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Brasis do sertão nordestino

Imagens e fósseis do sertão brasileiro são reunidos em exposição fotográfica na Casa da Ciência

Mais de 6.000 km de expedição pela Bahia, Pernambuco, Paraíba e Ceará foram compilados em fotografias e fósseis e exibidos na exposição Sertões, que fica até o dia 30 de julho na Casa da Ciência da UFRJ. O projeto é resultado do trabalho do fotógrafo Dimitrius Borja, que, em 2016, acompanhou uma das expedições do Instituto de Geociências da UFRJ*. A excursão foi uma das aulas práticas de campo dos estudantes de Geociências, pelas quais tanto os alunos de Geologia e Geografia quanto pós-graduandos receberam treinamento e puderam fazer pesquisas paleontológicas. 

Em uma mistura de fotografias, fósseis, vídeos, amostras geológicas e mapas, Sertões retrata cenários da Chapada do Araripe, localizada na divisa dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí, e do sertão do Cariri, no sul cearense.  Essas regiões foram locais de pesquisa dos estudantes durante a expedição, devido às suas riquezas geológicas e paleontológicas. Dimitrius conta que não via a possibilidade de a exposição ser apenas fotográfica, porque precisava abranger as diversas coisas que viu por lá e levar isso como conhecimento e cultura para os estudantes, crianças e brasileiros no geral.

“O Brasil é um país continental, é imenso. Então as diferenças de uma região para outra são enormes. Na cultura, na forma de se comunicar, na paisagem, tudo é muito diferente. Foi por isso que tive a ideia de mesclar as minhas fotos com os fósseis e os filmes da expedição: para mostrar que existem diversos Brasis dentro do Brasil.”

Segundo Dimitrius, é comum pensarmos no litoral quando falamos do nordeste, devido à sua beleza natural e à tradição turística. No entanto, conhecer o interior significa ter um olhar mais profundo sobre o Brasil e sua diversidade como um país de dimensão continental. “No interior, também tem coisas riquíssimas, que impressionam e que ficam na memória para o resto da vida”, disse o fotógrafo. 

Os fósseis em exposição fazem parte da Coleção de Macrofósseis do Dep. de Geologia, Inst. de Geociências da UFRJ / Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

Um olhar sobre o sertão nordestino

A Chapada do Araripe e o sertão do Cariri têm vasto sítio paleontológico e há milhões de anos eram banhadas por mares e lagos, consideradas por especialistas como um “oásis” no coração do sertão nordestino. No entanto, na época da expedição, essas regiões acabavam de passar por um período extremo de seca. De acordo com os dados mais recentes de acompanhamento das secas no país, do Monitor de Secas do Brasil − fruto de um acordo entre a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) −, essa não é mais uma realidade para os moradores locais. Agora, o interior do Ceará sofre com outros problemas: enchentes e deslizamentos em função das fortes chuvas registradas em março de 2023
Nas fotografias, Dimitrius captura o alívio dos sertanejos depois de cinco anos de seca. Segundo ele, em junho de 2016, quando ocorreu a expedição, a chuva já havia voltado para o local. No entanto, o período seco e sombrio permanecia na mente dos moradores da região. Com um lenço na cabeça e uma feição séria, Dona Maria conversa com o fotógrafo sobre o período que o seu município, Euclides da Cunha, no interior da Bahia, passou. Na garagem de sua casa, eles conversam sobre a vida de Dona Maria durante aqueles cinco anos secos. “É um rosto bem brasileiro, né? Lá em Goiás, eu tinha tias, avós que tinham o mesmo estilo dela, usando lencinho na cabeça, por exemplo, e a pele enrugada de muito trabalho, principalmente no sol. É um retrato do Brasil”, disse o fotógrafo.

A fotografia destaque da exposição foi tirada de forma espontânea e retrata exatamente o que a região vinha vivenciando: a chegada da chuva depois de anos de seca. Nela, de chapéu de palha e com a mão encostada na cerca, José Ilde observa a enorme chuva se formar no campo em Euclides da Cunha. “Essa foto representa tudo. Porque quando lemos e ouvimos reportagens sobre sertão e seca é uma coisa, mas estar lá, conhecer as pessoas e conversar com elas é bem diferente. Conhecemos mais profundamente o lugar e aquela realidade. E eu pude mostrar isso na exposição.”

A imagem de José Ilde observando a chuva é destaque na exposição Sertões / Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

Os moradores do local também participam das atividades paleontológicas e aprendem a importância de conservar os fósseis encontrados na região. No vídeo exibido na exposição, duas crianças encontram, enquanto cavam, fósseis de peixes próximos um do outro, como se estivessem se beijando. Dimitrius chama a fotografia de “Namorados juntos para toda a eternidade − afloramento em Euclides da Cunha (BA)”.

A exposição

Essa é a terceira edição de Sertões. Na primeira, realizada no Espaço Cultural Correios, em Niterói, no ano de 2018, teve 4.000 visitantes. A segunda, exibida na Galeria de Artes da Universidade Unilasalle, também em Niterói, contou com a visitação de cerca de 5.000 pessoas.

Acesse o site da Casa da Ciência para mais informações. 

* O Instituto de Geociências (Igeo) da UFRJ é uma instituição subordinada ao Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN).. O Igeo se destina ao ensino básico, à formação de profissionais, à pesquisa e à extensão nas áreas de Geografia, Geologia e Meteorologia.

Sob supervisão de Vanessa Almeida.