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Sempre com a educação

Em uma relação de mais 32 anos com a UFRJ, a professora do Colégio de Aplicação Cristiane Madanêlo caminha pela vida ao lado da educação

Neste mês, o Conexão UFRJ traz uma série de reportagens sobre os profissionais da educação de diferentes setores da UFRJ. Eles trabalham diariamente para garantir que a Universidade seja um espaço de formação profissional e cidadã.

Pelos corredores e salas do Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp UFRJ), uma cria da casa ajuda a formar tantas outras. A professora Cristiane Madanêlo tem uma trajetória que caminha em paralelo tanto com a educação quanto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, estabelecendo laços e construindo oportunidades.

Formada em Letras pela UFRJ (bacharelado e licenciatura), Cris − como é chamada pelos colegas − cursou duas especializações e mestrado na Universidade, além de ter atuado como professora substituta na Faculdade de Letras. Aproximadamente no mesmo período em que recebeu o título de mestra, em 2006, ela foi aprovada no concurso para professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) do CAp UFRJ. Uma trajetória de laços consistentes com a Universidade. 

Completando 17 anos de CAp neste mês, Cris vem atuando ao longo destas quase duas décadas nas disciplinas da área de linguagens − língua portuguesa, redação e literaturas − em turmas do ensino médio e do ensino fundamental. Sem contar os quatro anos nos quais esteve à frente da Direção de Ensino do Colégio, estabelecendo uma relação mais direta com professores e responsáveis. 

Só por esse breve resumo, é possível perceber que sala de aula e UFRJ são palavras que fazem parte da história de Cristiane. No entanto, encontrar uma forma eficaz de contribuir para o processo educacional de tantos jovens e adultos e se satisfazer profissionalmente exigiu de Cristiane um movimento de mudança ao longo da sua carreira. E a resposta esteve sempre na educação, porque, desde o começo de tudo, quando ainda estava na graduação, Cris já atuava como estagiária na Delegacia Regional do Ministério da Educação (Demec-RJ),  mesmo que ainda não fosse à frente de turmas. 

Uma mulher com uma blusa social vermelha sorri de braços cruzados em frente a um corredor. Ao seu lado, existem alguns armários de ferro de escola.
Foto: Moisés Pimentel (SGCOM/UFRJ)

Assim que se formou, manteve-se por um período como docente, primeiro para militares da Aeronáutica e, depois, lecionando para candidatos de concursos militares. Foi nessa fase, a qual durou cerca de 10 anos, que a professora sentiu o peso de se afastar da sala de aula, dessa vez como aluna. Carga horária alta, muitas demandas, poucos direitos trabalhistas e pouco descanso fizeram com que Cris fosse forçada pelo seu corpo a parar, após quase ter tido síndrome de burnout. Ela então percebeu que precisava voltar a estudar e se inscreveu no mestrado, trajeto que a foi levando ao Colégio de Aplicação. 

“O caminho acadêmico me trouxe para o CAp por uma insatisfação com o mercado. Inicialmente, eu só não queria ter que dar aula para o sexto ano por ter mais dificuldade, mas logo na minha prova prática tive que encarar esse desafio”, conta ela, em meio a risadas. “Eu gosto de dar aula e venho feliz, apesar da distância.”, explica. 

Educação em várias pontas

Falante e sorridente, moradora do bairro de Quintino, na Zona Norte do Rio, Cristiane precisa enfrentar diariamente o trânsito e o longo percurso para chegar até o bairro da Lagoa, na Zona Sul da cidade, onde fica localizado o Colégio de Aplicação. Atualmente tem atuado com os alunos do último ano do ensino médio, mas, uma vez que existe um tempo reservado em sua grade para o acompanhamento dos licenciandos, também auxilia e direciona os estudantes de licenciatura da Universidade, que cursam disciplinas relacionadas à prática pedagógica.

Além de este ser um diferencial do CAp, Cris acredita que o formato a ajuda a estar presente em diferentes níveis da educação, tanto nos ensinos fundamental e médio quanto no nível superior. “Eu transito bem e gosto de lidar com pessoas. Para mim, professor que não gosta de lidar com pessoas não está no lugar certo. E este é o grande ganho da escola: estar o tempo inteiro mediando, lidando com os diferentes. Você se torna uma pessoa diferente também. Eu não me vejo fazendo outra coisa, de fato”, reflete ela. 

Antes mesmo de ser aprovada no concurso do Colégio de Aplicação, a professora já havia tido uma experiência lecionando para alunos da graduação em duas outras universidades. Cristiane acredita que essa experiência foi um diferencial para que ela fosse aprovada na sua vaga atual, em primeiro lugar. 

Mulher sentada conversando com alguém. Ela veste blusa vermelha.
Foto: Moisés Pimentel (SGCOM/UFRJ)

À frente de projetos como o CAp Literário − festival literário e artístico que envolve a comunidade escolar com o objetivo deo incentivar a leitura e a escrita −, Cris segue também na área da pesquisa. No momento, ela está cursando doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF), investigando literaturas afro-brasileiras e indígenas voltadas para o público infantojuvenil. Além disso, a professora também participa como voluntária do projeto de extensão CAp Popular, curso preparatório voltado para populações marginalizadas, reforçando as diferentes frentes do Colégio de Aplicação e dos profissionais que lá atuam. 

“A Universidade sabe pouco sobre o CAp. Nós somos a Unidade de Educação Básica da UFRJ, mas às vezes parece que só existem os cursos de nível superior. Aqui dentro a gente também faz ensino, pesquisa e extensão, além do trabalho com os licenciandos, que ajuda a revitalizar a educação. Ter essa construção coletiva é muito importante para o meu trabalho”, conclui ela.