O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas e Direitos Humanos (NEPP-DH) iniciou o curso de extensão “Direitos Humanos em tela” com a exibição do filme “Zuzu Angel” e, em seguida, com o debate sobre o papel da mulher na ditadura militar. Hildegard Angel, jornalista e filha de Zuzu; Joaquim Vaz de Carvalho, produtor do filme; e Cecília Coimbra, professora da Universidade Federal Fluminense e presidente do grupo Tortura Nunca Mais no Rio de Janeiro, compuseram a mesa debatedora.
A coordenadora do curso, Vitória Grabóis, disse que a escolha do filme se deu pela representação que Zuzu Angel teve na época da ditadura, por sua luta para encontrar o filho desaparecido político e pela busca por justiça e condenação daqueles que o assassinaram. O filme retrata a vida da estilista Zuzu Angel nesse período e como suas manifestações ecoaram no exterior e em sua moda, levando a morte da empresária em um acidente de carro, reconhecido hoje, pelas autoridades, como mais um dos assassinatos da Ditadura Militar.
Hildegard Angel falou que a intenção do filme, cuja personagem principal é sua mãe, é mostrar para a geração de hoje os anos de ditadura que o Brasil viveu e que hoje ainda são desconhecidos em sua totalidade. “Tudo que a família pôde fazer para colaborar com a produção foi feito. Conversamos muito com os produtores e disponibilizamos todos os documentos possíevis”, contou Hildegard que revelou sua felicidade ao olhar uma platéia composta em sua maioria por jovens. “A mesma emoção que vejo aqui pude ver nos festivais em Paris e em Miami em que o filme foi exibido”, disse.
Para a professora Cecília Coimbra, o interesse dos jovens por esse assunto é de extrema importância. “Essa discussão, principalmente no ambiente universitário, é fundamental. O que assistimos agora não é passado, está presente hoje de outras formas e em outros segmentos sociais”. Cecília, como presidente do grupo Tortura Nunca Mais, discutiu a figura do desaparecido político. “É uma invenção perversa da ditadura brasileira que exportou para outros regimes ditatoriais da América Latina. Perversa porque para a cultura ocidental enterrar nossos mortos é fundamental”, explicou.
Uma das críticas que o filme recebeu foi a falta de personagens específicos de agentes da repressão, como a do Brigadeiro Burnier. O produtor, Joaquim Vaz de Carvalho, explicou que isso é um detalhe dentro de um filme cuja principal função é a reflexão a cerca da ditadura militar como um todo, sem um foco em único militar. “Muitos foram os agentes repressores e acho que conseguimos representá-los bem”.
Outros temas fazem parte da programação do curso de extensão “Direitos Humanos em Tela”, como as ditaduras militares no Brasil e na América Latina; o trabalho escravo; e direitos humanos e movimento social. “Este projeto vai se estender por um ano, através do veículo do cinema ele busca reflexões sobre os direitos humanos”, comentou Mariléia Venâncio, vice-diretora do NEPP e coordenadora do curso ao lado de Vitória e Maria Lídia da Silveira da Escola de Serviço Social (ESS).
O curso conta com o apoio de bolsistas do NEPP como Luna Arouca, “apesar de estudarmos Direitos Humanos na ESS, esse projeto é uma experiência única, pois estamos diretamente envolvidas no evento, colaborando com a organização”, disse.