A obesidade já se configura, hoje, como um problema de saúde pública e é um mal exaustivamente tratado pela ciência. A professora Eliane Rosado, do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ, porém, vem desenvolvendo uma pesquisa que propõe uma nova abordagem sobre a obesidade. Com o auxílio de alunas de mestrado e de iniciação científica, ela vem recrutando voluntárias que apresentem obesidade de grau 3 – também conhecida como obesidade mórbida – para participarem de um estudo sobre a interação entre um gene e o tipo de gordura ingerida em mulheres obesas.
A pesquisa, iniciada em 2006, consiste em avaliar o efeito do polimorfismo de um gene específico – o receptor ativado por proliferadores de peroxissoma (PPAR) – no processo de diminuição da resistência à insulina, um fator comumente apresentado por indivíduos obesos. O PPAR, segundo Eliane, não é o único gene relacionado ao desenvolvimento da obesidade. Porém, ele foi eleito em virtude da experiência da professora com o gene em sua tese de doutorado e por estar sendo bastante comentado em pesquisas científicas. “Há grupos de pesquisadores no Brasil, Estados Unidos e na Europa estudando esse gene, além de alguns aqui do Centro de Ciências da Saúde, na UFRJ”.
Eliane busca entender a relação entre o polimorfismo do PPAR e o tipo de gordura presente na dieta de um obeso de grau 3, na resistência à insulina e na perda de peso. Segundo ela, o lipídio ingerido pode modular a expressão do gene e, consequentemente, melhorar a sensibilidade à insulina – um problema adicional para os obesos, uma vez que eleva a propensão de doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras, e dificulta a perda de peso.
– Supõe-se que o indivíduo com polimorfismo de PPAR encontre uma maior facilidade em perder peso – esse polimorfismo favoreceria reações lipolíticas – mas isso não ocorre com todos os obesos. Além disso, existem alguns ligantes que podem aumentar a expressão dos genes. Queremos verificar o efeito da gordura poliinsaturada, um ligante natural do PPAR, em sua modulação, checando se realmente ele melhora a sensibilidade à insulina. Assim, podemos elaborar uma dieta com um tipo específico de lipídio – ela esclarece.
Segundo Eliane, que já estuda a obesidade há dez anos, a pesquisa se restringe às mulheres somente para simplificar a metodologia e reduzir custos: além da professora já ter mais experiência com elas, os procedimentos de biologia molecular envolvidos no projeto são muito caros. Logo, se fossem estudados homens e mulheres ao mesmo tempo, as amostras se duplicariam e tornaria o projeto inviável economicamente. Porém, espera-se que os resultados finais da pesquisa possam ser aplicados a todos os obesos.
Como se procura avaliar a resistência à insulina, a pesquisa não está selecionando mulheres diabéticas, fumantes ou que estejam na menopausa, pois esses fatores podem influenciar no resultado. Para participar da pesquisa, que já foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e é financiada pelo CNPq, as voluntárias tem que ser adultas e assinar um termo de consentimento livre e esclarecido.
Após serem selecionadas, elas são informadas detalhadamente sobre a pesquisa, logo na primeira consulta. Então, respondem a um questionário dietético, sócio-econômico e cultural, formulado pelo grupo da professora Eliane Rosado, com o intuito de conhecê-las melhor e de acumular dados suficientes para que seja possível calcular sua dieta. Depois, é marcada uma segunda consulta, que dura praticamente uma manhã inteira:
– Coletamos sangue das voluntárias em jejum e, uma e duas horas após a ingestão de uma dieta pronta e individual, trazida por nós, coletamos novamente as amostras de sangue. Elas são utilizadas para análise do perfil lipídico (colesterol total, HDL e LDL-colesterol, triglicerídeos) e concentrações de glicose. Também avaliamos se essas mulheres têm ou não polimorfismo do PPAR e observamos a expressão desse gene nos três momentos de coleta – explica Eliane. Ainda nesta consulta, as participantes trazem preenchidos alguns questionários nutricionais e recebem uma dieta, que deve ser seguida por 45 dias, com acompanhamento quinzenal do grupo. Ao fim desse período são reaplicados todos os exames e os resultados são repassados às mulheres.
A dieta fornecida é hipocalórica, porém diferente daquelas muito restritivas, preconizadas por clínicas de emagrecimento. Objetiva-se a perda de peso, porém ela deve ser lenta e gradual. “Ninguém conseguirá perder 20 quilos em 45 dias. De forma alguma fazemos essa promessa. Não restringimos drasticamente a gordura até porque muitas mulheres relatam que não conseguem seguir por muito tempo uma dieta assim e desistem”, conta Eliane, cuja pesquisa tem como objetivo final a elaboração de dietas que não se baseiem na restrição de lipídios. As dietas individualizadas deverão, pelo contrário, manter um tipo de gordura, considerando sua associação com dados moleculares de cada pessoa.
– Sabendo das vantagens e desvantagens que os lipídios podem apresentar na dieta, pretendemos trabalhar dietas personalizadas. Porém, não se pode avaliar o perfil genético de um indivíduo em qualquer consultório. São métodos complexos e caros que podem ser implantados em um futuro não muito distante – espera Eliane.
Os procedimentos práticos duram aproximadamente dois meses, para que depois sejam analisados com profundidade e estatisticamente pelo grupo liderado por Eliane Rosado. “Como se trata de um estudo longitudinal, algumas voluntárias já terminaram, mas ainda precisamos de outras. Ao todo, já conseguimos 19 pessoas, mas preconizamos um total de 30”. Segundo ela, as participantes extraem benefícios da pesquisa e continuam recebendo acompanhamento mensal ou bimestral das alunas, se quiserem.
Ainda não foram obtidos resultados finais pelo grupo, mas em estudos anteriores algumas conclusões já foram alcançadas: “Alguns tipos de gordura da dieta realmente podem favorecer a perda de peso. Percebemos até agora que as mulheres que seguem a dieta rigorosamente vêm conseguindo reduzir seus níveis de colesterol total e de glicemia, além de aumentar o HDL, o colesterol bom. A perda de peso não foi grande – entre 2 a 6 quilos – mas foi notada em muitas voluntárias redução da circunferência da cintura, o que significa eliminação da gordura abdominal, fator de risco para doenças cardiovasculares”.
Para Eliane Rosado, as conclusões, a princípio, complementam a literatura existente sobre obesidade e não podem ser aplicadas hoje, até porque ainda não existe uma terapia completamente efetiva no combate à obesidade, principalmente quando se trata do grau 3, o mais elevado e perigoso. “Provavelmente em outubro ou novembro deste ano, traçaremos as estatísticas resultantes da pesquisa”, finaliza Eliane.
Se você atende a todos os pré-requisitos e deseja se inscrever na pesquisa da professora Eliane Rosado, ligue para ela ou para suas alunas. Os telefones são 9762-3859 (professora Eliane), 9302-1717 (Márcia), 8772-7782 (Vanessa), 9321-5248 (Juliana) e 9989-2532 (Carla).