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Minha segunda casa

Dudah Braz, profissional terceirizada de limpeza, é a quarta entrevistada do especial Profissionais da Educação

Neste mês, o Conexão UFRJ traz uma série de reportagens sobre os profissionais da educação de diferentes setores da UFRJ. Eles trabalham diariamente para garantir que a Universidade seja um espaço de formação profissional e cidadã.

“Eu não conhecia aqui, nunca tinha ouvido falar desse lugar”, diz Dudah Braz sobre o Palácio Universitário da UFRJ, local em que trabalha como uma das responsáveis pela limpeza. Do desconhecimento à familiaridade com o espaço, já se vão seis anos. Hoje, a jovem de 28 anos considera o local como sua segunda casa: “Aqui é onde passo o dia inteiro, tomo café, almoço, faço minhas zoações, porque eu gosto de trabalhar zoando, mas com seriedade também”. Ao longo do dia, a profissional se dedica a higienizar os banheiros para que os alunos possam utilizá-los.

Ela chega às 7h e já começa botando a mão na massa e encarando os sanitários do Instituto de Economia e da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da UFRJ para que quem chegue tenha um ambiente limpo e cheiroso. Assim como cuida de sua casa, no bairro de Rio das Pedras, é muito exigente e gosta de fazer tudo bem feito em relação à limpeza. “Se estou aqui, eu tenho que usar. Então penso não só pelos alunos, mas por mim também. Eu gosto de usar uma coisa bem limpa. Acho que todo mundo gosta.”

“É um trabalho como qualquer outro”

Segundo Dudah, trabalhar especificamente nos banheiros requer uma rotina um pouco mais puxada do que em outras áreas da limpeza, já que existem mais exigências para manter os locais limpos. Por essas condições, ela recebe um acréscimo salarial referente à insalubridade da profissão. Apesar disso, ela diz que gosta do trabalho e o considera tranquilo porque pode desempenhar suas funções sem pressão. “Minha supervisora sabe que eu faço o serviço, ela não precisa ficar atrás de mim. Aqui não é um lugar que tem aquela cobrança, sabe? Aqui é um lugar tranquilo, por isso que eu falo, cara, eu não quero sair daqui”.

Com a indicação de sua madrinha, há seis anos Dudah conseguiu uma vaga em uma das empresas contratadas para a limpeza da Universidade. Segundo ela, esse é o emprego em que continua por mais tempo. Antes disso, trabalhou como jovem aprendiz em redes de fast food a partir dos 14 anos, mas a rotina era muito desgastante. Hoje, a jovem trabalha das 7h às 17h com uma hora de almoço e se orgulha do seu ofício, porque acredita que, independente da profissão, “a gente tem que ser o melhor no que a gente faz”.

“Não adianta você vir trabalhar tristão, trazer o problema lá de fora, porque aqui parece que fica pior. Você está no trabalho, que já é cansativo, e ainda traz o problema”, afirma Dudah.

Nesse sentido, ela busca criar um ambiente de trabalho agradável para todos, contando piadas e interagindo com os alunos. Os estudantes já conhecem Dudah e conversam com ela nos corredores ou até mesmo no setor do prédio em que ficam os terceirizados. Em função disso, “o pessoal fala até que eu pareço celebridade”, brinca. Segundo ela, os alunos têm consciência de que não é para sujar os banheiros e alguns até percebem se eles foram ou não lavados. Com a relação amistosa no trabalho, Dudah afirma nunca ter sofrido preconceito dentro da Universidade. Apesar disso, ela conta que, ao pegar o ônibus para ir para casa – a 1h30 de distância –, as pessoas a olham “de cima a baixo” e já chegaram a descer do veículo quando cruzaram com ela.

Hoje Dudah contagia as pessoas com alegria, mas nem sempre foi assim. A jovem nasceu no Rio de Janeiro e foi criada pelos avós em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, por conta da dificuldade financeira dos pais. Aos 10 anos, veio para o Rio na intenção de conhecer os genitores e passar férias, quando decidiu ficar e nunca mais voltou. Quando chegou à cidade natal, nem falava. Foram necessários três anos de teatro para se comunicar mais.

Dudah pretende mudar de carreira | Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

Inspirada pelo contexto educacional da UFRJ, ela quer fazer graduação em Letras, para trabalhar com tradução. Em Caxias do Sul, Dudah teve contato com pessoas de outros países e estudou em um colégio bilíngue, mas as aulas eram esporádicas, então não adquiriu fluência. O plano de cursar o ensino superior representa a mudança social:

“Ninguém quer ficar embaixo para sempre. A gente sempre quer subir”, destaca.

*Sob supervisão da jornalista Vanessa Almeida