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Entrevista com Vantuil Pereira, candidato a reitor da UFRJ

Professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos lidera a chapa 20 – Redesenhando a UFRJ, ao lado da candidata à vice-reitora Katya Gualter

O Conexão UFRJ, em parceria com a Rádio UFRJ, entrevistou Vantuil Pereira, candidato a reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela chapa 20 – Redesenhando a UFRJ. Ele é professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH).

Assista a seguir ou leia a versão transcrita adiante.

Victor França: Olá, eu sou o Victor França, repórter do Conexão UFRJ e nós vamos entrevistar os candidatos a reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o mandato que vai de julho de 2023 a julho de 2027. A iniciativa é do Conexão UFRJ, uma produção da Superintendência-Geral de Comunicação Social. As entrevistas são feitas em parceria com a Rádio UFRJ, uma emissora educativa do Núcleo de Rádio e TV, que é um órgão vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Aqui comigo está Marcelo Kischinhevsky, professor de Comunicação e também diretor da Rádio. Marcelo, muito bem-vindo! Tudo bem?

Marcelo Kischinhevsky: Tudo bem, Victor! É um prazer estar de novo aqui com você nesse espaço tão importante pro futuro da Universidade: essa entrevista com os candidatos à Reitoria, nesse período de 2023 a 2027.

Victor França: Muito bom! A nossa intenção é que você − estudante, professor, técnico-administrativo −, exerça o seu papel democrático com consciência na hora do voto. As entrevistas ficam disponíveis no canal da UFRJ no YouTube e a versão transcrita você também confere no Conexão UFRJ no endereço que você já sabe: conexão.ufrj.br. 

Marcelo Kischinhevsky: Isso mesmo, Victor! E a Rádio UFRJ vai preparar um especial com os melhores momentos dos principais pontos abordados nas entrevistas com os candidatos. Você que nos acompanha vai poder ouvir essa cobertura pelo site radio.ufrj.br ou pela sua plataforma de podcast favorita.

Marcelo Kischinhevsky: Antes de começar, vamos às regras. Serão feitas 15 perguntas para cada um dos candidatos, que terão até um minuto e meio para responder a cada uma delas. As perguntas são as mesmas para ambos. 

Victor França: A gente disponibilizou um temporizador para que os candidatos possam controlar o tempo.

Marcelo Kischinhevsky: As entrevistas foram acertadas com as chapas de acordo com a agenda dos candidatos. Vantuil Pereira, da chapa “Redesenhando a UFRJ”, será o segundo sabatinado; o primeiro, foi Roberto Medronho, da chapa ”UFRJ para Todos”.

Victor França: A gente, então, conversa agora com Vantuil Pereira, professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos, o NEPP-DH. Professor Vantuil Pereira, muito obrigado por ter aceitado nosso convite e por essa entrevista.

Vantuil Pereira: Estou aqui à disposição para fazer o debate, para conversar com vocês e com a comunidade.

Victor França: Tá certo, professor! Então vamos começar, e atenção ao tempo. A gente abre essa pergunta falando sobre propósito. Professor, por que ser reitor da UFRJ?

Vantuil Pereira: Bom, primeiramente, bom dia, bom dia a todos e todes. Vivemos um momento muito importante no Brasil. A gente passou por quatro anos difíceis, e sabemos da nossa responsabilidade na UFRJ, os compromissos que temos assumido. Sabemos também que, nos últimos quatro anos, a Reitoria tem se colocado de uma forma um tanto quanto antidemocrática. Uma terceirização das responsabilidades para com as unidades, para com os centros, um processo passivo em relação ao conjunto de demandas. Entendemos também que a UFRJ tem colocado os servidores, técnicos-administrativos, docentes numa posição desvantajosa, uma vez que a progressão docente, as políticas de qualificação, as políticas com os estudantes, muitas vezes discriminados pela Reitoria, precisam ser revistas. Estamos, então, num sentido diferente, apontando uma radicalização da democracia interna da nossa instituição, apontando que é preciso a gente qualificar os nossos técnicos-administrativos e os nossos docentes, rever alguns aspectos. Enfim, colocar uma política que amplia as cotas na graduação, na pós, combater, enfrentar a evasão são compromissos que nós estamos apresentando neste momento. Então a nossa Chapa é uma construção coletiva que visa redesenhar a UFRJ. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor! Vamos falar de orçamento. A gente sabe que a UFRJ vem sofrendo cortes ano após ano. Como o senhor espera se relacionar com o Ministério da Educação para uma recomposição orçamentária?

Vantuil Pereira: Bom, acho que é preciso a gente saber o tamanho, a grandeza da nossa instituição, da UFRJ. A UFRJ é a maior universidade do Brasil, a maior universidade pública do Brasil. A gente entende que esse lugar que ela ocupa é um lugar de protagonismo, e ela deve voltar a ter esse protagonismo. Ela perdeu esse papel nos últimos anos. Entendemos, também, que é preciso estabelecer, na sua liderança, um conjunto de articulações de diálogos com o MEC, mas, antes do MEC, com a Andifes. Precisa a gente ter um protagonismo na Andifes, chamando o conjunto de reitores para discussão, né? Para que a gente possa ter um diálogo mais qualificado. 

Entendemos que, de fato, é preciso haver uma recomposição orçamentária. Nosso orçamento não é suficiente. É preciso, então, a gente exigir de forma independente, respeitosa, com o MEC, mas a gente entende que esse diálogo vai acontecer mesmo, porque nós votamos no governo Lula. Nós votamos no governo democrático, popular e entendemos ser fundamental a afirmação, como tem sido do próprio governo Lula, do republicanismo. Então a gente, enquanto chapa de oposição, entende que esse diálogo vai ser um diálogo tranquilo, respeitoso e um diálogo onde a nossa liderança como instituição vai ser o principal mote que nós levaremos para Brasília. 

Victor França: Tá certo, professor! A gente agora fala sobre ensino. Depois de anos de cortes profundos, existe uma discussão sobre a retomada de investimentos nas universidades públicas e já se fala até em Reuni 2. Quais suas propostas para aprimorar a qualidade do ensino na UFRJ? E também queremos saber se a Universidade deve criar novos cursos, modalidades.

Vantuil Pereira: Bom, a pergunta sua é ampla, né? A primeira coisa a ser apontada é que a gente entende que é preciso fazer um balanço das retenções e evasões na Universidade. Os últimos dados são dados preocupantes, né? E isso tem a ver com a nossa expansão, a democratização que atingimos nesse ano de 2022. É preciso, então, a gente fazer um balanço, é preciso enfrentar a questão da evasão com uma política integrada da PR-1, PR-3 e PR-7, ou seja, um conjunto de políticas articuladas. Com relação ao Reuni, a gente entende que é possível a gente rediscutir, é preciso a gente projetar um novo Reuni, mas a gente tem defendido o seguinte critério: primeiro, concluir o que já foi feito do Reuni anterior. A gente tem o caso de Macaé, o caso de Caxias, aqui mesmo no Fundão e na Praia Vermelha, de processos incompletos, então é preciso a gente concluir esse processo. O segundo, na política de expansão. A gente entende que é preciso ter um pouco mais de tranquilidade para a gente discutir isso. Acho que alguns lugares demandam, algumas unidades demandam isso, como Caxias, Macaé e aqui mesmo, no Rio de Janeiro. Mas a gente entende que não pode ser um processo desenfreado, como foi o Reuni 1, que, inclusive, nós temos muitas obras inacabadas em função disso. Isso não pode ser confundido com a expansão e democratização que o Reuni trouxe. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, candidato! A UFRJ tem mais de 130 programas de pós-graduação, dos quais 47 tem notas seis ou sete, de acordo com avaliação da Capes, ou seja, são as maiores notas possíveis, né? Programas considerados de nível internacional. Quais suas propostas para avançar ainda mais na pós-graduação e potencializar a pesquisa e inovação na Universidade? Inclusive em termos de internacionalização.

Vantuil Pereira: Bom, a sua pergunta, ela permite a gente olhar talvez não para os programas seis e sete, mas pros programas três e quatro, né? Acho que a Reitoria, ela tem que ter um papel de avançar, afirmar a importância e excelência dos programas de seis e sete, que são programas de excelência que, inclusive, são uma vitrine da nossa instituição aqui no Brasil e no exterior. Nesse caso, nosso compromisso é de manter essa qualidade. A gente não pode ser reduzido, a gente não pode diminuir, né? O número de programas, o nosso tamanho na área da pesquisa e da pós-graduação. No entanto, para a gente não diminuir, é preciso a gente olhar os programas três e quatro, né? Precisamos olhar. Então, nesse sentido, e acho que isso foi algo que ficou aquém na atual Reitoria, é preciso a gente dar um passo adiante: que, primeiro, é fortalecer os programas três e quatro para que eles possam subir de nota. Isso precisa de um acompanhamento atencioso, atento, é da PR-2. É preciso a gente ter a criação de um fórum, de fato, dos coordenadores de pós-graduação para a gente poder ter uma interação que não seja só de WhatsApp. Precisa ter uma presença física, o diálogo permanente da pró-reitoria e é preciso a gente mudar o eixo da nossa política de pós-graduação que vá pro sul, acompanhando a política do governo federal. Por fim, eu queria acrescentar também a importância da gente ter uma política de parentalidade dentro da pós-graduação, ou seja, aquelas pós-graduandas que tiveram filhos recentemente. Ter uma política para essas companheiras. 

Victor França: Obrigado, candidato, a gente agora fala sobre extensão. A UFRJ, ela tem cerca de 3.000 ações de extensão registradas, entre programas, projetos, cursos e também eventos, né? São atividades de impacto diretamente na comunidade, nas mais diversas áreas do conhecimento. Que iniciativas práticas você propõe para aumentar a articulação da UFRJ com a sociedade e qual deve ser o papel da UFRJ frente aos desafios do Brasil?

Vantuil Pereira: Bom, primeiro que é louvável a extensão na UFRJ. Foi iniciada num processo da nossa democratização em 85, com o professor Horácio Macedo, o qual foi o grande incentivador da extensão aqui na Instituição. E, desde 85, esse processo vem crescendo. Acho que é preciso pontuar em que pés e termos temos uma quantitativa enorme de programas. É preciso também pontuar que a extensão teve um passo atrás ao não conseguir se inserir na nova Cotav. A extensão não está na Cotav, que é a distribuição de vagas docentes, com relação à nossa interlocução com a sociedade. A gente acha importante, primeiro, uma política que abra o campus da Praia Vermelha e o campus do Fundão nos fins de semana para a sociedade, pro nosso entorno, né? Aqui na Maré, no Fundão e nas comunidades ali do entorno da Praia Vermelha. Segundo, a gente organizar e pensar num festival cultural aqui no Fundão e na Praia Vermelha, um festival que possa justamente incorporar o conjunto da sociedade do Rio, da cidade do Rio de Janeiro, as políticas da extensão. Por fim, a sua pergunta também permite a gente pensar o nosso lugar no Brasil. Eu acho que a Universidade Federal do Rio de Janeiro tem muito a oferecer para o Brasil no caso do meio ambiente, no caso da política de enfrentamento ao genocídio de população ianomâmi, da ciência e tecnologia. Enfim, acho que nós temos e é possível construir um diálogo com a sociedade com temas que nós temos muito a oferecer. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor! Vamos falar de Complexo Hospitalar. Vamos falar das unidades de saúde da UFRJ. Em dezembro de 2021, o Conselho Universitário aprovou a abertura de negociações com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, a Ebserh. O Complexo Hospitalar da UFRJ conta hoje com nove unidades de saúde, entre eles, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que é o maior do estado do Rio em volume de consultas. Entre os desafios, a gente percebe a escassez de recursos orçamentários muito evidente e também de pessoal. O senhor defende a contratação da Ebserh? Quais as suas propostas para enfrentar a questão?

Vantuil Pereira: Bom, somos contrários à contratação da Ebserh. Somos contrários porque ela retira patrimônio da Universidade, ela retira da nossa instituição um conjunto de trabalhadores que vão ao longo do tempo se transformar em celetistas, precarizando o trabalho. Somos contrários à Ebserh porque ela compromete aquilo que é mais importante, que é a relação em ensino, pesquisa e extensão. Em que aspecto? Pode haver um distanciamento, vai haver um distanciamento dessa articulação no ensino, da pesquisa e extensão. Mas eu quero pontuar para você: eu acho que todo mundo está fazendo uma avaliação do número de leitos etc. e tal, mas é preciso pontuar também que a infraestrutura do hospital está muito aquém. A Ebserh não vai resolver essa questão. Ela não vai resolver porque o custeio vai ficar em parte com a nossa instituição, somos contrários, então, à Ebserh. Mas eu queria pontuar o seguinte, é preciso diferenciar, né? O nosso Conselho aprovou o início das negociações, mas passado quase um ano e meio, o nosso Conselho Universitário, a nossa Reitoria não apresentou a proposta da Ebserh. Onde está a proposta? Quais são as metas da Ebserh para a gente poder avaliar no nosso Conselho Universitário, né? É preciso a Reitoria apresentar o que foi discutido sobre a Ebserh para sabermos: qual caminho tomar? Defendemos que é preciso uma ampla discussão com a comunidade do Hospital, do Complexo Hospitalar, é preciso uma ampla discussão com a nossa instituição num corpo social para que a gente tenha uma posição um pouco mais clara sobre os caminhos a serem tomados. 

Victor França: Obrigado, professor! A gente agora fala sobre equipamento cultural. A UFRJ homologou, em março, o resultado do leilão de novos equipamentos culturais no campus da Praia Vermelha. A concessão tem prazo de 30 anos e prevê investimentos de cerca de 137 milhões de reais, incluindo a construção de salas de aula e um novo restaurante universitário. A pergunta é: professor, qual a sua posição sobre essa iniciativa aprovada pela UFRJ?

Vantuil Pereira: Bom, eu como decano do CFCH, eu tenho que dizer que essa proposta do equipamento cultural foi uma violência contra o nosso centro, praticada pela atual Reitoria. O nosso centro fez uma consulta à comunidade, onde nós, por ampla maioria, votamos contrários ao equipamento cultural da forma que estava sendo projetado. Não somos contra o equipamento cultural, a gente defende a existência do antigo Canecão; no entanto, na modelagem que foi apresentada ela é prejudicial à nossa instituição, ela não garante o pleno domínio nosso do espaço. O modelo de governança, ele não é vantajoso, ele impacta no meio ambiente, impacta sobre a saúde pública. Temos dois hospitais no entorno do Canecão, né? E não houve discussão com segmentos da Universidade. No que diz respeito à forma de encaminhamento da solução, por exemplo, há pouco sobre o restaurante universitário. Cito, há pouca conversa em relação ao que inclusive seria feito naquele espaço de 15.000m. Não somos contra o equipamento cultural, somos contra o modelo de encaminhamento feito pela Reitoria, que foi autoritário, desconsiderou a Escola de Educação Física que tem aquele espaço, tinha aquele espaço como seu e que, nesse momento, vai ser ocupado, vai perder um campo, o verde daquele daquela área em nome de um equipamento cultural, né? Isso não pode ser confundido com posição contrária ao Canecão.

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, candidato! Vamos falar de educação básica, e queria saber: quais as suas principais propostas para o Colégio de Aplicação? O CAP, que hoje conta com 820 estudantes nas unidades da Cidade Universitária e da Lagoa.

Vantuil Pereira: Bom, eu tenho muito carinho pelo CAP. Eu tive a satisfação de ter feito a minha posse como decano lá no CAP, no Colégio de Aplicação, e com relação à política para o CAP a gente defende que o CAP saia da situação precária que ele está. O CAP esse ano, por exemplo, a Reitoria teve que, às pressas, contratar professor substituto porque a política da PR-1 e da PR-4 foram insuficientes para resolver essa questão. Então é preciso da gente ter uma política de fato para que o CAP não fique a cada ano mendigando por professor substituto, né? É preciso ter uma política para isso. A segunda coisa é a gente estabelecer um diálogo com Brasília para contratação de professores permanentes para o CAP. Mas não só isso, é preciso a gente avançar o lugar do CAP na nossa instituição, o CAP hoje ele não tem autonomia de definir as suas bancas de progressão de concurso. Os professores não podem atuar na pós-graduação, então, é preciso enfrentar essas questões, além de dinamizar e fortalecer as políticas que estão sendo desenvolvidas no CAP, como as de inclusão. O CAP hoje é um modelo, é uma referência na nossa instituição de política de inclusão. Na nossa gestão, a gente vai valorizar o CAP como um espaço de ensino, pesquisa e extensão para o conjunto das licenciaturas, em articulação com o complexo de formação de professores. 

Victor França: Obrigado, professor! A gente agora fala sobre Museu Nacional. Hoje o projeto “Museu Nacional Vive” não tem em caixa todo o valor necessário para a reconstrução, após aquele triste domingo que incendiou o nosso Museu Nacional, em 2018. Ainda é preciso captar mais de 180 milhões de reais, de um orçamento total de 450 milhões. A previsão atual é que a obra só seja entregue em 2027. Como conseguir mais investimentos num cenário de restrição orçamentária agravado nesses últimos seis anos?

Vantuil Pereira: Bom, primeiro que o Museu já vem construindo parcerias para sanar essa questão, né? O nosso compromisso com o Museu Nacional é de apoiar essas iniciativas. O Museu tem captado, sim, dinheiro que possibilita a continuidade das obras. A gente entende que, inclusive, o Museu é um exemplo muito bom para seguir em relação ao equipamento cultural, né? A modelagem de governança dele é a modelagem que a gente vai seguir no debate em torno do equipamento cultural, que a gente vinha defendendo com o equipamento cultural. Pro Museu, e a gente entende que é o papel da nossa Universidade, acho que o Museu, ele caminhou muito de forma positiva na captação de recursos. Cabe à Universidade de apoiar essa captação, dar autonomia para o Museu fazer esse processo. A gente entende que o Museu, ele já atingiu um patamar de autonomia sobre esse aspecto que cabe à Reitoria é construir com o Museu um diálogo. Com a direção do Museu em diálogo com o corpo social do Museu, as políticas de captação de recursos não cabe a gente atrapalhar. A Reitoria não pode atrapalhar, ela tem que ajudar. A modelagem de construção da política de reconstrução do Museu é um exemplo que deveria ser seguido para o equipamento cultural. E, mais ainda, recuperar o Museu é dar para a gente também um otimismo em relação à nossa cultura.

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor! Vamos agora falar de assistência estudantil. Que ações o senhor considera necessárias nos próximos quatro anos para garantir a permanência e o sentimento de pertencimento dos estudantes da UFRJ? Agora há pouco se mencionou a questão das taxas altas de evasão, de retenção. E eu tô pensando aqui especificamente naqueles que ingressaram por meio de ações afirmativas, né, utilizam um restaurante universitário, residente estudantil.

Vantuil Pereira: Bom, primeiro que eu sou um entusiasta defensor desde sempre das cotas raciais sobre tudo, mas não só delas, para pessoas com deficiência, para pessoas travestis, trans, que precisam de ter uma política da Universidade que enfrente essa questão com relação à permanência estudantil, né? Assistência estudantil. Eu queria ampliar um pouco mais a sua pergunta, né? Precisa de ter uma política estudantil. A permanência ela pressupõe bolsas, mas pressupõe também acompanhamento psicológico, acompanhamento da saúde mental, acompanhamento através das Coas. A gente vai restabelecer a Coordenadoria dos Coas, que foi uma questão, uma coisa construída em 2010, por ocasião da aprovação das cotas sociais da Universidade. A gente vai estabelecer isso. A gente entende que a Universidade tem que ser um lugar de acolhimento permanente. Então, nesse sentido, primeiro, política integrada é com PR-1, PR-3, PR-7, conforme já tinha dito.

Segundo, uma política de acompanhamento junto aos cursos; terceiro, a ampliação de bolsas para os estudantes, bolsas que garantam então a permanência para aqueles que não precisam de alojamento. A ampliação, se possível, com a conclusão do alojamento, que está parada, com a obra inacabada, para que a gente possa ter uma política. E eu vou mais adiante, né? Precisa ter uma política também de alojamento para estudantes da pós-graduação. A nossa instituição é uma instituição que tem muita gente de fora. A gente entende que a política estudantil é muito mais ampla do que a graduação, porque as bolsas abarcam para além da graduação.

Victor França: Obrigado, professor! A gente agora fala sobre servidores. A UFRJ conta hoje com cerca de 14.000 servidores, professores e técnicos-administrativos. Durante a pandemia, a maioria ficou em trabalho remoto. No ano passado, houve o retorno às atividades presenciais, mas cresceu a discussão sobre modelos mais flexíveis, híbridos, né? Como jornada de 30 horas e semana de quatro dias. Qual sua posição frente a esse debate?

Vantuil Pereira: Bom, primeiro que esse modelo, o mais recente aprovado, que é o PGD, a gente tem orgulho de ter participado desse processo de construção junto com os trabalhadores técnicos-administrativos, né? A gente entende que os modelos que chegaram do ensino remoto precisam ser avaliados. A UFRJ não teve coragem de fazer uma avaliação precisa do que foi o PLE, né? Isso impactou na vida docente. É preciso do servidor técnico-administrativo, precisa a gente ter uma política de qualificação, retomar o PQI como um instrumento de qualificação. Nós temos o nosso corpo técnico-administrativo muito qualificado, mas a gente nota que tem um grupo muito grande considerável, o grupo que não tem é doutorado. É preciso ter uma política de qualificação, ele precisa ter uma política de saúde do trabalhador, é preciso enfrentar alguns temas fundamentais, que estão acoplados com a qualidade do trabalho aqui na nossa instituição. Então acho que esses são caminhos que a gente tem pensado. É preciso enfrentar a fila do adicional de insalubridade, que é altíssimo, né? É preciso a gente, então, ampliar a presença da nossa instituição, dando uma atenção especial, né? Aos docentes e aos técnicos-administrativos. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor! A UFRJ teve a primeira reitora em 100 anos, mas as mulheres ainda são minoria em cargos de gestão dentro das universidades como um todo, não só da UFRJ. Eu pergunto: o que o senhor pretende fazer para assegurar uma maior equidade de gênero dentro da Universidade?

Vantuil Pereira: Bom, essa questão para mim é cara, né? Eu sou defensor que é preciso a gente ter, na instituição, uma política de equidade que não pode ficar para ontem, né? É bom lembrar que na nossa instituição a maioria é de mulheres, a maioria da nossa instituição, sobretudo o corpo técnico, né? E também o corpo discente é composto por mulheres, né? Eu defendo que a gente busque uma política de equidade naquilo que cabe. Inclusive, na Reitoria, sobretudo, a Reitoria, da gente construir essa equidade. Essa vai ser uma questão que a gente vai perseguir, que a gente entende que um programa de uma gestão que redesenha a Universidade Federal do Rio de Janeiro tem que passar pela questão do simbolismo e da justiça social, né? Essa não é uma questão para a gente só de bandeira. A gente vai construir, inclusive nas nossas pró-reitorias, buscar essa equidade de gênero. E buscar equidade também nas superintendências, na estrutura, que é naquilo que a gente pode já de imediato fazer e buscar nos cargos de FG, sempre que necessário for isso. Vai ser uma, eu diria assim, até uma fixação nossa de garantir essa equidade.

Victor França: Ok, professor! Agora a gente vai falar sobre cotas, né? A lei de cotas completou sua primeira década no ano passado, e possibilitou, com certeza, que a Universidade tivesse uma cara mais compatível com a realidade étnica do nosso país. Como potencializar isso para nossa Universidade, para todos os segmentos, estudantes, professores e também os técnicos-administrativos?

Vantuil Pereira: Bom, primeiro é preciso radicalizar nas cotas, radicalizar nas ações afirmativas, especialmente as cotas. Radicalizar em que sentido? Nossa Universidade produziu uma inclusão que está incompleta, então é preciso a gente fazer uma política no nosso Conselho Universitário, no CEU, CEG, Cepg, de política, para que introduzam pessoas travestis, trans e quilombolas. A gente entende que a Universidade não pode ficar alheia a esse segmento, que são vulnerabilizados. Com relação às cotas raciais em especial, é preciso a gente radicalizar um pouco mais, né? Na gestão atual, levamos dez meses para provar uma resolução sobre cotas na pós-graduação. É preciso a gente ter um pouco mais de ousadia. A gente entende que é fundamental cotas na iniciação científica, cotas na extensão, cotas para residência estudantil, enfim, a gente tem que radicalizar isso. A Universidade não pode ficar encolhida em relação a esse tema. O país mudou, a realidade mudou, o nosso corpo social mudou, né? Eu vou um pouco além, é preciso a gente ter uma atenção aos concursos docentes, às cotas docentes para concurso. Essa Universidade tem 11% de docentes negros, isso é um escândalo. A gente entende que é fundamental uma Reitoria garantir que a política de cotas seja plena no ensino docente. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor! Caso eleito, o senhor poderia elencar suas três principais questões a serem abordados na sua gestão, as suas três prioridades.

Vantuil Pereira: Um, reposição no nosso orçamento, recomposição do nosso orçamento. Uma instituição como a UFRJ não pode é funcionar, não pode existir com um orçamento de 313 milhões de reais. Isso é impossível. Para isso, então, é preciso buscar recursos, a gente vai de forma clara buscar esses recursos. Dois, ter uma política estudantil que de fato incorpore os diversos segmentos aqui na instituição, com cotas, com bolsas, com políticas que incorporem novos segmentos, democratizando, aplicando, a política dos 30% de cargos gratificados para nossa instituição. Construindo equidade de gênero e raça nas pró-reitorias, na Reitoria de forma geral. Então isso vai ser um segundo ponto, que tem a ver com a política de qualificação para os servidores. E, terceiro, é uma política junto aos estudantes, aqui eu tô combinando estudante e técnico, porque estão no mesmo patamar. A gente defende uma horizontalidade entre os segmentos, por isso que eu tô falando esse aspecto conjunto. É preciso a gente ter uma política que a gente sinalize que a nossa instituição mudou, né? E as prioridades são essas, então o orçamento, uma política que horizontalize relações na nossa instituição.

Victor França: Obrigado, professor! A gente recebeu uma dezena de perguntas que a comunidade acadêmica gostaria de fazer aos candidatos à Reitoria e nós selecionamos a pergunta feita por Virgínia Dias, que é a seguinte: “Qual a sua proposta para a melhoria da segurança na Cidade Universitária e arredores ou acessos? Um minuto e meio.

Vantuil Pereira: Bom, acho que a pergunta de segurança, ela tem dois âmbitos, né? A questão dos prédios, de segurança patrimonial, que precisa ser cuidada, esse inclusive um dos maiores itens do nosso orçamento. É preciso a gente aumentar o número de segurança para dar garantia inclusive para as pessoas dentro dos espaços vinculados da nossa instituição. A gente vai perseguir, com a recomposição orçamentária, que isso é um item, para a gente, fundamental. A segunda é a segurança na cidade, né? Segurança com aquilo que cabe um diálogo com o governo do estado, com a prefeitura, enfim, a gente entende que é preciso manter esse diálogo, preciso manter e reforçar esse diálogo. Eu estenderia a pergunta do campus do Fundão para também da Praia Vermelha, Macaé e Caxias, definir as manchas de violência, o modelo, os tipos de violência que não são iguais aqui. A gente tem problema com sequestro-relâmpago lá na Praia Vermelha, por exemplo. Roubo no ponto de ônibus em Macaé, tem outra característica que é assalto a transeuntes, né? Então é preciso a gente também definir que tipo de diálogo a gente vai ter, de que forma que a gente vai o estabelecer com a polícia, com o comando central e com a polícia dos batalhões, né? Penso também que é preciso a gente ter uma visão integrada da nossa instituição com o conjunto do entorno, né? O que impacta na Maré impacta aqui, então é preciso a gente estabelecer um diálogo com a sociedade, para a gente buscar mecanismos que diminuam a violência na cidade, porque não adianta ter polícia em todo lugar, né? E que produza também um aspecto de segurança para o conjunto do nosso corpo social. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor! Estamos chegando ao fim da entrevista e o candidato agora tem um minuto e meio para as suas considerações finais, por favor.

Vantuil Pereira: A nossa chapa “Redesenhando a UFRJ” é a primeira chapa que apresenta dois candidatos negros na Reitoria. Ela representa a possibilidade de um diálogo fraterno dos afrodescendentes com o Brasil e com a nossa instituição. A gente traz para essa chapa o aspecto civilizatório, um diálogo franco, amplo, com todos os setores da Universidade no Brasil. Essa eleição da UFRJ, ela tem uma importância fundamental, porque, pensa você, por que passamos 100 anos e só agora uma chapa negra? Mas, mais do que isso, o que representa uma chapa negra no contexto atual? Ela representa um conjunto de demandas da sociedade brasileira, se espelhe na subida da rampa do presidente Lula. A nossa Universidade não completou esse processo, ela não é diversa nos seus espaços de poder, ela não conseguiu responder até agora um conjunto de demandas de incorporação de grupos. Falta a democracia na nossa instituição, falta um conjunto de políticas estudantis, faltam políticas para os nossos técnicos-administrativos. Enfim, a gente precisa redesenhar a Universidade a partir da perspectiva daqueles grupos que representam hoje 40% da instituição, então redesenhar a Universidade é olhar a chapa 20 como a possibilidade afrodescendente de trazer novos dias para nossa instituição. 

Victor França: Obrigado, professor Vantuil Pereira, professor do Núcleo de Estudo de Políticas Públicas em Direitos Humanos, o NEPP-DH. Muito obrigado por ter aceitado nossa entrevista e também por ter participado aqui conosco.

Vantuil Pereira: Eu que agradeço. Obrigado!

Marcelo Kischinhevsky: Foi um prazer! A cobertura completa do processo eleitoral você acompanha no site conexao.ufrj.br e também na Rádio UFRJ: radio.ufrj.br. Agradecemos a audiência! Esperamos que a comunidade acadêmica tenha subsídios para fazer a melhor escolha para o futuro da Universidade. Não deixe que outras pessoas escolham por você. Participe, vote entre os dias 25 e 27 de abril.