Um dos mais ilustres torcedores do Sousa Esporte Clube, o professor do Instituto de Geociências e atual diretor da Casa da Ciência, Ismar de Souza Carvalho, concorre ao Prêmio Faz Diferença, que contempla brasileiros com ações exemplares pelo país em 2024. O paleontólogo está entre os três indicados na categoria Ciência e Saúde. O resultado da 22ª edição do certame, iniciativa do jornal O Globo, sairá em um caderno especial com todos os vencedores, neste sábado (10/5).
Se for pé quente como o atual bicampeão estadual paraibano, Ismar Carvalho já tem o prêmio garantido. A equipe de futebol virou o xodó dos paleontólogos desde que adotou como mascote um dinossauro verde, em homenagem ao Vale dos Dinossauros. Localizado no município de Sousa, o lugar é conhecido pela presença de centenas de pegadas fossilizadas dos animais pré-históricos. Carvalho esteve lá na final do campeonato em abril, com o estádio repleto de jovens e de crianças vestidas com fantasias de animais pré-históricos.
Ao lado dele, uma dezena de cientistas amigos. Entre eles, o professor Giuseppe Leonardi, do Instituto Cavani; o chefe do Setor de Paleontologia da Agência Nacional de Mineração, José Artur Andrade; e a ex-diretora do museu Câmara Cascudo Maria de Fátima dos Santos. Ismar Carvalho justifica o sentimento pelo clube paraibano por essa associação à paleontologia. “A cidade de Sousa tem uma relação muito estreita com o meu trabalho”, disse.
Escolha pela ciência
A motivação dos organizadores para indicar Ismar Carvalho na categoria Ciência e Saúde se deve à autoria de um estudo revolucionário indicando o Brasil como último refúgio dos grandes mamíferos antes da Era do Gelo. Para o pesquisador, só a indicação já é muito importante, pois coloca em evidência a paleontologia.
Ismar Carvalho, de 63 anos, sendo 35 deles dedicados à Universidade, acompanhava desde a adolescência o trabalho do padre e paleontólogo Giuseppe Leonardi, de 86 anos, em busca de pegadas de dinossauros. E a amizade com o pesquisador tem muito a ver com a paixão pela ciência. “Eu recortava as notícias dos jornais com as expedições do Leonardi. Anos depois, ele se tornou meu orientador no mestrado, quando voltei da Universidade de Coimbra para o Brasil. O estudo dele não era do osso, da coisa morta, mas daquilo que os animais faziam. De certa maneira, era trazer à vida aquilo que estava desaparecido da Terra há tanto tempo”, contou o diretor da Casa da Ciência.
A paleontologia é uma especialização da geologia e tem muitas aplicações econômicas, como a exploração de hidrocarbonetos. Como destacou o professor da UFRJ, é uma ciência que produz informações e conhecimento muito importantes para as sociedades contemporâneas. “A geologia tem a função de fazer treinamentos de geocientistas que, no futuro, vão encontrar as melhores soluções de extração e aproveitamento de recursos naturais para o desenvolvimento econômico e social da sociedade brasileira”.
Várias indústrias, de alimentos a medicamentos, dependem muito da exploração do petróleo, originado da decomposição de matéria orgânica que se acumulou no fundo dos oceanos e lagos, ao longo de milhões de anos. “Como geólogo, eu poderia ter ido trabalhar na indústria petrolífera. Não seria difícil ter um cargo significativo dentro de um contexto mais empresarial. Mas fiz outra opção”, ressaltou.
A curiosidade pela evolução do planeta foi o motor que o impulsionou desde a infância. Natural de Resende, no Rio de Janeiro, em vez de se tornar militar ou naturalista, percebeu que sua vocação era para a pesquisa. “A minha motivação sempre teve uma relação com as questões ligadas ao passado. Não só isso, mas a entender e procurar uma explicação para as coisas. Sempre era muito instigante entender como uma montanha enorme, como é o Maciço de Itatiaia, estava ao lado de uma planície”, lembrou.
Do ponto de vista de Carvalho, descobertas paleontológicas não são produto do acaso de algum cientista personagem de filmes de aventuras. “Sou um aventureiro do conhecimento, mas reconheço que aquilo que eu descubro, aquilo que eu estudo, aquilo que eu faço, tudo é produto de muita gente que trabalha ou não comigo. São os que vieram antes de mim, são os meus alunos, são pessoas que eu chamaria de os invisíveis da ciência: o ribeirinho ou a dona de casa com informações por onde devo seguir”.
A relevância de conquistar o prêmio Faz a Diferença, segundo Ismar Carvalho, pode ser avaliada pelos outros finalistas. Os concorrentes são ambos da área da saúde: o diretor de Transplante Renal no Massachusetts General Hospital, Leonardo V. Riella, e a professora da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo Ludhmila Hajjar. Os vencedores de cada categoria receberão o prêmio em julho numa cerimônia no Copacabana Palace. O evento acontece justamente na celebração do centenário do jornal.