O Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCOM/UFRJ) abriu oficialmente o semestre letivo 2025.2 com uma aula magna mais que especial. O convidado da vez foi Roger Chartier, referência mundial em estudos sobre a história do livro, da leitura e das práticas de escrita. O historiador francês atualmente é professor emérito do Collège de France (Paris, França), onde ocupa a cátedra — posto acadêmico de prestígio, geralmente ocupado por um professor de destaque — que já pertenceu a outro grande nome das Ciências Humanas, o filósofo Michel Foucault, além de lecionar na Universidade da Pensilvânia (Pensilvânia, EUA).
O encontro foi realizado na última sexta-feira (19/9/25), no auditório do Centro de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), sob a mediação de Leonardo De Marchi, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação da ECO/UFRJ. A atividade reuniu docentes, estudantes e pesquisadores em torno da reflexão proposta pelo tema: “Nos ajuda a história da comunicação a pensar as revoluções do presente?”.
A vinda de Chartier à UFRJ foi organizada por Marialva Barbosa, doutora em História, docente da ECO/UFRJ e referência nos estudos sobre a história da comunicação e do jornalismo no Brasil. Igor Sacramento (in memoriam) também participou das negociações para trazer o intelectual à Universidade.

Em sua fala, Chartier ressaltou que a história da comunicação deve ser compreendida como uma ferramenta crítica para iluminar dilemas contemporâneos.
“A história não é uma arqueologia morta. Ela nos ajuda a entender como chegamos até aqui e como podemos pensar nas revoluções que se desenham diante de nós”, afirmou. Ele destacou que, em diferentes momentos históricos, transformações nos suportes de escrita e leitura trouxeram consigo promessas e tensões. “Cada nova tecnologia da comunicação foi apresentada como uma libertação, mas também sempre carregou formas de controle e vigilância”, disse.
Ao abordar o presente, Chartier provocou a plateia: “O que significa ler, escrever e comunicar em um tempo em que todos produzem e distribuem mensagens em escala global?”. Para ele, compreender experiências anteriores é essencial para enfrentar a hiperconectividade e o excesso de informação que marcam a era digital. Esse desafio remete ao que Foucault definiu como “regime da verdade”: o conjunto de práticas, discursos e instituições que, em cada época, estabelece quais saberes são legitimados como verdadeiros.

A aula inaugural não apenas inicia o calendário acadêmico do PPGCOM, mas reafirma a ECO/UFRJ como um espaço privilegiado de diálogo entre tradições intelectuais distintas e da produção de conhecimento de alcance internacional. A participação de Chartier traz um novo fôlego para pesquisas que articulam comunicação, cultura e política, estimulando professores e estudantes a repensarem os fundamentos teóricos e metodológicos da área.
Para Leonardo De Marchi, Chartier traz debates atuais e que conversam diretamente com as ideias circulantes no campus: “Ele é uma figura verdadeiramente lendária, herdeiro da tradição da escola francesa. Suas pesquisas sobre o que ele chama de ‘regime de verdade’ são fundamentais para compreender o excesso de informação e de mídia que vivemos hoje. Para nós da comunicação, é uma reflexão absolutamente essencial, porque conecta a história à contemporaneidade de forma direta e profunda”, destaca.
A palestra consolidou-se como um momento de encontro de gerações acadêmicas e afirmação do papel da comunicação enquanto campo estratégico para pensar as transformações do nosso tempo. A presença de Roger Chartier veio para reforçar essa interlocução, mixando as pesquisas brasileiras e internacionais no campo da comunicação e aproximando a produção acadêmica local de debates centrais sobre cultura, discurso e comunicação.
O evento conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
*Por Ana Clara Ferreira. Sob a supervisão da jornalista Vanessa Almeida.
