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Música para curar mente e corpo

Referência mundial em musicoterapia, a professora Wendy L. Magee é atração de encontro internacional no Instituto de Psiquiatria da UFRJ

O III Encontro Internacional de Musicoterapia, que acontece no Rio de Janeiro, conta com uma participação de destaque este ano: a professora  Wendy L. Magee, da Temple University, Filadélfia, EUA. Uma das especialistas mais proeminentes da área, ela estará, a partir das 18h30 desta terça-feira (5/12), no Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ, no campus da Praia Vermelha, para ministrar a palestra Musicoterapia com Pessoas com Necessidades Neurológicas Complexas.

Com mais de 35 anos de experiência em reabilitação neurológica como musicoterapeuta clínica, pesquisadora e gestora, Magee atuou na Austrália, Inglaterra e Irlanda, antes de fixar residência nos EUA em 2011. Em 2023, a Federação Mundial de Musicoterapia concedeu à professora o Prêmio de Investigação Científica. Wendy Magee já dirigiu a Sociedade Britânica de Musicoterapia e atualmente é membro da diretoria da Associação Internacional de Música e Medicina, além de ser conselheira editorial de várias revistas científicas internacionais na área.

Na UFRJ, o curso de graduação em Musicoterapia foi criado em 2019 e acaba de ser avaliado com a nota 5 pelo Ministério da Educação (MEC). O evento é uma parceria entre a Universidade e a Associação de Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro (AMT-RJ). A iniciativa contará com transmissão pelo YouTube, mas vale a pena conferir pessoalmente o que tem a dizer uma das maiores especialistas da área – que interliga fortemente os campos da saúde e das artes. A técnica da UFRJ Camila Acosta Gonçalves fará a mediação e tradução. 

Como técnica não farmacológica, a música proporciona vários benefícios à saúde, além de ser considerada uma terapia de baixo custo quando comparada a outros tratamentos. Para Wendy Magee, a Musicoterapia tem a capacidade de reabilitar pacientes com lesões neurológicas, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ou outros transtornos neurocognitivos, como demência ou doença de Parkinson. Confira a entrevista do Conexão UFRJ com a especialista.

Como a doutora vê a utilização da musicoterapia com pessoas com condições neurológicas? Quais casos teriam mais benefícios?

O maior conjunto de evidências neste contexto é de musicoterapia em pessoas que tiveram AVC. Com esse grupo, vemos que as intervenções musicais podem ter um impacto na melhora da marcha, como velocidade, comprimento da passada e marcha global. Também observamos que há evidências para a função de membro superior após o AVC, melhorando especificamente o tempo dessa função. Sabemos também que a musicoterapia pode ajudar a aprimorar a memória e a atenção após o AVC, além de diminuir sentimentos de depressão e confusão. Na prática clínica, os musicoterapeutas geralmente trabalham com os pacientes mais complexos. Entretanto, as pessoas com necessidades específicas geralmente são excluídas dos estudos de pesquisa. Nesses casos, é complicado provar o impacto real que a musicoterapia pode trazer. No entanto, a experiência clínica sugere que a prática pode fornecer um ambiente que ajuda toda a equipe interdisciplinar a acessar esses pacientes.

Em relação a casos complexos, estes podem envolver pacientes em coma ou com baixo nível de consciência. No que o profissional musicoterapeuta poderia contribuir nestes casos?

Os musicoterapeutas contribuem para a avaliação desses pacientes complexos. A audição é particularmente sensível na avaliação da consciência desses pacientes que estão emergindo. A música tem se mostrado um recurso poderoso, pois não depende da linguagem, do movimento ou da visão, que são profundamente prejudicados em pacientes com lesão cerebral severa. Além disso, a música estimula uma resposta emocional, aumentando seu impacto como modalidade de tratamento. Pesquisas recentes mostraram que os pacientes que respondem ao som na ausência de outras respostas são os que têm maior probabilidade de sobreviver e apresentar progresso. Isso ajuda as equipes interdisciplinares a determinar o melhor plano de tratamento para o paciente.

E como o musicoterapeuta trabalha nesses casos? Existe algum repertório musical específico?

A escolha da música precisa ser planejada cuidadosamente por um profissional qualificado. A música que tem significado pessoal para o paciente, por estar associada a um ente querido ou a um evento da própria vida, é a mais importante a ser usada. A música ao vivo também é importante, pois os musicoterapeutas podem fazer alterações sutis para atender a necessidades específicas, como agitação, dor ou hiperestimulação.

A doutora comentou sobre a contribuição da musicoterapia nas equipes interdisciplinares. O que é necessário para alguém ser musicoterapeuta?

É necessário um diploma universitário em Musicoterapia. Para isso, é necessário ser um músico competente e treinado, com conhecimentos de psicologia e comportamento humano, além de várias horas de trabalho de campo com reconhecidos supervisores de musicoterapia. Além disso, é preciso desenvolvimento profissional contínuo com potencial para conduzir pesquisas de doutorado e pós-doutorado.