Finalizando a série de exibição de filmes para o debate do tema “A saúde, a educação, e o diferente”, a coordenadora Elizabeth Castro, do Forum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FCC/UFRJ), selecionou para a última terça-feira, 21 de Agosto, a trama “Mentes que brilham”, dirigida e protagonizada por Jodie Foster.
O filme conta a história de Fred Tate, um garoto superdotado de sete anos, pianista e gênio na matemática. Excluído pelas outras crianças da escola e sem estímulo para prestar atenção nas aulas comuns, Fred se sente infeliz. Sua mãe, Dede Tate, interpretada por Jodie Foster, decide aceitar a proposta de Jane Griersm, psicóloga, de ingressar o garoto em uma escola de ensino mais avançado, como forma de valorizar o potencial de Fred.
Na faculdade para um curso de Verão, o garoto mora com Jane, cheia de regras de disciplina e concentrada em explorar a inteligência de Fred a fim de escrever um livro sobre sua história. Longe do afeto da mãe e lidando com pessoas mais velhas, ainda assim o garoto não consegue firmar amizades. Apenas no final do filme, Fred encontra um caminho para conciliar seus estudos avançados com os prazeres de uma vida de criança.
Após a exibição, o debate foi regido por Ana Canen, da Faculdade de Educação da UFRJ, que realiza pesquisas para métodos educativos que respeitem as particularidades de cada estudante. Segundo ela, o filme levanta uma questão importante: até que ponto as escolas estão preparadas para lidar com crianças diferentes? E faz refletir se os professores recebem uma formação adequada, que os tornem sensíveis a situações como um aluno com deficiências físicas, mentais ou mesmo com uma inteligência acima da média.
— Algumas coisas absurdas acontecem. Inclusive de haver uma criança surda-muda em uma sala de aula, sem que qualquer professor da instituição tivesse conhecimento disso. Ou que, mesmo sabendo da presença de um estudante com esta deficiência, o professor ter sido incapaz de um posicionamento simples: dar aula de frente para os alunos, para que a criança pudesse fazer a leitura labial do que estava sendo ensinado — exemplifica Ana.
A especialista argumenta que é bastante discutida no Brasil a necessidade de uma educação inclusiva, porém, isso é pensado mais para atender a parcela dos jovens que não freqüentam a escola em conseqüência das desigualdades sociais. “Falar em uma educação mais específica para deficientes ou superdotados soa quase constrangedor perante outros problemas encarados com mais urgentes e graves. Mas não deveria ser assim”. Ela aponta como um dos problemas ao se debater essa questão o fato de muitos não compreenderem que “incluir não significa tratar da mesma maneira, homogeneizando todos os estudantes. A verdadeira inclusão requer saber adotar medidas diferenciadas para cada necessidade específica que venha a surgir”.
Segundo Ana, toda criança é superdotada em algum ponto. Se uma pessoa apresenta dificuldade em matemática, ciências, geografia, pode ter grande talento em artes. Basta saber identificar em que área está mais concentrado o seu potencial. Há problemas justamente nesta identificação. Uma criança superdotada, por exemplo, tende a se excluir, não prestar atenção nas aulas. Um professor com os olhos treinados deveria reconhecer esse padrão de comportamento e conversar com o aluno, com os pais, trabalhar pela integração desta criança com as outras.
A pesquisadora reconhece a validade da luta dos educadores por seus direitos. Ajustes salariais, melhoria nas infra-estruturas, entre outras coisas. Porém, não considera justificável que professores esperem por estes resultados para só então pensar em modificar métodos de ensino que claramente não atendem ao objetivo de uma educação inclusiva. “Há limitações sim, entretanto, algumas medidas são bastante simples. Observar os alunos em sala de aula, conversar com eles quando é percebido algum comportamento diferente. Isso já pode fazer uma diferença”, conclui Ana.