Atualizado às 11h54 de 31/7/2023
Um grupo de pesquisa que reúne professores de diferentes centros da UFRJ, assim como da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), procura combater a rabdomiólise, doença caracterizada pela destruição das fibras musculares. A pesquisa se dá a partir de diagnósticos de análise rápida e avalia se as proteínas identificadas nos testes podem indicar outras formas da doença.
Coordenada por Andréia Carneiro da Silva, capitão de corveta da Marinha do Brasil e doutora em Bioquímica pela UFRJ, a proposta teve origem em 2017, com o objetivo de definir estratégias para a prevenção e o monitoramento da síndrome em militares submetidos a exercício físico intenso.
A partir de 2021, por meio de incentivo do Ministério da Defesa, da Marinha e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os pesquisadores avançaram no estudo e trabalham no desenvolvimento de um teste de análise rápida, baseado na coleta de sangue e urina dos examinados. O kit observa a validação de potenciais biomarcadores de monitoramento e de susceptibilidade para rabdomiólise por esforço, facilitando o diagnóstico e dispensando uma equipe de bioquímica para a prevenção.
A iniciativa também conta com parceria do o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), responsável pela capacitação de tropas e de atletas militares olímpicos e paralímpicos da Marinha. Na UFRJ, a equipe de cooperação técnica é composta pelos professores Francisco Radler de Aquino Neto e Marcos Dias Pereira, do Instituto de Química; Mariana Amaral Alves, do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors; e Diego Viana Gomes, da Escola de Educação Física e Desportos.
O que é a rabdomiólise e como o diagnóstico é possível?
De acordo com o grupo, a rabdomiólise (rabdo: estriado; mio: músculo; lise: quebra) é compreendida como a degradação dos tecidos musculares do corpo humano, resultada a partir da liberação de diferentes substâncias na circulação sanguínea e capaz de regiões como os rins e o sistema urinário.
As causas dessa síndrome são diversas e podem ser motivadas pela prática excessiva de atividades físicas, especialmente quando realizadas em condições climáticas intensas, ou até pela ingestão de fármacos e outras drogas. Em um artigo publicado em 2021, a equipe esclarece que, apesar de existirem ocorrências seculares de rabdomiólise, a expressão só viria a ser cunhada pela primeira vez em 1956 e teria seu primeiro relato moderno em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em entrevista ao Conexão UFRJ, o professor Diego Viana relatou que, de acordo com estudos recentes, a incidência da enfermidade por esforço físico é de aproximadamente 30 para cada 100 mil pacientes por ano. No campo dos esportes, o atletismo é a modalidade com mais ocorrências.
Segundo ele, o estresse emocional e as baixas horas de descanso também despontam como outros sintomas. Em casos mais intensos de dano na fibra muscular, a partir do extravasamento das proteínas da célula para o sangue, essa complicação pode gerar uma sobrecarga renal aguda e levar o paciente a óbito.
“O teste é tido como um preditor do agravamento de um dos sintomas e até de uma parada cardíaca, que antes não seria compreendida como algo decorrente da rabdomiólise. Ou seja, é por meio dele que nós conseguimos identificar o momento anterior a uma lesão tecidual precoce em profissionais submetidos a um treinamento físico intenso. Felizmente, desde que nós iniciamos a aplicação do teste, não tivemos mais casos de óbitos. O que é um resultado muito significativo para a pesquisa”, reforçou Viana.
Além de uma patente registrada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), a proposta também foi aprovada pelo Conselho de Ciência e Tecnologia da Marinha (Concitem) e apresentada na 20ª Reunião de Projetos de Interesse para a Defesa Nacional (20ª Repid), realizada em junho do ano passado.
Atualmente, com a colaboração do Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec) e de pesquisadores da USP e Unifesp, a pesquisa está em fase de validação e aperfeiçoamento das proteínas encontradas na patente junto aos militares da Marinha do Brasil. Algumas das etapas do projeto podem ser acompanhadas em vídeo promocional, publicado pelo professor Diego Viana no Instagram.
A expectativa é de que em breve o diagnóstico também esteja disponível para atletas e outros profissionais do grupo de risco, como estivadores, trabalhadores rurais e operários da construção civil, especialmente quando expostos ao estresse térmico durante atividades laborais. Por fim, um dos propósitos da equipe é também alertar a sociedade civil sobre os riscos da doença e divulgar os resultados obtidos com o estudo, para que mais vidas possam ser preservadas.
Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão do jornalista Victor França.