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Primeiros socorros podem salvar vidas

Em intercorrências médicas, agir de maneira rápida e correta faz toda a diferença

Quantas vidas poderiam ser salvas se todos tivéssemos conhecimento de técnicas de primeiros socorros? Dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 300 mil pessoas morrem de infarto por ano. Nesse tipo de caso, o atendimento imediato pode aumentar em até 50% as chances de sobrevivência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a asfixia causada por sufocação ou engasgo é a terceira maior causa de morte de recém-nascidos no mundo inteiro. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, todos os dias cerca de 15 bebês de até 1 ano de idade morrem por esse motivo, o que também pode ser evitado com conhecimentos básicos de primeiros socorros. 

Pensando nisso, o projeto de extensão da UFRJ “Pequenas Ações Salvam Vidas” realiza atividades educativas com a população em geral para conscientização e treinamento de atenção primária. Durante uma das ações promovidas pelo projeto, que aconteceu na Praça Mauá (RJ), no dia 19/8, em comemoração ao Dia Nacional da Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), alunos de Medicina e Enfermagem da UFRJ salvaram uma idosa que teve uma parada cardiorrespiratória. 

A aluna de Enfermagem e atual presidente da Liga Acadêmica de Trauma, Emergência e Simulação (Lates) da UFRJ, Mariana Von Held, é uma das organizadoras do projeto, orientado pela professora Juliana Faria Campos, e nos contou sobre essa experiência. Ela e outros membros dessa iniciativa estavam ensinando técnicas de atenção primária para as pessoas que passavam pela praça quando Glória de Jesus Araújo dos Santos, de 66 anos, passou mal e uma parada cardíaca precisou ser manejada.

 “Muitas das pessoas que passavam diziam para levantá-la, jogar água no rosto ou até para oferecer água, o que mostra a necessidade de disseminar o ensino de primeiros socorros para a população”, disse a estudante. Mariana também contou que alguns dias depois familiares entraram em contato para contar que Glória estava bem e agradecer pelo feito, dizendo que sem eles o desfecho poderia não ter sido o mesmo. “Essa é a importância, sabe? A gente vê muitos casos assim que têm desfechos trágicos porque ninguém soube identificar ou agir corretamente”, acrescentou. 

Pequenas ações podem salvar vidas

Segundo a American Heart Association, organização sem fins lucrativos dedicada ao combate de doenças cardiovasculares, a cada minuto sem receber manobras de primeiros socorros ou desfibrilação, a vítima perde até 10% de chance de sobrevivência. Pensando na importância dessas técnicas, o projeto de extensão “Pequenas Ações Salvam Vidas” foi criado em 2010 a partir das vertentes de prevenção e primeiros socorros da Lates. “Nós sabemos que a maior parte das intercorrências ocorrem no ambiente extra-hospitalar e os leigos são os que têm o primeiro contato. Por isso é importante estarmos preparados”, disse a professora e orientadora Juliana. 

Todo ano, no Dia Nacional da RCP, o projeto promove aulas gratuitas na rua, mas Juliana conta que outras atividades acontecem em vários momentos para a Universidade e para a comunidade externa, em escolas, creches, para pais, alunos, funcionários e todos que tiverem interesse. Em setembro, a Lates promoveu um curso de primeiros socorros para calouros de enfermagem e medicina no Centro de Ciências da Saúde, na Cidade Universitária. A dinâmica foi dividida em cinco salas com as principais técnicas: desobstrução de vias aéreas por corpos estranhos, reanimação cardiopulmonar, hemorragias e feridas, imobilizações e transporte de feridos. A própria presidente da Liga, que hoje está no sétimo período de Enfermagem, contou que foi nesse curso que ela conheceu o projeto, se apaixonou pela área e, pela primeira vez, prestou a devida atenção aos primeiros socorros, quando ainda era caloura. 

Apesar desse curso ter sido voltado para alunos da área da saúde, o projeto de extensão é aberto para todos os cursos. Durante a pandemia, a aluna de Arquitetura e Urbanismo Gabrielly Agostinho aprendeu com o “Pequenas Ações Salvam Vidas” técnicas que a ajudaram quando seu irmão de 16 anos se engasgou durante um churrasco em família. A estudante conta que apesar da situação não ter obstruído completamente as vias respiratórias do irmão, ela soube como proceder: “Acho que esse conhecimento básico de primeiros socorros foi essencial para eu saber o que fazer e também para entender a gravidade da situação”.

Educação que salva

Sofia Guimarães é estudante de Publicidade e fotógrafa. Ela convive com a epilepsia há oito anos.  Sua primeira crise foi aos 13, quando estava perto da escola. Sofia conta que, no momento em que caiu no chão, seus amigos pensaram se tratar de uma brincadeira, mas ao notarem a seriedade da situação chamaram por ajuda. A segunda crise aconteceu durante uma aula de educação física e, apesar de não se lembrar de ter tido alguma aula de primeiros socorros na escola, Sofia ressaltou que o professor soube como reagir.

Após esse episódio, o docente separou uma das aulas para ensinar aos outros alunos o que fazer se a situação se repetisse. No caso da epilepsia, os primeiros socorros são essenciais para impedir consequências mais sérias, como asfixia ou até lesões físicas. Por isso, atitudes como a do professor de Sofia são essenciais para que todos aprendam um pouco sobre como agir nessas situações de risco. 

No âmbito das políticas públicas, a Lei 13.722/18 é uma das ações que visam oferecer capacitação em primeiros socorros para a população. Ela determina que professores e funcionários de escolas públicas e privadas, de ensino infantil e básico, recebam formação em primeiros socorros. A lei homenageia Lucas Begalli Zamora, uma criança de 10 anos que morreu ao se engasgar com um lanche durante passeio escolar em São Paulo. Quanto mais pessoas forem capacitadas para prestar socorro, mais vida podem ser salvas. Afinal, como ressaltou Sofia, “imprevistos podem acontecer e ter alguém preparado por perto faz toda a diferença”. 

Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Vanessa Almeida da Silva.