As novas tecnologias trazem outras formas de enxergar o mundo e, como consequência, diferentes tipos de literatura. Além dos clássicos estudados em sala de aula, o cotidiano moderno apresenta, nos últimos anos, um crescimento de formatos alternativos, como as histórias em quadrinhos, gibis, livros infanto-juvenis e as chamadas fanfics (narrativas ficcionais escritas por fãs de filmes, livros, séries, animes etc.). E é essa literatura o tema da Geek Week, que vai até sexta-feira, 25/10, e acontece no prédio da Faculdade de Letras.
“O objetivo é considerar essas áreas que ainda são um pouco marginais no currículo, tentar dar uma visibilidade para elas e pensar criticamente esses aspectos nos meios que a literatura circula”, disse Carlos Pires, coordenador do Laboratório da Palavra, um dos segmentos do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC). O nome “geek” é uma gíria inglesa que engloba interesses relacionados à tecnologia, ficção científica, fantasia e jogos.
Segundo Heloisa Teixeira, coordenadora adjunta do Laboratório da Palavra, o programa traz inovação, liberdade experimental e integração da sociedade como os seus pilares. “Eu acho que o PACC é único nesse sentido. Na extensão, você tenta, experimenta e está tudo bem”, afirmou a pesquisadora. Por isso, a semana da Geek Week, apresentada pelo programa, traz um novo olhar para a literatura.
A Geek Week é organizada pelo Laboratório da Palavra e três de seus núcleos: o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Fanfics (Nepf), o em Literatura Infanto-juvenil (Nuplij) e o em Narrativas Digitais (NuPNE). O evento tem como objetivo dar atenção e espaço para essas produções e disseminar os estudos realizados nesses núcleos.
“O Programa Avançado de Cultura Contemporânea abre portas para novos mundos de estudos. Assim, no futuro, teremos documentado o que nós, estudantes da literatura contemporânea, pensamos sobre isso”, observou Letícia Pimenta, coordenadora do Núcleo de Fanfics.
No primeiro dia do evento, 21/10, ocorreram quatro palestras. A primeira, intitulada “Narrativas interativas em jogos e fanfics”, mostrou como as pessoas se encontram nos jogos e fanfics, além de criar novas obras narrativas. Ticiane Pilar, palestrante e aluna de Letras, relatou como é importante ver essa área academicamente e não apenas como um hobby.
A segunda palestra, com o nome “Não há avestruzes nos contos de fadas”, foi proferida pelo professor Francisco Camêlo, que destacou a obrigatoriedade do estudo da literatura infantil para entender o mundo atual. “A literatura possibilita ao leitor entrar em contato com experiências com as quais ele pode refinar a sua percepção para o mundo, para as questões sociais […]. A literatura infantil não se restringe só às crianças, ela chega em todo mundo. É de zero a cem anos, de sete a setenta e sete anos”, afirmou o professor.
Com o título “Construção de universos fictícios na literatura infanto-juvenil e jovem adulta”, a terceira palestra teve como uma das oradoras Julia Abrahão. Ela observou que, sob a capa do entretenimento, a literatura infantil traz ensinamentos profundos. Já a infanto-juvenil é importante devido à forma como os personagens estão tentando se descobrir, e os leitores se identificam muito com isso.
Na última palestra, “Do livro-game ao livro literário”, a professora Milene Chrystine e a aluna Maria Oeby falaram dos livros-jogos, novo formato de literatura em que o leitor decide os caminhos narrativos, alterando o desenrolar e o final da história. O que antes era uma literatura estática, hoje é um ramo cada vez mais amplo e repleto de possibilidades.
Criado em 1994, o PACC é um programa de extensão da Faculdade de Letras que apresenta o Fórum de Pesquisa Livre e uma experiência laboratorial, composta pelo Laboratório da Palavra, Laboratório de Tecnologias Sociais, Laboratório de Teorias e Práticas Feministas e o Laboratório de Estudos Negros, além da Revista Z Cultural.
Por Maria Rita Nader