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O novo braço direito do sistema imunológico

Zimduck. Guarde esse nome. O futuro biofármaco está sendo desenvolvido há quase 11 anos para combater quaisquer infecções. A idéia é, ao invés de combater o agente infeccioso diretamente, como prega o modelo dominante, o produto possa servir como um fortalecedor do sistema imunológico.

 Zimduck. Guarde esse nome. O futuro biofármaco está sendo desenvolvido há quase 11 anos para combater quaisquer infecções. A idéia é, ao invés de combater o agente infeccioso diretamente, como prega o modelo dominante, o produto possa servir como um fortalecedor do sistema imunológico. Dessa forma, o Zimduck tratará de combater microorganismos a partir do “restabelecimento de um sistema em desequilíbrio, severo ou não. É fazer o corpo voltar a trabalhar para o próprio corpo”, explica Luiz Fernando Mesquita, idealizador do projeto, médico e pesquisador convidado do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN). A mudança de parâmetro promete ser uma reviravolta na tradição científica de tratar a doença infecciosa de fora para dentro.

– Buscamos desenvolver um produto natural, que tenha ausência de efeitos tóxicos severos, que esteja ao alcance da população, ou seja, barato, e que seja eficaz. Concluímos as etapas pré-clínicas e fase clínica I, aprovada pelo Conselho de Ética da UFRJ (CEP). Com isso, comprovamos que o produto é seguro para o uso em humanos – detalha Luiz Fernando.

A pesquisa é desenvolvida no Núcleo, juntamente com o chefe do Laboratório de Fitoquímica, professor Ricardo Kuster, e mais um grande número de colaboradores, tanto do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRJ), quanto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo final é oferecer o Zimduck à Saúde Pública, visando a ser uma política de Estado, uma das prioridades de Luiz Fernando. “O produto está no meu nome, mas ele é da Saúde Pública, não está a venda”, afirma.

Durante a fase I da pesquisa, realizada no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), o produto foi testado em 30 voluntários saudáveis.  Efeitos, como a suavização de alergias, a menor ocorrência de gripe e até um caso de melhora da manifestação do herpes foram verificados, para a surpresa dos pesquisadores, que não esperavam tão boa reação.

Agora, a pesquisa inicia sua segunda fase (denominada como fase clínica II), que pretende confirmar a eficácia em pacientes com baixa imunidade. “Escolhemos recrutar 138 voluntários com o vírus HIV, porque esse foi nosso desejo inicial, combater a AIDS, mesmo que também seja importante a ação contra outros microorganismos”, comenta o pesquisador Luiz Fernando. Essa fase terá lugar no Hospital de Laranjeiras, que aprovou o projeto.

O Zimduck não se propõe a ser um substituto aos anti-retrovirais (grupo de medicamentos mais utilizado contra o HIV), mas um adjuvante a eles, ou seja, uma opção nacional para agregar qualidade ao tratamento dos pacientes soropositivos. Atualmente, o Governo fornece coquetel de anti-retrovirais a 163 mil portadores, de um total, no país, de 600 mil. O gasto chega a um bilhão de reais por ano. É nesse sentido que o pesquisador aponta como fundamental a pesquisa de um fármaco desenvolvido no Brasil, com grandes possibilidades de um custo mais baixo e a redução de internações oportunistas, além do gasto em importação de medicamentos.

Para o projeto, os pesquisadores arcaram com todo o custo. Não houve qualquer forma de financiamento formal, “a não ser o espaço que ocupamos nas universidades”, lembra.  E não foi pouco o que eles gastaram. Em dez anos de desenvolvimento, estima-se que tenham sido investidos 900 mil reais. Se as respostas se mantiverem positivas, o produto poderá ser produzido em larga escala por indústria interessada.

O Zimduck é produzido a partir de secreções lácteas de diferentes mamíferos, a uma preparação pré-determinada em sua fórmula. A dosagem prevista pelos pesquisadores é de 200mg do medicamento diluído em 3ml de água destilada para injeção, intramuscular, uma vez por semana durante três meses. “Na fase clínica II, faremos também o estudo de dose-resposta, para avaliarmos a dosagem certa”, acrescenta o pesquisador.

Ainda que as pesquisas não estejam concluídas, a expectativa é grande por parte dos envolvidos. Voluntários da primeira fase interessaram-se em voltar a utilizar Zimduck e os pesquisadores estão confiantes na eficácia em pacientes soropositivos. O pesquisador ainda espera que a iniciativa funcione como um incentivo a outros pesquisadores brasileiros. A sociedade então pode aguardar pelo novo medicamento, que tem no nome sua fórmula inicial – zim – e uma homenagem “ao homem que acreditou em mim e tanto me ajudou no processo” – duck-, diz o pesquisador Luiz Fernando, que faz questão de manter em segredo o significado de ambos os termos.