Categorias
Conexão

Aloizio Mercadante abre semestre da UFRJ com aula magna sobre desenvolvimento, democracia e sustentabilidade

Sustentabilidade e soberania digital foram apontadas como prioridades para o futuro do país

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, proferiu, na terça-feira, 19/8, no Auditório Horta Barbosa, do Centro de Tecnologia (CT) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a aula magna que representou o início do segundo semestre letivo da instituição. O tema foi “Desenvolvimento, democracia e sustentabilidade”.

Aloizio Mercadante é economista formado pela Universidade de São Paulo (USP), mestre pela Unicamp e doutor em Teoria Econômica pela USP. Atuou como deputado federal, senador e ministro em diferentes pastas, como Ciência e Tecnologia, Educação e Casa Civil, entre 1991 e 2016. Foi responsável pela elaboração do plano de governo de Lula em 2022 e foi o coordenador técnico da equipe de transição. Mercadante também presidiu a Fundação Perseu Abramo.

Aloizio Mercadante, juntamente com o reitor, Roberto Medronho, a vice-reitora, Cássia Turci, e o decano do CT, Walter Issamu Suemitsu | Foto: Moisés Pimentel (SGCOM/UFRJ)

“A UFRJ tem uma parceria histórica com o BNDES. Muitos egressos da Universidade estão no banco, em diversas áreas. O BNDES tem nos ajudado muito, não apenas na captação de recursos, como aqueles que nos ajudam a reconstruir o Museu Nacional, mas também em nosso cotidiano, com apoio técnico de altíssimo nível, como na questão da alienação do Edifício Ventura e na concessão do Canecão”, disse o reitor da UFRJ, Roberto Medronho.

Mercadante iniciou a palestra enaltecendo o ambiente democrático da UFRJ e a autonomia universitária, e lembrou da época em que era estudante na USP, em plena ditadura militar. Contou que colegas de faculdade chegaram a passar sete anos presos naquele período. “Vivemos todo aquele terror que existia para manter o regime autoritário no Brasil. É com esse sentimento, com essa experiência, que é feito o debate da democracia para a minha geração. Não é um debate acadêmico teórico”, afirmou.

Para falar de democracia, desenvolvimento e sustentabilidade, tema da aula magna, o palestrante mostrou um breve histórico sobre como os países da América Latina se desenvolveram economicamente. No Brasil, destacou que um lento processo de criação e expansão do ensino superior e do próprio sistema educacional resultaram em uma industrialização tardia que começa a se desenvolver de forma reincidente a partir da década de 1930.

“No período que vai do pós-guerra até os anos 1980, existia uma relação estado-mercado, capital estrangeiro, capital nacional. O Estado tinha um papel industrializante fundamental, seja produzindo produtos siderúrgicos, seja produzindo a química pesada. Depois começamos a trabalhar com petróleo, veio a descoberta da plataforma continental, e hoje a Petrobras é a empresa mais eficiente na produção de petróleo. E a UFRJ tem papel fundamental nisso”, explicou Mercadante.

O atual momento, marcado por guerras e transformações geopolíticas, com mudança de regras e acordos comerciais, é visto por Mercadante como um período de erosão do pensamento neoliberal e de instituições multilaterais. “A Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, é constituída por princípios pactuados e vinculados. Você pactua regras que todos se vinculam a cumprir, e você tem mecanismos de sanção toda vez que há um conflito de natureza comercial. Você constrói parcerias importantes nessas instituições”, ressaltou.

No que se refere à biodiversidade e sustentabilidade, Mercadante ressaltou que o Brasil é um dos maiores  produtores e exportadores de alimentos do planeta, com destaque para produtos como carne, suco de laranja, tomate, café, soja e milho. O país também se destaca na produção de petróleo, gás e etanol. O presidente do BNDES lembrou que, dentro desse contexto, o país necessita de acordos multilaterais: “Você não pode substituir a busca de eficiência, de produtividade, de competitividade, por regras para um mundo unilateral autoritário de imposições e sanções”, destacou.

Alguns projetos e parcerias do BNDES que visam desenvolver tecnologias e empresas nacionais também foram citadas por Mercadante, que defendeu o investimento em áreas estratégicas como fundamental para o incremento da soberania do país.

“Nós precisamos de supercomputação, de datas center dedicados, para termos soberania sobre os nossos dados, para a gente ter o controle das informações. Nós precisamos aprender a construir inteligência artificial. Vamos lançar, no ano que vem, o Eve Air Mobility, um automóvel elétrico voador, em parceria com a Embraer. Estamos focados na descarbonização do ar e da indústria. O BNDES já é o banco que mais financiou ônibus elétrico e ônibus híbrido em toda a América Latina”, afirmou Aloizio Mercadante.

Durante o evento, um grupo do Diretório Central dos Estudantes Mário Prata (DCE-UFRJ) pediu a palavra, juntamente com funcionários de uma empresa terceirizada que atua na limpeza da Universidade. Eles afirmaram que os trabalhadores estavam sem receber, e cobraram uma atitude para reverter a situação. O reitor, Roberto Medronho, disse que a empresa está recebendo em dia, e que já havia sido cobrada para que o pagamento fosse realizado na quarta-feira, 20/8.