As pesquisas que permitiram a apresentação desses fósseis são realizadas pelo setor de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional e pelo departamento de Geologia do CCMN. A bióloga e paleontóloga Deise Henrique, do MN, explicou a relação entre os dois setores acadêmicos:
“Ambos são ligados à UFRJ, mas atuam em áreas diferentes, cada um tem um projeto distinto. O que acontece, às vezes, é um intercâmbio de conhecimento. Por exemplo, quando o local das pesquisas na região de Itaboraí, no Rio de Janeiro, não estava alagado devido a atuação de uma indústria de cimento, nós fizemos muitas pesquisas por lá. Hoje, as escavações não são mais possíveis, por conta do alagamento. Então, os alunos de graduação que estão preparando suas monografias e os mestrandos vêm muitas vezes aqui para fazer estudos em cima de nossas pesquisas. Ao mesmo tempo, nós do Museu entramos em contato com essas pesquisas”.
Um gigante de 13 metros
O coordenador geral da montagem do esqueleto, o pesquisador Alexander Kellner, revelou a trajetória da pesquisa, desde a descoberta até a exposição. “É engraçado que a maior parte dessas grandes descobertas nunca é feita por paleontólogos. O Maxakalisaurus topai, por exemplo, foi encontrado, por acaso, pela bióloga Karen Goldberg, durante um mapeamento da Serra da Boa Vista, a 45 km da cidade do Prata, em Minas Gerais”. A partir daí, quatro grandes escavações foram feitas pela equipe do setor de Paleontovertebrados do MN/UFRJ, nos anos de 1998, 2000, 2001 e 2002. Ao longo desse período, foram coletadas mais de seis toneladas de blocos contendo restos de dinossauros. Após uma preparação de três anos, os pesquisadores concluíram que existiam naquele local pelo menos dois indivíduos do grupo Titanosauria, que abrange os principais dinossauros herbívoros do extinto continente Gondwana.
Kellner ainda falou sobre as particularidades da nova espécie que foram percebidas durante a fase de estudos. O jovem dinossauro que tinha aproximadamente 13 metros, podendo chegar a 20 e pesava cerca de nove toneladas, difere dos demais por várias feições: seus dentes possuem quilhas laterais, que auxiliariam em um melhor processamento dos alimentos; sua vértebra sacral termina em forma de quilha; os ossos das mãos têm proporções diferentes e ele ainda apresenta osteodermas, estruturas ósseas existentes em sua pele.
O coordenador também contou que através da análise do material coletado foi possível reconstituir aspectos da vida desse animal, como a presença, em seu ambiente, de lagos controlados por rios, onde habitavam diversos peixes. Além disso, foram encontradas marcas de dentes em seu esqueleto, sugerindo que, após sua morte, ele foi alvo de animais carniceiros.
Para os pesquisadores envolvidos no projeto, o Maxakalisaurus topai representou um grande desafio, já que são muitos os problemas enfrentados pela paleontologia brasileira. “O melhor em tudo isso foi poder ter provado que o Brasil é capaz. O que falta é incentivo. No nosso caso, tivemos patrocinadores que em muito contribuíram nessa conquista, como a FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e a UFRJ. Essa foi a primeira vez que uma arcada dentária de um dinossauro herbívoro foi encontrada no país. “Nos sentimos realizados, é melhor nem falar muito sobre a sensação de ver esse trabalho realizado para não me emocionar. Mas queremos que a população também se sinta realizada com esse feito”.
O Museu Nacional quer dar ao dinossauro um nome popular, através de um concurso, para ganhar a empatia do público. Até o dia 12 de outubro, crianças e jovens de até 16 anos podem dar sugetões. A partir dessas idéias, uma comissão do museu escolherá as cinco melhores para entrar em votação. O vencedor ganhará um computador e uma assinatura da revista Ciência Hoje, além da alegria de ter batizado o maior dinossauro do Brasil.
Outra novidade dessa exposição é a oportunidade que deficientes visuais terão de poder tocar em dois ossos do dinossauro, sendo um deles o crânio. Além de ter à disposição um texto em Braille, com maiores informações sobre essa criatura de 80 milhões de anos.
Um gigante dócil
Apesar de ter sido encontrado em 1948, somente agora o Carodnia vierai teve seu esqueleto montado. O trabalho do Laboratório de Macrofósseis do Departamento de Geologia foi coordenado pela professora Lílian Paglarelli Bergqvist e durou 14 meses.
Com cerca de 2,20m de comprimento e 1m de altura, e pesando 400kg, o Carodnia era o maior mamífero brasileiro do período paleoceno e se assemelhava a anta atual. Em comparação aos outros mamíferos da época, com tamanhos semelhantes ao dos ratos, o animal poderia ser considerado um gigante. No entanto, era herbívoro.
O mamífero foi descoberto em 1948 pelo operário José Vieira da Silva, que trabalhava em uma mina de extração de calcário, na Bacia de São José de Itaboraí, a aproximadamente 45 quilômetros do Rio de Janeiro. O paleontólogo Carlos de Paula Couto descreveu a espécie quatro anos depois e ao batizá-lo escolheu o nome Carodnia (palavra indígena que significa trovão) vierai (em homenagem ao operário).
Muito diferente dos outros animais que eram encontrados, o Carodnia foi classificado na ordem Xenungulata, uma vez que Xeno quer dizer estranho. Entre suas características curiosas está o fato de suas patas dianteiras serem mais robustas que as traseiras, o que indica que ele as usava mais.
Esse esqueleto do Carodnia foi o mais completo encontrado na América do Sul. Mesmo assim, com 50 a 60% dos ossos recuperados, o grupo da professora Lílian Bergqvist precisou recriar o restante do mamífero. Para isso, analisou ossos de parentes próximos e de animais atuais.
Outro ponto interessante da exposição era uma espécie de making of, que explicava o processo de montagem e mostrava como havia sido produzido o esqueleto, uma réplica. Cartazes também contavam a história da Bacia de São José de Itaboraí, antiga mina de calcário onde os fósseis foram encontrados e hoje está inundado.
“A importância desta exposição é levar isso para a sociedade. Com o esqueleto eles conseguem entender melhor. É bom também para chamar a atenção para a Bacia de Itaboraí. Hoje ela é utilizada para lazer, mas seria bom construir um museu para lembrar a história do local”, disse Lílian Bergqvist.
O Parque Paleontológico de Itaboraí é considerado um dos mais importantes sítios geopaleontológicos e arqueológicos da América do Sul, por registrar fósseis com 70 milhões de anos.