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Os sinais da própria língua

Aluna surda da pós-graduação de Letras defende tese sobre comunicação entre pessoas com deficiência auditiva

Os diferentes usos de uma língua transformam a comunicação e o mesmo acontece com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A influência da soletração por pessoas surdas na variação dos “sons do idioma” foi o objeto de estudo de Heloise Gripp Diniz. Ela se tornou a primeira surda a ser doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLIN) da UFRJ. 

A pesquisadora defendeu a tese intitulada “Variação fonológica das letras manuais na soletração manual em Libras”. Apesar de a língua de sinais não ser falada, ela também apresenta aspectos fonológicos, como no Português. A fonologia, na Língua Portuguesa, trabalha os fonemas – os sons que, trocados, criam outro sentido, como a pronúncia do “f” e “v” em “faca” e “vaca”. Já na Língua Brasileira de Sinais, o tema está ligado às diferentes formas com que se utilizam as mãos e o corpo para expressar determinado sinal.

A Libras é a língua materna de Heloise, que tem um irmão e pais também surdos. A defesa da tese foi totalmente realizada em Libras, algo inédito para o Programa de Pós-Graduação em Linguística. O doutorado foi uma longa jornada com “inúmeros desafios, tristezas, incertezas, alegrias e muitos percalços pelo caminho da vitória”, afirma ela.

Heloise realizou a defesa do doutorado totalmente em Libras, fato inédito no programa | Foto: Departamento de Linguística e Filologia (autoria não identificada)

Heloise é formada em Letras-Libras e tem mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. Na UFRJ, é professora do Departamento de Libras da Faculdade de Letras, tendo iniciado o doutorado em 2019. À época, as pós-graduações da Universidade ainda não adotavam, em todos os processos, ações afirmativas – fato que só mudou em 2022, quando as cotas passaram a ser obrigatórias para pessoas com deficiência. Na UFRJ, 1.200 estudantes têm algum tipo de deficiência, segundo estimativas da Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada). Andrew Nevins, professor que orientou a pesquisadora, afirma que a entrada dela no doutorado “representou um marco histórico”. 

*Sob supervisão do jornalista Sidney Rodrigues Coutinho, com informações do Departamento de Linguística e Filologia