Neste mês de agosto, o Conexão UFRJ traz uma série de reportagens sobre os profissionais da educação de diferentes setores da UFRJ. Eles trabalham diariamente para manter a Universidade um espaço de formação profissional e cidadã.
Ao perguntar sobre Jorge Esteves nos corredores da Biblioteca do Centro de Tecnologia (CT), uma resposta é bastante comum: “Jorginho? Ele é a nossa memória viva!”. Na unidade há mais de três décadas, Jorginho, como é carinhosamente chamado, viveu as mudanças da Universidade e participou do desenvolvimento de gerações de estudantes.
No início de 1986, Jorge começou sua trajetória na UFRJ trabalhando em um restaurante universitário ao lado do Centro de Ciências da Saúde (CCS), onde hoje fica o prédio principal da expansão do Centro. Meses depois, o espaço foi fechado e ele recebeu uma notícia que mudaria sua vida para sempre: a Biblioteca do CT estava com vagas abertas.
Após uma conversa com a chefe da época, Jorginho passou a cuidar do salão cheio de estantes. Lá, encontrou um espaço vivo onde os estudantes passavam as tardes se dedicando aos livros e às suas pesquisas. A paixão foi tão grande que, incentivado pela chefia, ingressou no nível superior e se tornou bibliotecário. Hoje ele sabe de cor quais são os principais autores da Engenharia, guiando-nos com um passo seguro entre os corredores até as publicações de James Stewart, Diomara Pinto e Maria Ferreira Morgado, referências em Cálculo.
“Eu gosto muito da área da Educação, de trabalhar com os alunos. Desde quando vim pra cá, vi alunos passando pela graduação, mestrado, doutorado e se tornando professores. Vi ex-alunos trazendo seus filhos e dizendo que eu fiz a diferença na vida deles. É muito gratificante”, conta, emocionado.
Além do vai e vem de rostos e gerações, Jorginho também testemunhou as mudanças tecnológicas no setor. Se antes os alunos iam para a biblioteca em busca de livros e pesquisas oriundos especificamente da UFRJ, com o avanço da internet o espaço precisou mudar um pouco suas configurações.
Os livros de referência ainda são muito procurados, como as fotos desta matéria podem provar. Passadas de mão em mão, folheadas à exaustão e, às vezes, até rabiscadas – transgressão que costuma chatear os bibliotecários –, essas obras atraem muitos alunos pois são difíceis de serem adquiridas, muitas vezes em formatos imensos e caras. Embora a bibliografia básica ainda seja muito usada, a procura por pesquisas caiu. De acordo com Jorginho, essas buscas hoje se concentram na internet.
“Em período de provas, nós ainda ficamos lotados. Os alunos vêm pra cá estudar, sozinhos, em grupo, de diversas maneiras. Nós ainda precisamos ficar organizando a bagunça e o falatório” diz, com um sorriso estampado no rosto.
Jorginho fala de seu trabalho com brilho nos olhos enquanto manipula, com atenção ímpar, os livros nas prateleiras, organizando e zelando constantemente para que eles estejam em seu melhor estado. Aqueles que, de tanto serem usados, ficam com as lombadas desmontadas e as folhas amassadas são cuidados com um pouco de cola e muito carinho, para depois voltarem às mãos dos alunos.
Já tendo passado por todos os setores da unidade – aquisição de livros, manutenção e atendimento –, o bibliotecário diz sentir-se pertencente à Universidade e realizado com sua trajetória. Sobre o epíteto de “memória viva da Biblioteca do CT”, Jorginho ri humildemente, reforçando que a equipe é muito unida e acolhedora.
“Esses mais de trinta anos aqui me fazem muito feliz. Já estou perto de poder me aposentar, mas eu não quero sair daqui, não. Eu só saio na expulsória”, conclui, orgulhoso.