o estudo das áreas cerebrais envolvidas no estímulo-resposta por um visão múltipla" destaca o especialista.