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Pesquisa da UFRJ destaca novos caminhos na investigação da doença de Alzheimer

Descoberta pode ajudar a reverter déficit cognitivo

Há mais de 20 anos, o Laboratório de Neurobiologia Celular (LNBC) do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) vem pesquisando o desenvolvimento do sistema nervoso central, do cérebro e de doenças associadas ao processo de envelhecimento, como é o caso de algumas demências e da doença de Alzheimer. Mais recentemente, a partir de investigações pré-clínicas realizadas com animais, foi descoberta a hevina, uma molécula capaz de controlar as conexões entre os neurônios, também chamadas de sinapses.

As hevinas são responsáveis pela formação da memória e pelo aprendizado, que são funções tradicionais do cérebro. Sendo sintetizadas principalmente por uma célula chamada astrócito, as hevinas deixam de funcionar na maneira adequada de acordo com o desenvolvimento do processo de envelhecimento. Dessa maneira, a partir da pesquisa, foi identificado que essas moléculas têm uma produção menor em pacientes idosos ou acometidos pela doença de Alzheimer e que o astrócito seria, então, uma célula-alvo para o tratamento dessas enfermidades, por atuar em diversas funções no desenvolvimento cerebral.

Levando em conta que com o envelhecimento a produção da hevina diminui, os cientistas decidiram trabalhar – a partir de um modelo experimental que simula a doença de Alzheimer em animais – no sentido inverso: aumentando sua produção por meio do astrócito. Sendo uma das características de originalidade do trabalho, a técnica utiliza um vetor viral que permite observar uma mudança nos déficits cognitivos encontrados nos animais pesquisados. Não apenas aqueles que reproduzem o quadro da doença, mas também os que são simplesmente idosos.

A conclusão mostra, então, que a superexpressão da molécula de hevina pode ser uma ferramenta, não só para melhorar o declínio cognitivo em um ambiente doente, mas também em um envelhecimento saudável. Entre os destaques da pesquisa, estão tanto a identificação da hevina e sua caracterização enquanto uma molécula que tem um potencial de reverter esses danos cognitivos, quanto um olhar novo para esse outro alvo celular que é o astrócito, ao invés dos neurônios, como normalmente é feito.

Para Flávia Alcantara Gomes, coordenadora do laboratório e docente do ICB, ter um trabalho desses desenvolvido em uma universidade pública mostra como o Brasil consegue fazer uma ciência de ponta, apesar das dificuldades. “O que a UFRJ faz é impressionante diante das condições que a gente tem. Nós temos recursos humanos muito bons, porque a ciência é feita de pessoas. Então, levarmos o trabalho que é 100% feito aqui no Brasil”, explica. 

A pesquisa foi publicada na revista Aging Cell a partir do trabalho de Flávia ao lado de outros autores parceiros, entre eles: Felipe Cabral-Miranda, também do ICB e de Danilo Medina, da Universidade de São Paulo. A investigação contou com o apoio do Ministério da Saúde (MS), da Fundação Carlos Chagas Filho de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Parte do processo de investigação foi desenvolvido no Laboratório Multiusuário Redox Proteomics Core, do Centro de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) – o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp, sediado no Instituto de Química da USP.