O combate aos derramamentos de petróleo ganhou um grande aliado graças às pesquisas realizadas na UFRJ. Um estudo desenvolvido na Escola de Química (EQ/UFRJ) produziu um material cerâmico poroso (espécie de tijolo com furos), capaz de boiar na água e absorver o óleo derramado.
“Temos dois anos e meio de trabalho com derrame. O primeiro cerâmico testado não adiantou de nada, porque afundou”, disse a professora Cheila Gonçalves Mothé, da EQ, revelando o maior problema da pesquisa: a busca por um cerâmico com densidade menor que a da água.
O cerâmico de alta porosidade tem patente alemã e já vinha sendo estudado pelo professor Jamil Duailibi Filho, do Instituto Nacional de Tecnologia, e por Maria Celeste Ribeiro Ambrósio, hoje orientada pela professora Cheila em sua tese de doutorado. No entanto, fazia parte de um primeiro estudo na área da construção civil, com o objetivo de construir casas mais arejadas.
“Eu fiz tese de mestrado na construção civil, com os cerâmicos. A professora Cheila, que trabalha com Engenharia Química, observou a viabilidade no projeto de trabalhar com derrames e nos chamou. Ela tinha certeza de que ia dar certo, mas precisávamos fazer testes”, conta Maria Celeste.
Apesar das dificuldades iniciais para o cerâmico boiar, os últimos testes têm obtido resultados animadores. Ensaios em tanque com água do mar mostraram uma adsorção — processo espontâneo que ocorre sempre que uma superfície de um sólido é exposta a um gás ou a um líquido. Mais precisamente, pode definir-se adsorção como o enriquecimento de um dado fluido, ou o aumento da densidade desse fluido, na vizinhança da interface — de óleo três vezes maior que seu peso. Isso quer dizer que um corpo de teste de 2g, adsorveu mais de 6g de óleo. Agora, os testes são realizados em águas dinâmicas, simulando o movimento do mar.
“Estamos em uma fase de resultados promissores. Toda a tecnologia está plenamente desenvolvida e agora estamos em fase de negociação”, afirmou Cheila Mothé.
A maior vantagem e preocupação da pesquisa são no quesito ambiental. Atualmente, as barreiras usadas para controlar derrames de petróleo são feitas de polímeros (plásticos, como garrafões de água). Quando uma barreira desse tipo se rompe, acabam agredindo ainda mais o meio ambiente. Com os cerâmicos isso não acontece, já que conseguem manter o óleo absorvido dentro dele e são feitos de argila, que por ser natural reduz a poluição.
Além da parte ambiental, o cerâmico também traz benefícios comerciais. Como a argila é abundante, sua produção não é cara. Além disso, ele permite que o petróleo derramado seja reaproveitado de duas maneiras: ou o óleo é usado como energia em olarias, jogando o tijolo dentro dos fornos, ou o cerâmico é aquecido, fazendo com que este óleo seja expulso.
“A gente está produzindo um material que tem várias características importantes, mas a principal vantagem é na parte ambiental”, declarou Maria Celeste Ambrósio.