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Pelo Campus

Pretonomia celebra mais uma edição

Projeto de extensão tem como objetivo fortalecer alunos negros para atuação na área de alimentos e bebidas

O curso de extensão Pretonomia, promovido pela graduação em Gastronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) e com o Hotel Rio Othon Palace, formou no dia 25/10 16 alunos negros da região metropolitana do estado. O objetivo é que, com os novos conhecimentos adquiridos, eles possam dar seus primeiros passos nas cozinhas profissionais de hotéis, bares e restaurantes. Idealizado pelo professor Breno Cruz, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC/UFRJ), essa foi a terceira edição do projeto que, ao todo, já formou 52 estudantes. 

Completamente gratuito e com carga horária de 67 horas-aula, o curso é dividido em três eixos, entre eles: culinária, com aulas práticas iniciais a fim de aproximar os alunos das cozinhas profissionais; gestão, voltado a apresentar as nuances relacionadas à administração de empreendimentos gastronômicos e especificidades da área; e cidadania, que conta com palestras que têm como objetivo colaborar com o letramento racial e a formação cidadã.

Para Breno, a gastronomia é uma área que historicamente tem sido composta por pessoas não pretas em cargos de liderança, seja na cozinha como chefs, seja no mercado como empresários. No entanto, ele defende que “quem faz a roda girar são pessoas pretas e pardas nas cozinhas e nos salões”. De acordo com o professor, o Pretonomia foi criado em 2023, com o propósito de acelerar a equidade na perspectiva racial na gastronomia: “Compreendendo que a primeira oportunidade de emprego para muitos jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade é o setor de alimentos e bebidas, ajudar gratuitamente na formação dessas pessoas é um retorno que a universidade pública, o mercado e o Estado podem oferecer à sociedade”, defende.

O professor e os alunos se organizam em um formato de V. Todos vestem a blusa do projeto, na qual está escrito "somos porque somos".
O professor Breno Cruz e os estudantes. Foto: Acervo Pretonomia

Esse foi o caso de uma das mulheres participantes do curso. Com 50 anos e moradora de Nova Iguaçu, Cenira José Cecílio não reclamava da rotina cansativa, pois adorava ouvir as histórias dos chefes de cozinha que chegavam até eles. Para ela, o projeto foi um divisor de águas em sua vida. “A Cenira pós-Pretonomia é uma Cenira mais confiante, uma profissional mais capaz, mais audaciosa. Continua com seus medos, mas vai atrás, luta pelo que quer porque sabe onde é o seu lugar”, celebra.

Além de ofertar esses conhecimentos para aqueles que não têm vínculo com a Universidade, o Pretonomia também conta com extensionistas que estão cursando a graduação em Gastronomia. Esse é o caso de Natalia Nacif, que já faz parte do projeto desde o seu começo. Lá a aluna encontrou um lugar para pesquisar sua ancestralidade na cozinha e o papel da mulher negra dentro das cozinhas de alta performance. “O Pretonomia me salvou. Eu venho de um lugar onde eu me reconheci como uma mulher preta dentro da faculdade, sofrendo miniviolências diárias em outros cursos. Entrei na Gastronomia procurando acolhimento e foi no Pretonomia que eu pude pesquisar e aprender sobre elementos e insumos da África”, conta a estudante.

Com mais de seis meses de aulas, o curso Pretonomia: Formação Profissional em Alimentos e Bebidas na Hotelaria recebeu grandes nomes da cozinha nacional, entre eles os chefs Kátia Barbosa, Paulo Rocha, Aline Guedes e Lucas Corazza, entre outros. Com foco em dar destaque à gastronomia preta, o Pretonomia é um movimento que busca fortalecer os elementos culturais, a diversidade dos insumos e técnicas da cozinha afro-brasileira e a resistência do povo preto na área.