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Câncer: competência gera esperança

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agencia2746T.jpgNa década de 80, mais de 60% das crianças brasileiras que tiveram linfoma de Burkitt (um tumor derivado de linfócitos) conseguiam sobreviver. Nos últimos sete anos, este índice alcançou a marca de 100% das crianças com doença em estágio inicial, e 84% das que chegaram ao serviço com a doença em estágio avançado. Hoje, essas crianças podem se considerar curadas, após os cinco anos de tratamento.

O sucesso desses índices, segundo a médica hematologista Claudete Klumb, do Laboratório de Hematologia Celular e Molecular, do Serviço de Hematologia do Instituto Nacional do Câncer, reflete a implantação de um novo protocolo desenvolvido de acordo com a realidade nacional para o tratamento do linfoma de Burkitt. No mundo, os linfomas representam o terceiro tipo de câncer mais comum em crianças.

Claudete, que ainda é filiada ao Programa de Oncobiologia, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, explica que as crianças brasileiras, em comparação às de países desenvolvidos, apresentam com maior freqüência baixo peso e, muitas vezes, até a desnutrição, e que os protocolos internacionais poderiam ser muito tóxicos para crianças com essas características. Nesse sentido, o Serviço de Hematologia do Inca passou a adotar um tratamento com maior intensidade sem aumentar a mortalidade e tampouco comprometer o índice de cura.

Apesar do sucesso do novo protocolo, algumas interrogações ainda intrigavam os pesquisadores: por que 16% não respondiam bem ao tratamento com recaída após seis meses e por que fatalmente ocorriam óbitos nesses casos?

As pesquisadoras, em parceria com o pesquisador Franklin Rumjanek, Diretor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, partiram em busca de marcadores biológicos associados com o mau prognóstico nestes casos e esbarraram na detecção de mutações numa proteína, a p 53, em 20% dos casos. Algumas mutações encontradas estão relacionadas à funcionalidade plena da proteína no que se refere ao seu papel de reparar dano no DNA ou de desencadear a morte celular de células defeituosas. Portanto, Claudete e seu grupo concluíram que o mais importante é o tipo de mutação na proteína que, às vezes, interfere em seu funcionamento.

E concluíram, portanto, que administrar drogas que induzem a morte celular via p53, nestes casos relatados acima, é um esquema terapêutico que não funciona. Diante desses resultados, as pesquisadoras estudam drogas e métodos alternativos para serem administrados a esses pacientes.

No Rio de Janeiro, em 60% dos casos de linfoma de Burkitt há uma associação com o Epstein Barr, vírus que transmite a mononucleose ou a doença do beijo. Na Bahia, esta correlação salta para cerca de 90% dos casos. Este vírus é encontrado integrado ao genoma do tumor. Nesta linha de investigação, os pesquisadores do Inca também em parceria com o mesmo grupo da UFRJ quantificam a carga viral do vírus Epstein Barr tanto para um diagnóstico como para um monitoramento mais preciso da resposta ao tratamento do linfoma de Burkitt. No estudo, são avaliados cinco diferentes etapas de carga viral correlacionando-a ao estágio da doença.

Os resultados desses estudos foram publicados em revistas internacionais como European Journal of Hematology e Journal of Pediatric Hematology/Oncology, em 2003 e 2005.