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Inteligência artificial e ética na pesquisa

PR-2 discute implicações de ferramentas como ChatGPT no mercado de trabalho e na Universidade

Clássicos da literatura e do cinema construíram no imaginário popular o medo e o fascínio por uma inteligência artificial (IA) que parecia muito distante. Mas, hoje, ferramentas como o ChatGPT mostram um pouco dos desafios práticos e éticos da IA no mundo real. Como forma de debater esse tema tão em voga, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e sua Câmara Técnica de Ética em Pesquisa (Ctep) promoveram o evento Produção Intelectual na Universidade e ChatGPT: Novos Tempos para a Integridade Acadêmica, que buscou discutir as possíveis aplicações dessas ferramentas na produção de conhecimento.

A professora do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) e coordenadora da Ctep, Sônia Vasconcelos, iniciou o encontro reforçando que os modelos pré-treinados, como o ChatGPT, vêm crescendo em ritmo acelerado e causando preocupação sobre uso indevido.

“O modelo GPT1 foi lançado em 2018, sendo a versão GPT3 a que serviu de base para o ChatGPT disponibilizado ao público em 2022. Para termos uma ideia do potencial desse modelo de aprendizado de máquina, o GPT1 tinha 117 milhões de parâmetros, saltando para 175 bilhões de parâmetros no GPT3, sendo estimado vários trilhões de parâmetros no GPT4”, conta.

Segundo Jesus Mena-Chalco, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e um dos convidados para a discussão, as preocupações sobre o uso de novas tecnologias no mercado de trabalho e na produção de conhecimento aconteceram diversas vezes na história. Embora os oráculos computacionais, como ChatGPT, tragam questões éticas preocupantes, eles precisam ser encarados como uma realidade.

“Esse tipo de ferramenta vai se tornar tão usual quanto o computador. Poucos conseguem enxergar agora as grandes possibilidades delas. O fator humano continuará sendo imprescindível e chegaremos em um equilíbrio natural”, afirmou Mena-Chalco.

O pesquisador defende que tanto os manuais de boas práticas em pesquisa quanto as formas de avaliação de professores e revistas científicas precisarão ser atualizados. O papel de avaliador do ser humano será cada vez mais importante, buscando-se novas maneiras de estimular os estudantes e se utilizando de mais análises críticas e novas formas de escrita.

Renan Moritz, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ), contou que é entusiasta das novas tecnologias e acredita que as preocupações são comuns no surgimento delas. Segundo ele, essas tecnologias só precisam ser analisadas com cuidado para que se possa trabalhar com os benefícios das ferramentas.

“Permitir que a tecnologia faça o esforço sozinha não fará nada por nós, não aprenderemos, não ampliará nosso conhecimento. A máquina não substitui nossa necessidade de aprendizado. Criar conhecimento novo ainda é uma característica exclusiva da inteligência humana”, concluiu durante o evento.