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Biodiversidade do Brasil ameaçada por mudanças climáticas

Unidades de Conservação brasileiras são incapazes de proteger as espécie que se deslocam por sobrevivência

A mudança na distribuição geográfica das espécies é um dos efeitos sobre a biodiversidade provocados pelas alterações climáticas. As áreas adequadas e preservadas para a permanência de uma espécie estão ficando inabitáveis, enquanto outras desprotegidas se transformam em novo habitat. Um estudo publicado na revista internacional Biological Conservation analisou artigos produzidos sobre esse tema para o Brasil, identificando que, sozinha, a atual rede de Unidades de Conservação (UC) não será capaz de proteger a biodiversidade nacional frente às alterações no clima.

O estudo avaliou 341 projeções para plantas e animais terrestres. Em mais de 70% dos cenários, há indícios de que as espécies devem se deslocar para fora de unidades em busca de condições climáticas adequadas ou terão sua distribuição total muito reduzida. A previsão é que Amazônia, apesar de ser o bioma com maior cobertura de UCs no país, alcance a maior taxa anual de perda de espécies dentro das áreas protegidas, seguida da Mata Atlântica e do Cerrado, dois hotspots de biodiversidade onde a alta taxa de desmatamento aumenta ainda mais a vulnerabilidade das espécies.

O grande problema está relacionado ao fato de as Unidades de Conservação nacionais serem estáticas e a biodiversidade se movimentar em busca de melhores condições ambientais. A maioria das UCs foi concebida com o intuito de conter o desmatamento e a ação antrópica direta, mas sem levar em consideração o deslocamento das espécies em resposta à emergência climática. “O estudo alerta sobre a potencial perda da principal função das Unidades de Conservação, que foram desenhadas para garantir a manutenção da biodiversidade. Buscando boas condições climáticas em regiões desprotegidas, as espécies continuarão em risco”, comenta Stella Manes, pesquisadora do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e uma das autoras do estudo.

Entre as recomendações dos autores para garantir a manutenção da proteção destas espécies no futuro, está o simples fato de considerar o impacto das mudanças climáticas no desenho de novas áreas de conservação onde as espécies estão sendo empurradas e se deslocam por sobrevivência. “Muitas das projeções indicam que as mudanças climáticas empurrarão as espécies para fora das Unidades de Conservação, onde estarão desprotegidas. O estabelecimento de novas Unidades de Conservação é fundamental”, disse Artur Malecha, biólogo do Laboratório de Vertebrados do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ que também assina o estudo.Segundo outra autora, a professora Mariana Vale, também do IB, o deslocamento da biodiversidade não coloca apenas as próprias espécies em risco, mas também pode desencadear uma perda nos benefícios providos diretamente por elas para a população nacional.

A pesquisadora também lidera um estudo, publicado na Perspectives in Ecology and Conservation, que sugere a existência de 11 serviços ecossistêmicos (aqueles que trazem benefícios da biodiversidade para as pessoas) diretamente providos pelos mamíferos brasileiros – e que também estão em risco com a perda dessas espécies. Entre as áreas onde há Unidades de Conservação de proteção integral, como as de uso sustentável e as terras indígenas, o maior impacto vai ocorrer nas últimas. Segundo os autores, essas áreas na Amazônia são de extrema vulnerabilidade, comprometendo não só a biodiversidade, mas os modos de vida dos povos originários.