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Celso Amorim aborda o protagonismo brasileiro e a busca pela paz em Aula Magna

O ex-ministro das Relações Exteriores citou a posição do Brasil em conflitos do Irã e de Israel, além do multilateralismo diplomático

Sob os olhares atentos de um auditório lotado, o embaixador Celso Amorim palestrou na Aula Magna da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nesta segunda-feira (15/4). O evento, organizado pela Reitoria, teve como tema a “Política Externa Ativa e Altiva: então e agora”, e contou com a presença de pró-reitores, decanos, diretores e alunos da UFRJ. O diplomata trouxe um panorama das relações exteriores do Brasil no passado e no presente, destacando os desafios que o país enfrenta na retomada de seu protagonismo diplomático, fragilizado em governos anteriores. 

Com o fim da União Soviética, em 1991, a ordem mundial estava se reconstruindo e era a oportunidade de o país latino-americano, recém-redemocratizado, mostrar sua grandeza. E foi durante os primeiros governos do PT que o Brasil buscou defender os interesses nacionais nas discussões sobre comércio e fortalecer as relações com países em desenvolvimento. Considerado o melhor chanceler do mundo em 2009, Amorim foi o responsável por expandir as relações do país com o mundo. “Não nos interessa que o Brasil viva num mundo fracionado. Ainda acreditamos no benefício da multipolaridade”, afirmou. 

“As condições pareciam propícias para que o Brasil não se limitasse a reagir às propostas que estavam sendo discutidas. Queríamos influir diretamente na agenda internacional de forma não limitada ao nosso retorno geográfico”, explicou o embaixador. “Na minha primeira aparição pública como ministro indicado pelo presidente Lula, em vez de detalhar temas, limitei-me a definir a atitude que prevaleceria na nossa atuação internacional: disse que teríamos uma política externa ativa e altiva”, completou.  

Com a multipolaridade, surgiu o acordo, em 2009, com a Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics, e os países do Sul Global conseguiram maior representatividade no G20, cuja cúpula será sediada este ano no Rio de Janeiro. O reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho, destacou a importância da Universidade no fortalecimento das relações com países africanos, exaltando um acordo de cooperação técnica com mais de 400 instituições da África, que será celebrado em 25/4. Medronho também presenteou o ilustre convidado com o livro Sul global e integração regional: a política externa brasileira (2003-2016), organizado por Ingrid Sarti e publicado pela Editora UFRJ

Hoje, existe a oportunidade de o Brasil assumir as discussões sobre Inteligência Artificial, mas é indispensável o diálogo e o investimento na ciência. Nos últimos anos, a irracionalidade e a polarização levou à ausência do Brasil no cenário internacional, de acordo com o embaixador. Por isso, segundo Amorim, “o principal aspecto é restabelecer a razão como forma de debate político. Não se pode jogar só com medo e com ódio. Acho que a universidade tem um papel absolutamente fundamental nisso. Portanto, precisa de um financiamento adequado, e o presidente Lula é muito consciente disso. O que foi destruído é tanto que vai levar um pouco de tempo”, ponderou.

Durante a gestão de Amorim como ministro das Relações Exteriores, o país também contribuiu com debates sobre segurança na Organização das Nações Unidas (ONU), opondo-se à iminência da ocupação do Iraque pelas forças americanas e aliadas. A atitude favoreceu a aproximação do Brasil com nações árabes, levando o país a intermediar o conflito israelo-palestino. O embaixador destaca que o abandono de posições radicais pode ser um caminho para a resolução dos conflitos políticos. No entanto, o que se percebe na guerra em Gaza é um forte impacto emocional na política interna dos países. “A manipulação de símbolos e crenças religiosas é particularmente visível no Brasil. Esse conflito é como um vórtice, capaz de gerar turbulência global. Ainda que saibamos os contornos de uma resolução, que envolve a criação de um Estado palestino com fronteiras seguras ao lado de Israel, não existe uma disposição efetiva em dialogar”, declarou Celso Amorim. 

Nesta semana, o Itamaraty foi criticado pela posição cautelosa que não condenou o contra-ataque do Irã a Israel com 300 mísseis e drones, após o bombardeio israelense à embaixada iraniana na Síria. Para o embaixador, “o problema nuclear iraniano é o maior problema de segurança no mundo atualmente”. Hoje, o Brasil também tenta intermediar a Guerra da Ucrânia, mantendo canal aberto com a diplomacia ucraniana e russa.  “Ao Brasil, interessa uma ordem internacional equitativa e equilibrada, em que o direito internacional seja respeitado”, finalizou. 

*Sob supervisão do jornalista Sidney Rodrigues Coutinho