Meu coração é caju amarelo guardado por costelas.
Não quer a cola da cica
E se enjoa da doçura quando fermenta.
Coração selvagem, bate sem a razão.
Cresce na tristeza profunda e no susto dos estouros;
Hiberna na paz;
Foge pelas veias (justo quando amo).
Meu cérebro é de minhoca contorcida.
Perdida com seus cinco corações no vai e vem labiríntico de curvas sobre si mesma.
Bolota de massa rosada que vejo nos livros.
Manda chorar quando recebe notícias da solidão das ruas.
Desaparece com os sentidos
(como se o silêncio fosse pausa da vida).
Tenho mãos pequenas
de onde escorrem os anéis pelos dedos.
Nasceram ensaboadas, derrubam tudo o que pegam.
Prendem firmes meu cabelo no calor.
Enfraquecem no suporte do peso.
Abanam (pra terem o que fazer) o rosto na vergonha.
Por hoje o resto é tudo o que não sinto.
Teia de burocráticas funcionalidades para a sobrevida,
(fastio de sofá)
e um monte de poros a procura de ar fresco.
Heloísa Bérenger
Sou uma mulher de 52 anos. Gosto muito de experimentar recursos expressivos. Em toda mudança de matéria-prima existe um desafio novo, uma experiência que não sei onde vai dar. Saio constantemente do design, minha profissão, para as artes plásticas, da imagem para o texto e vice-versa. Acredito no fluxo do que estou executando, o que parece intuição, o que é meu desejo em alinhavar e incorporar. Acrescento e descarto em mil versões que correspondem a mil vontades, e não fico cansada. Esse é o primeiro texto que submeto a curadoria e possível publicação. A coragem chegou.
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