Aproximadamente 150 espécies de plantas e 127 espécies de aves habitam o Parque da Mata Atlântica Frei Velloso, um ecossistema biodiverso dentro do espaço universitário. Também conhecido como Ilha do Catalão, seu nome original, o parque é frequentado por pesquisadores, professores, estudantes e pescadores e tem como um dos principais desafios a redução dos resíduos de poluição da Baía de Guanabara e a preservação ambiental. Localizado em meio a um espaço urbanizado, o Catalão reúne uma biodiversidade necessária à permanência e conservação de áreas verdes na cidade, além de atender às atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma integrada.
A gestão do Catalão é feita pela Prefeitura Universitária, que é responsável pela conservação, organização e utilização deste patrimônio ambiental da Universidade. O Plano Diretor Ambiental Paisagístico para a Cidade Universitária (PDAP), elaborado em 2017, traz diretrizes e orientações para uma gestão mais voltada à preservação e minimização dos impactos ambientais decorrentes da intervenção humana. Resgatar o ambiente paisagístico, respeitar os padrões naturais do ambiente e difundir o conhecimento sobre o patrimônio ambiental universitário são os seus principais objetivos. O Plano Diretor de 2030 da UFRJ prevê a execução e desenvolvimento do PDAP em consonância com a conservação de áreas verdes, entre elas a Ilha do Catalão.
Obstáculos a serem enfrentados
De forma indireta, toda a população é responsável pelo maior problema do Catalão atualmente: o lixo. Isso porque a parte mais significativa de poluição no local é decorrente da maré da Baía de Guanabara. Segundo Vera do Carmo, coordenadora de Operações Urbano-Ambientais da Prefeitura Universitária (COUA/PU), a porção de lixo deixada pelos visitantes é praticamente insignificante quando comparada à enormidade de resíduos vindos da maré. O que não deixa de ser, indiretamente, o nosso lixo. O desafio está, portanto, em reduzir a quantidade de detritos que chegam na Ilha do Catalão.
Além disso, a escassez de recursos para a manutenção da Ilha também é um grande obstáculo a ser enfrentado. A falta de infraestrutura adequada a um parque – como segurança reforçada, posto de vigilância, banheiros, serviço de limpeza, entre outros – impede a maior visitação do espaço pela comunidade acadêmica. “É uma despesa muito alta para a Universidade. É um pouco diferente de uma praia na cidade, que tem recursos ou taxa condominial do comércio para mantê-la. A Universidade, infelizmente, não tem recurso para manter a orla limpa”, diz Vera.
Biodiversidade e pesquisa
Apesar de o Parque da Mata Atlântica Frei Velloso ter sido criado em 1997, no ano anterior houve a primeira intervenção de grande porte no local: um reflorestamento com plantio de 40 mil mudas. A técnica administrativa em educação (TAE) Beatriz Emilião conta que é por esse motivo que muitas espécies do parque já são consideradas adultas e têm em sua maioria grande porte. “É possível ver o quanto o Catalão já se desenvolveu. Ele já tem cara de floresta”, diz.
A partir de 2017, foram realizados esforços para evitar a descontinudade das atividades de manutenção e conservação do Parque devido ao agravamento da crise orçamentária. Nessa época, foi iniciada a implantação de sinalização com placas e de identificação Qr-Code, além da proposta de criação da guarda ambiental para o Parque e outras áreas da UFRJ que demandam esse serviço.
Beatriz explica que o Catalão também é um importante ponto de pesquisa para diversos cursos da UFRJ – como Engenharia Ambiental, Paisagismo, Biologia, Geografia, Geologia e Botânica –, que desenvolvem estudos sobre coleta de folhas de pitangueira e pesquisas com aranhas e borboletas, entre outros exemplos. Além disso, esses cursos também realizam aulas de campo no parque, a partir das quais os alunos podem observar de perto e seus objetos de estudo. “Dar nome é conhecer. Imagine quando um professor de Botânica, por exemplo, traz a turma para a mata, em vez de apenas desenhar e fazer esquemas durante as aulas. É uma outra forma de ensino”, diz o engenheiro civil Alfredo Heleno, que também tem formação em gestão ambiental e trabalha no mapeamento de fauna e flora do parque.
Para manter a vegetação e, ao mesmo tempo, as possibilidades de caminhada dentro do parque, uma equipe da Prefeitura Universitária realiza mensalmente o serviço de roçada das trilhas. Beatriz explica que nas áreas de floresta a intenção é justamente não roçar, para deixar a natureza se estabelecer em sua forma natural. Ou seja, se cai uma árvore, ela é apenas cortada, colocada para o lado e “deixada para os insetos e outros animais, o que ajuda na sua decomposição”, conforme explica a pesquisadora. Assim, a fauna se aproveita do tronco seco e da vegetação que começa a germinar no local. “Esse é o próprio movimento da natureza”, completa a gestora ambiental, que também é mestre em arquitetura paisagística.
“Aqui é uma paz”
É comum entrar no Catalão e se deparar com pescadores pelos cantos esperando um peixe fisgar as suas iscas. Marcelo Souza é morador das redondezas da Ilha e vai para o parque em suas folgas do trabalho no hortifruti. Para ele, além de poder levar um alimento para casa, a pesca é uma atividade de distração e calmaria. Segundo Marcelo, os tipos mais comuns de peixes da região são corvina, papa-terra e bagre. No entanto, ele conta que é mais comum pescar lixo do que peixe. “Às vezes vou mais para os lados do Arpoador e Praia Vermelha porque dá menos lixo”, conta.
Beatriz explica que os pescadores chegaram a receber orientações em relação às ações de pesca no local e cuidado com a natureza. Segundo ela, é importante que principalmente os assados dos peixes sejam feitos na área de areia, para que o fogo não se propague para o parque todo. Além disso, a limpeza do local utilizado também é fundamental.
Espaço da Universidade
Além de aulas de campo, pesquisas e visitas pedagógicas, o Parque também é um local de lazer e relaxamento para a comunidade acadêmica. Antonio e Jess são alunos do primeiro período de Biologia e vão constantemente para o Catalão nos intervalos das aulas. Eles contam que conheceram o local de forma despretensiosa a partir do convite de um amigo do mesmo curso. Segundo eles, é difícil ver estudantes passeando e aproveitando o parque.
“Aqui simplesmente é um lugar para relaxar, porque é muita paz. Eu me afasto um pouco do barulho do dia a dia e fico no meio do mato. Venho três vezes na semana ou pelo menos uma vez. Venho para descansar, dormir ou ler”, comenta Antonio.
Vínculos afetivos
A Ilha do Catalão não só faz parte da história da Universidade, como também de muitos estudantes, professores e funcionários que participaram do processo de construção do que é a ilha hoje. Beatriz, por exemplo, lembra que estava grávida durante o levantamento florístico do Catalão, em dezembro de 1994, e que o nascimento do filho foi pouco antes do reflorestamento, em janeiro de 1995. As idades das plantas são, portanto, uma referência para a idade de seu filho, e vice-versa. A maioria das árvores de lá têm hoje 28 anos, assim como o filho Matheus.
Beatriz foi aluna de Paisagismo da UFRJ e morou no alojamento estudantil durante sua graduação. “Eu aprendi a dirigir aqui dentro do Catalão”, conta. Para ela, o Parque é sinônimo de lembranças da juventude e lazer, além da “potência da flora”, a qual Beatriz não cansa de elogiar durante a caminhada pela Ilha. “Acho todas lindas. Eu tenho um problema para falar que sou apaixonada por determinada planta porque sou apaixonada por todas”, diz.
Marcia Paulino é aluna de bacharelado em Dança da UFRJ e ex-moradora da residência estudantil. Ela conta que sempre ia ao Catalão nos momentos e dias livres. “Era para mim uma válvula de escape”, diz. Ela destaca que, pela dificuldade financeira, era difícil se deslocar pela cidade. Então aproveitava os seus momentos de lazer no parque, caminhando, conversando, se reunindo com os amigos e descansando. “É um local muito lindo e tranquilo. Parece que quando você entra ali, a cidade vai embora.”
Um local histórico
A Ilha do Catalão é uma das oito ilhas unidas por aterramento no início da década de 1950 para compor o que hoje conhecemos como Cidade Universitária, a Ilha do Fundão, e abrange 17 hectares de Mata Atlântica. Durante a década de 1970, existiam residências e atividades comerciais na região, cujas ruínas o parque ainda preserva, como o Bar do Galvão e a casa da Dona Sinhá, a primeira moradora da Ilha.
O nome do Parque é uma homenagem ao Frei José Mariano da Conceição Velloso, um importante botânico brasileiro do século XVIII.
As visitas ao Catalão devem ser previamente agendadas por meio do formulário disponível no site da Prefeitura Universitária ou pelo e-mail coord.meioambiente@pu.ufrj.br. Todas as visitas são acompanhadas pela Coordenação de Operações Urbano-Ambientais (COUA/PU) e pela Divisão de Segurança.