Durante os próximos 5 anos, senão mais, eles vão subir e descer escadas e elevadores para discutir casos, assistir aulas e atender seus pacientes. Para que os calouros da Faculdade de Medicina (FM) conheçam um pouco do que certamente virá a ser sua segunda casa – o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) – o professor Alexandre Pinto, diretor do HUCFF, professor Lúcio Pereira, coordenador de Graduação, e alguns chefes de serviços do hospital reuniram-se em uma palestra demonstrativa.
O encontro, realizado no auditório Alice Rosa do HUCFF na última terça feira (13 de fevereiro), deu oportunidade aos novatos de terem uma rápida noção da imensidão e valor do hospital universitário da UFRJ.
Alexandre Pinto, além de contar a história do prédio que sedia o hospital, explicou sem rodeios as dificuldades financeiras enfrentadas. “Não recebemos recursos orçamentários do MEC ou de qualquer outro Ministério. O hospital vive de prestação de serviços ao SUS (Sistema Único de Saúde)”, revela o diretor, que acredita ser de extrema importância o conhecimento do valor dos processos médicos pelo aluno.
Afrânio Kritski, chefe do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ, também presente no evento, priorizou em seu discurso a necessidade de uma formação médica menos técnica e mais humana.
— Esse é um começo muito importante para vocês. A sociedade precisa de bons médicos. Porém, não do ponto de vista técnico. Ela precisa da arte médica, que é saber realizar um contato com o paciente de forma que ele conte coisas importantes para o diagnóstico. Existe um risco enorme de, conforme o curso for passando, vocês sobrevalorizarem a questão técnica e diminuírem a humana. Esta faculdade de medicina valoriza a humanização — ressalta Kritski
Para afirmar a necessidade de uma boa conversa com o paciente, Afrânio citou uma pesquisa realizada em Harvard, na década de 60, e também na USP, há cerca de 5 anos atrás. De cada 100 pacientes que dialogaram com médicos com boa semiótica, 80% tiverem seu diagnóstico correto apenas através de entrevistas. Somente 20% precisaram de exames complementares. “Não podemos continuar com a ditadura da caneta, na qual o médico pede exame de tudo, sem antes dialogar. A saúde não tem preço, mas tem um custo”, alerta.
Veteranos da FM também puderam contar um pouco das suas experiências para os calouros. Mariana, do 4º período, é do mesmo time que Afrânio Kritski quando afirma que “não podemos tratar a doença e sim o paciente. A importância da pessoa é bem maior”.
— Estamos aqui para que vocês tenham um bom curso. Vocês são muito bem-vindos e representam nosso futuro. Esperamos ter as melhores condições para a formação não só de bons técnicos, mas de boas pessoas. Nossa escola se diferencia por isso: é gente cuidando de gente — finaliza Alexandre Pinto.