Ocorreu no dia 26/1/2017 a abertura do evento de lançamento do livro A Universalidade da CEU – Histórias da Casa do Estudante Universitário, organizado peloxa0Coletivo Casa do Estudante Universitário (CEU)xa0em parceria com oxa0Fórum de Ciência e Cultura (FCC)xa0daxa0UFRJ e apoio do Museu Nacional.
Durante três dias, o público pôde presenciar diversos acontecimentos multiculturais, como rodas de capoeira, oficinas de teatro, sarau de poesias, cineclube e baile com música ao vivo, tudo isso dentro do prédio que abrigou axa0Casa a maior parte do tempoxa0exa0onde hoje está instalado o Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ), vinculado ao Fórum.
Centro político e cultural
Escrito pelos ex-residentes João Bosco Gomes, Domingos Moura de Oliveira e Carlos Dei Ribas, o livro conta a história da CEU, a já extinta residência estudantil, que, durante 30 anos, foi uma importante referência nacional de espaço democrático e foco de resistência à ditadura militar, tendo propiciado a formação de inúmeros núcleos de movimentos sociais e políticos, além de ter sido imponente centro cultural, abrigo de inúmeros artistas e suas diversas expressões de linguagem.
O título do livro, marcado pelo uso da palavra “universalidade”, reitera a ideia de abrangência do ambiente da Casa, que abrigou de forma gratuita, sem distinção de valores e ideologias, estudantes universitários de todo o país que pretendiam cursar uma universidade, mas não tinham recursos para se manter na cidade do Rio de Janeiro.
Além de reunir uma coletânea inédita de depoimentos de ex-residentes da CEU, o conteúdo do livro abrange e costura temáticas como moradia estudantil, memória e patrimônio, história oral e cultura popular –xa0e é parte de um projeto multimídia que inclui um documentário dirigido por Domingos Moura.
“A CEU faz parte da história da nossa Universidade”
Na abertura do evento, estavam presentes Carlos Vainer, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, João Bosco Gomes, um dos autores do livro, e os ex-residentes Rogério Lustosa Bastos (professor de Psicologia da UFRJ), Jason Tercio e Juçara Braga (escritores e jornalistas), José Salgado Maranhão (jornalista e poeta) e Gilberto França (engenheiro mecânico e empresário).
Vainer exaltou a importância da história da CEU para o país. “Fiquei muito comovido quando fomos procurados para a realização do evento, pela oportunidade de nos transformamos mais uma vez em vetor desse grupo de pessoas maravilhosas que constituíram uma parte da história da nossa Universidade, uma parte da luta política oficial deste país e, num certo sentido, da história da arte e da cultura da cidade do Rio de Janeiro”, afirmou.
Já a jornalista e ex-residente Juçara Braga contou um pouco sobre sua experiência na Casa e se mostrou extremamente feliz e satisfeita com o resultado do livro.
“Sobre os 30 anos de existência da CEU, o relato de João Bosco é imperdível, atravessa toda a história da Casa, dá sua dimensão histórica, incluindo o papel da imprensa alternativa que ali encontrou lugar cativo. No capítulo “A Pedagogia da CEU”, Domingos Moura dá a dimensão lúdica da Casa com seus sonhos libertários, que encontram eco no capítulo “Libere-se! O futuro é casa (CADA?) segundo”, no qual Carlos Dei dá uma dimensão épica às descobertas sensoriais daquelas vivências na Casa”, declarou Juçara ao público presente.
A Casa marcou a vida e a formação dos ex-residentes
A Casa do Estudante surgiu em 1965 e funcionava, inicialmente, na rua Visconde de Maranguape, 26 , na Lapa. Depois, com a reurbanização do bairro, em 31 de agosto de 1973, os estudantes foram transferidos para o endereço da Avenidaxa0Rui Barbosa, 762,xa0no Flamengo, em um prédio da UFRJ até então desativado.xa0Nesse período inicial, a Casa era organizada por meio da autogestão, coordenada pelos próprios moradores, no caso, os alunos.
Em um primeiro momento, a renda e os recursos para a manutenção da CEU vinham da administração simultânea de um albergue no local. Segundo os autores João Bosco e Carlos Dei, a UFRJ era responsável apenas pelo pagamento das contas de luz e água do prédio, o que a partir de 1982 também deixou de acontecer.
Os dois autores não economizam na emoção e mostram-se extremamente comovidos e nostálgicos ao falarem sobre a experiência na CEU que, segundo João Bosco, virou livro após um incentivo inicial de suas filhas, que há muito tempo o ouviam contar histórias sobre a Casa.
“O que nos levou a escrever o livro foi esse sentimento de gratidão que temos pela Casa, por ter nos possibilitado não somente a nossa formação acadêmica, mas também nossa formação de cidadania, nossa consciência política, social e cultural.”, declarou João Bosco.
Os autores acreditam que vários ex-residentes também tenham tido o pensamento de escrever sobre a CEU, até mesmo antes de sair da Casa, mas nunca souberam como viabilizar essa ideia. “São muitas histórias. A Casa teve uma importância muito grande em nossas vidas, não somente como estudantes, mas como pessoas, cidadãos, aventureiros”, disse Carlos Dei.
Segundo ele, o declínio da CEU, que culminou em seu fim em 1995, foi o resultado de problemas como o envolvimento de alguns dos residentes com tráfico de drogas, o que ocasionou a morte de um dos estudantes e acabou deixando uma imagem negativa na memória das pessoas.
“A imagem que a imprensa deixou da Casa foi que de se tratava de um antro de vagabundos, maconheiros, tudo de pior, a escória da sociedade. Afinal, o local onde a CEU se localizava era considerado nobre, supervalorizado e ocupado por aquelas pessoas sem ascensão social, sem parentes ricos e sem dinheiro na conta bancária”, criticou Carlos, ao mencionar que uma das razões que os levou a escrever o livro foi justamente se contraporem a essa concepção e desejarem mostrar a importância da CEU para a memória do país.
Trecho da introdução do livro
“A CEU revolucionou a nossa e a vida de muitos estudantes sem recursos familiares, que não viam perspectivas para cursar uma universidade e pagar alojamento, bem como a vida de grandes artistas – que não encontravam um espaço livre e democrático, meio anarquista, para pesquisarem e desenvolverem suas linguagens, preparando-se para a vida profissional e que, hoje, ocupam importantes espaços nas variadas áreas das atividades sócio-político-econômicas do país.”
João Bosco