A maioria dos cientistas tende a exaltar como a melhor entre as opções aquela mais recentemente elaborada. É o caso dos transgênicos, o ponto de foco atualmente quando se trata de aumentar a produtividade e reduzir danos ao meio ambiente com menor custo total. Tomaz Langenbach, professor do Instituto de Microbiologia da UFRJ, expressou sua opinião sobre o assunto. Ele não é contrário aos investimentos na modificação genética de organismos, porém, pensa haver uma empolgação exagerada com esta tecnologia.
É inerente à natureza a recombinação de genes entre elementos da mesma espécie. A grande diferença dos transgênicos é a chance de acrescentar na cadeia de DNA de uma planta, por exemplo, uma característica genética de um animal. Acerca dos possíveis benefícios e prejuízos que vêm com esta tecnologia, as discussões são crescentes.
Os principais países em lavouras transgênicas (das quais se destacam a soja, o milho e o algodão) apresentam uma significativa melhoria de renda, reduzindo gastos com herbicidas e com equipamentos agrícolas. É perceptível a inclinação econômica nos argumentos a respeito da liberação do plantio de organismos geneticamente modificados (OGMs). O perigo, alerta Tomaz, está aí – que a busca desenfreada para destacar-se no mercado mundial, alcançando lucros cada vez maiores, ofusque questões relevantes a respeito dos transgênicos. Estes guardam conseqüências imprevisíveis, daí a necessidade de repensar seu uso em alguns casos.
O Brasil é um centro de excelência neste setor e está entre os cinco maiores produtores de transgênicos. Em 2005, o governo promulgou a lei de biossegurança, segundo a qual os OGMs somente seriam liberados à comercialização após intenso estudo a respeito dos possíveis danos que pudesse provocar tanto ao meio ambiente, quando à saúde de homens e animais. Se posta em prática, esta lei seria de grande importância, mas isso não parece acontecer de fato, lamenta o professor.
Ele defende o uso de trangênicos em situações mais delicadas, tal como uma perda de produtividade motivada por mudanças climáticas. No Brasil, há previsão de grandes áreas a serem desertificadas e, neste caso, alterar geneticamente alguns alimentos cultiváveis a fim de torná-los mais resistentes à escassez de água e ao calor excessivo seria ideal. Entretanto, acrescenta, torna-se dispensável recorrer aos OGMs para diminuir a agressão ambiental, quando a ciência, hoje, possui métodos eficazes para alterar a composição de agrotóxicos, tornando-os igualmente menos prejudiciais.
Defensores dos transgênicos exaltam a possibilidade de criação de alimentos mais saudáveis – milho com maior valor nutritivo, soja com proteína aprimorada, bananas resistentes ao apodrecimento. Falam ainda do benefício de elaborar plantas resistentes às pragas. Neste último ponto, Tomaz esclarece que o efeito não é duradouro, pois a natureza tende a se equilibrar – plantas mais resistentes selecionarão pragas mais nocivas.
O que o especialista considera mais sensato é aderir ao princípio do menor risco. Analisar para cada caso que opção, entre o uso de OGMs e outras tecnologias, mostra-se mais eficiente. Recorrer àquela sobre a qual a ciência tem mais domínio e maior capacidade de prever possíveis danos. E conclui: o Brasil não deve frear o estudo e o aprimoramento das técnicas de manipulação genética de organismos, mas também não pode precipitar-se ao uso excessivo desta tecnologia sem pesar as conseqüências.