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Conhecimento e alimentação para todos

Projeto de extensão da UFRJ promove educação em alimentação saudável e sustentável para alunos jovens e adultos de escola municipal

Em 16 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Alimentação, tema importante que atravessa diversas áreas do conhecimento e da sociedade. Pensando nessa transdisciplinaridade, o Conexão UFRJ traz uma série de reportagens sobre iniciativas da UFRJ que abordam a alimentação de diferentes formas e possibilidades. Porque alimentação é direito, conhecimento e saúde.

O Laboratório de Pesquisa e Extensão em Sustentabilidade na Produção de Refeições (Lasupre) da UFRJ promove atividades sobre alimentação saudável com alunos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Peja) da Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, da 11ª CRE/RJ. A principal proposta do projeto é promover a alimentação sustentável, adequada e saudável a partir do desenvolvimento de ferramentas e ações educativas para os estudantes da escola. 

Atuando com o Peja da escola municipal desde 2020, o Lasupre busca integrar a pesquisa e a extensão sobre alimentação saudável e sustentável para a coletividade em todas as atividades do projeto. Todas as terças-feiras, os oito integrantes do laboratório se dividem em dois grupos com turnos diferentes, um pela manhã e outro à tarde, e vão até a escola acompanhados da coordenadora do projeto, Luciléia Colares, para realizar as atividades. As turmas do Peja são bem variadas, com alunos de idades entre 18 e 60 anos que estão em processo de alfabetização. Segundo Luciléia, o projeto já está inserido no plano pedagógico da escola, devido ao alto interesse e engajamento dos alunos nas atividades e na temática da alimentação. Os conteúdos trabalhados vão desde a origem dos alimentos, sistema alimentar e ultraprocessados até rotulagem de produtos e a prática de receitas.

“Nós desenvolvemos principalmente temáticas que eles trazem para a gente e também muitos materiais educativos que o próprio docente da escola também utiliza. Então, por exemplo, se trabalhamos receitas, ela [a professora] trabalha as contas a partir das receitas. Eles embarcam mesmo, interagem muito, porque são coisas reais da vida deles, né? Tudo que a gente trabalha são coisas que eles vivem na vida real, então é uma troca de informações a partir da vivência”, diz Luciléia, que também é professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ. 

As turmas do Peja têm alunos entre 18 e 60 anos. | Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a coordenadora, os alunos do Peja são sempre muito interessados, levando perguntas e aplicando o que aprenderam no seu dia a dia. Isso permite com que o projeto explore outras habilidades dos estudantes e abram as suas mentes para o universo da alimentação. Luciléia conta, por exemplo, que os ensinou a fazer um livro de receitas a partir de uma oficina de encadernação. Artesã, a professora explica as diversas habilidades que a atividade demanda e que são importantes para o desenvolvimento. A partir de sua experiência, decidiu ensinar os estudantes a ter o próprio livro de receitas feito por eles mesmos. 

Atividades teóricas e práticas

Apesar de o foco estar na prática e interação dos alunos, as atividades do Lasupre na escola também abrangem a parte teórica, a partir da qual os extensionistas preparam apresentações, levam vídeos, filmes e outros materiais educativos. De acordo com Luciléia, a proposta é que eles desenvolvam ferramentas para promover a alimentação saudável, bem como o interesse dos estudantes pelo assunto. Além de brincadeiras como caça-palavras, jogo da memória e “mito ou verdade”, os alunos também aplicam os conhecimentos vistos em outras disciplinas nas atividades do Lasupre. 

“Na aula de rotulagem, nós ensinamos eles a calcular quanto de açúcar, gordura e de sódio tem em determinado produto e, a partir disso, eles classificam o produto com a lupinha que indica, por exemplo, ‘alimento alto em açúcar’. Nós sempre discutimos um tema e depois fazemos uma atividade para fixar a ideia”, explica a professora. 

Troca de experiências 

O principal objetivo do projeto não é apenas levar informação aos alunos, mas promover uma alimentação adequada, saudável e sustentável a partir das trocas de experiências entre a Universidade e o ensino escolar. Isso porque, segundo a coordenadora, o diálogo é o foco principal do projeto e é a partir dele que o olhar dos estudantes é desenvolvido para uma preocupação e interesse pela própria alimentação. 

“Nós não proibimos nada. Por exemplo, se eles vêm com Coca-Cola, começamos a conversar sobre ela, ensinamos a ver rótulo e perguntar coisas como ‘Vocês sabem o que tem ali dentro?’. Nosso objetivo maior é promover uma alimentação saudável e sustentável, ensinando eles a terem conhecimento de onde vêm os alimentos e a fazerem as próprias escolhas.”

Além disso, pelo fato de a maioria ser jovem, adulto ou idoso, muito do que é visto nas aulas são cenas do cotidiano deles, o que permite uma troca ainda maior de experiências e aprendizados. Luciléia conta que os alunos sempre compartilham receitas uns com os outros e diferentes formas de fazê-las. Uma menina da turma, por exemplo, ensinou a fazer um bolo com apenas um ovo, devido ao alto preço do alimento no mercado. “Ela [a aluna] trouxe a receita que era com um ovo e com leite diluído, porque ela não tinha dinheiro para ficar comprando esses alimentos. E deu certo. Às vezes a gente pensa que existe só uma forma de fazer, mas na verdade não é, né?”, diz a professora. 

Essa troca de experiências, conhecimentos e vivências é fundamental tanto para os alunos do Peja quanto para os extensionistas que integram o projeto. Para Luciléia, o projeto permite que os estudantes da UFRJ conheçam a realidade da população, os alimentos acessíveis e inacessíveis, o nível de conhecimento de cada pessoa e, principalmente, diferentes formas de falar e explicar sobre o tema. Segundo ela, alimentação não se trata apenas de fazer uma dieta maravilhosa e saudável para a população, mas sim de tudo que a envolve: origem, cadeia de produção, conhecimento, desperdício, acessibilidade etc. “Não adianta só dizermos para comer uma fruta ou fazer uma dieta específica se não soubermos a realidade de cada um. Se nós conseguirmos promover a alimentação saudável e fazer com que eles mudem um pouco os hábitos, já é uma grande coisa”, finaliza.