O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão interno da Organização das Nações Unidas (ONU), concluiu o Sexto Ciclo de Avaliação e divulgou, no dia 20/3, o Relatório Síntese, um resumo dos resultados mais relevantes apontados em documentos anteriores do órgão. Entre os destaques, o Painel aponta ser “provável” (likely) que o planeta exceda a meta estabelecida no Acordo de Paris de no máximo 1,5°C de aquecimento até 2100. A professora do Departamento de Meteorologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante do Painel Claudine Dereczynski conversou com o Conexão UFRJ sobre o assunto.
Além de tratar do estado atual e das tendências futuras das mudanças climáticas, o Relatório Síntese traz respostas a curto prazo, entre os anos de 2030 e 2040, e os impactos de longo prazo no clima e no desenvolvimento do planeta. O documento é uma síntese dos tópicos mais relevantes pontuados nos três Relatórios de Avaliação do Painel − Physical Science Basis, Impacts, Adaptation and Vulnerability e Mitigation of Climate Change − e também dos Relatórios Especiais anteriores – Global Warming of 1.5C (SR1.5), Climate Change and Land (SRCCL) e The Ocean and Cryosphere in a Change Climate (SROCC).
O relatório destaca que as mudanças climáticas estão levando a impactos cada vez mais adversos e afetam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis. Além disso, as projeções do IPCC indicam um aumento na intensidade e na frequência de eventos extremos em várias regiões continentais. Isso significa, segundo Claudine, maior ocorrência de chuvas intensas e secas severas e prolongadas, eventos que, ocorrendo em conjunto, podem causar sérios danos à sociedade. Chuvas e ventos fortes não são considerados extremos quando ocorrem separadamente, por exemplo. No entanto, se acontecem de maneira simultânea, podem afetar intensamente a população, proporcionando desastres, como enchentes e deslizamentos.
“O aquecimento gerado pela mudança climática nos afeta de várias formas. A inundação de água salgada pode ter também um grande impacto nos recursos hídricos. Quando o nível do mar aumenta, a infraestrutura e ecossistemas das regiões costeiras ficam ameaçados, principalmente quando ocorrem ressacas”, diz Claudine.
Para classificar os fenômenos climáticos e apontar cenários para a sociedade, os relatórios do IPCC utilizam classes de probabilidade quando existem confiança suficiente para tal e evidência probabilística ou quantitativa. Quando uma probabilidade entre 99 e 100% é calculada, os relatórios classificam a situação ou evento como “extremamente certo” (virtually certain). Já quando há entre 0 e 1%, o fenômeno é classificado como “excepcionalmente improvável” (exceptionally unlikely). Na situação divulgada pelo Relatório Síntese, há uma probabilidade entre 66 e 100% (likely) de que o planeta se aqueça mais do que 1,5°C (em relação a 1850-1900) até 2100, de acordo com os cientistas e pesquisadores que integram o IPCC.
Para os integrantes do Painel, ainda há esperança de reverter esses caminhos. O relatório aponta soluções que vêm sendo implementadas pelos países e afirma que existem múltiplas opções viáveis e eficazes para reduzir os problemas climáticos e promover adaptações sustentáveis às mudanças climáticas. De acordo com o Relatório Síntese, as emissões globais precisam ser reduzidas em quase 43% até 2030 para que o mundo alcance a meta do Acordo de Paris, tratado global adotado em 2015 por diversas nações durante a 21a Conferência das Partes (COP21). “Compromisso político”, “compartilhamento de conhecimentos diversos”, “cooperação internacional” e “governança inclusiva” aparecem no relatório como caminhos para a solução da crise climática.
“Ainda é possível ser otimista, mas temos que reduzir ao máximo a emissão dos gases de efeito estufa para atingir a meta do protocolo de Paris, estabelecido em 2015”, diz Claudine.
O que é o IPCC
O IPCC é um órgão da ONU responsável pela reunião e divulgação do conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas no mundo. Centenas de cientistas e pesquisadores de diversas nacionalidades, incluindo diversos professores da UFRJ, integram o painel e realizam os relatórios. Além disso, o órgão é dividido em três grupos de trabalho. O grupo 1 analisa as bases físicas e científicas das mudanças do clima, o grupo 2 é responsável pelo estudo do impacto da mudança climática na sociedade e nos ecossistemas e o grupo 3 analisa as estratégias de mitigação das mudanças climáticas.