O Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FCC/UFRJ) sediou, nos dias 4/5 e 5/5, o seminário “Racismo ambiental: o que tem a ver com o seu quintal?”, que apresentou a necessidade de uma educação preocupada com questões sociais e raciais. Na mesa de abertura, estiveram presentes a vice-reitora da UFRJ, Cássia Turci, além de representantes da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), da ActionAid, do Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), do Projeto Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta) e do Perifa Connection.
O racismo ambiental é o impacto desproporcional das mudanças climáticas sobre grupos vulneráveis socialmente e historicamente como negros, indígenas, quilombolas e ribeirinhos, reforçado pela ausência de políticas públicas. Enquanto as favelas próximas à Baía de Guanabara convivem com as águas poluídas, por exemplo, outras áreas da região metropolitana em que as riquezas estão concentradas recebem investimento para serem despoluídas.
A vice-reitora da UFRJ destacou que é preciso fortalecer o combate ao racismo ambiental. Ela vai propor uma comissão sobre o tema para o Grupo de Trabalho que discute Política de Sustentabilidade da Universidade. “Acho que é muito importante que isso esteja cada vez mais forte na UFRJ”, afirmou. Cássia também falou sobre a necessidade de estudos voltados para as melhorias sociais. “A verdadeira ciência é essa que se preocupa com a vida e começa a explorar novos valores para a preservação da vida em diferentes áreas do conhecimento”, defende.
Andréia Coutinho, do Centro Brasileiro de Justiça Climático, abordou a necessidade de fortalecer a infraestrutura das cidades pensando na população negra e trabalhando em favor de reduzir os impactos desproporcionais. “Que a gente não olhe essa vida tão desigual por óticas singulares, as desigualdades se conjugam no plural. Isso imprime na nossa forma de vida, de enfrentamento e, sobretudo, de sobrevivência. Isso é um pouco da minha missão de vida e um pouco do que as presentes e futuras gerações esperam que a gente enfrente com instrumentos e políticas públicas”, afirma.
Thuane Nascimento, do PerifaConnection, também esteve presente na mesa e valorizou as tecnologias sociais desenvolvidas pelos moradores das localidades vulneráveis para enfrentarem as fortes chuvas. Ela citou uma líder comunitária que media o nível da água no muro a fim de que as pessoas pudessem se precaver e lidar da maneira possível, elevando os móveis com tijolos. Além disso, Thuane ressaltou a falta de acesso da periferia a espaços verdes que conectam o ser humano à natureza. “Não tem como a gente falar o que tem a ver com o nosso quintal se a gente não tiver mais quintais, territórios e cidades habitáveis. Precisamos fazer com que as pessoas queiram cuidar e ter quintais”.
Nesse sentido, a educação é fundamental, mas é necessário construir um ensino que fuja da individualidade e trate do racismo ambiental com seriedade. Ana Paula Brandão, da Actionaid e do Projeto Seta. Ela destacou a importância da conscientização sobre o racismo ambiental na luta contra os paradigmas sociais. “A educação antirracista pressupõe um bem viver, a troca, a coletividade, uma nova cosmovisão. Ela bate de frente com um modelo colonial, restritivo”.
O gerente executivo regional da Empresa Brasileira de Comunicação, Acácio Jacinto, destacou que a EBC tem buscado amplificar as vozes das populações, as soluções “No compromisso com a justiça climática, é intrínseco ao nosso papel no serviço público, informar com precisão, educar com profundidade e engajar com empatia.”
Realizado pela ActionAid, UFRJ, EBC e Centro Brasileiro de Justiça Climática, o evento contou com apoio da Fundação Heinrich Böll e do projeto Seta.