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Centro de Ciências da Saúde da UFRJ recebe último debate entre candidatos a reitor

Cerca de 50 pessoas acompanharam o evento no Quinhentão

No início da noite dessa quarta-feira, 19/4, os candidatos à Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro reuniram-se no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), na Cidade Universitária, para mais um debate eleitoral, o último antes do pleito. Por pouco mais de duas horas, as duas chapas debateram temas importantes para a Universidade e fizeram considerações sobre seus planos de governo. 

O debate, mediado por Eduardo Mach, presidente da Comissão Coordenadora da Pesquisa (CCP), foi dividido em quatro blocos. No primeiro, as chapas tiveram dez minutos para apresentar suas propostas de trabalho. Após sorteio, a chapa 10 iniciou o debate com seu candidato, o professor Roberto Medronho. 

“É muito importante que nós tenhamos a necessária visão de como é a nossa democracia, a importância de fortalecimento da gestão democrática com que a chapa 10 está comprometida. Todas as decisões aprovadas no Conselho, eu vou repetir, todas as decisões aprovadas no Conselho, serão respeitadas pela nossa chapa (…). Tivemos um momento muito dramático na nossa sociedade, de clima de ódio, de fake news, muitas, e que ajudou a gerar todo um ambiente que hoje substancia a agressão nas escolas, a transfobia, o racismo, todas as formas de discriminação, especialmente da população negra. Nós, da chapa 10, nascemos dessa crítica. Nós passamos o processo democrático, avançamos no processo democrático, e nós não podemos perder o momento histórico que estamos vivendo, em que temos um governo voltado à ciência, não negacionista, a favor das vacinas. E a UFRJ tem que estar, e nós estamos, com muito orgulho já, nos ocupando de procurar todos os segmentos da sociedade, repito, todos os segmentos da sociedade, porque achamos que isso não fere a autonomia universitária; ao contrário, a UFRJ tem que estar ligada com os movimentos sociais, com os parlamentares, com todas as entidades, com todos os gestores, com o governo federal, estadual e municipal. Porque nós não somos uma ilha, nem estamos propondo ter soberania. Reivindicamos a autonomia, mas somos e devemos estar ao lado e junto, dialogando com a nossa sociedade.” 

Em seguida, Cássia Turci, candidata a vice na chapa 10, complementou: “A chapa 10 entende que é necessário unir forças e buscar soluções para os problemas apontados pelos nossos estudantes, técnicos-administrativos em Educação, docentes e funcionários terceirizados, um segmento tão importante para todos nós. Acolhimento e pertencimento são palavras-chave que devem estar presentes em nosso dia a dia, na busca de uma Universidade mais plena, plural e equânime. Conclamamos a comunidade a ler o nosso programa, opinar, ler os documentos da nossa chapa e ter cuidado com as fake news e calúnias”. 

Roberto Medronho e Cássia Turci são candidatos da chapa 10 | Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

O professor Vantuil Pereira, candidato pela chapa 20, aproveitando o dia especial, iniciou sua apresentação ao público presente: “Queria lembrar que hoje é uma data especial. Hoje é o Dia dos Povos Indígenas. Todo dia é dia de índio, mas hoje é um dia especial em memória da luta daqueles que resistiram bravamente no nosso país ao massacre, ao genocídio cometido ao longo de 500 anos. A lembrança dos povos indígenas… ela nos traz o desafio de pensar um momento político e a necessidade de a gente pensar um novo paradigma para nossa instituição. Por isso, é preciso apontar a necessária  mudança de rumos aqui na UFRJ. E por isso nós somos oposição à atual gestão da Reitoria”. 

Segundo Vantuil, a chapa 20 entende que é preciso mudar o atual quadro na UFRJ. “É preciso mudar de forma clara a nossa instituição, radicalizando a nossa democracia interna. É preciso a gente primeiro apontar novos instrumentos de participação política, com consultas à comunidade, consolidando a nossa Constituição Federal de 88, com consultas, referendos que possam decidir os grandes temas da nossa instituição. Entendemos que é fundamental a inserção plena de Macaé e Duque de Caxias nas estruturas da nossa administração. É preciso incluir novos grupos, grupos vulneráveis, no processo político e institucional, como pessoas travestis, trans e quilombolas. A gente entende que é fundamental uma política clara de valorização dos técnicos-administrativos, com capacitação, com política de saúde, com política que possibilite se formar, ter o doutorado, mestrado. A gente entende que é fundamental ter políticas estudantis plenas, com bolsas, saúde mental, acompanhamento e enfrentamento à evasão e retenção. Também entendemos que é fundamental ter uma política clara que indique a não entrega do nosso patrimônio público à iniciativa privada.”

“A nossa chapa tem como eixos móveis a democracia, a autonomia e a diversidade, e de modo indissociável esses eixos norteiam os princípios e critérios que definem o nosso programa de gestão para os próximos quatro anos”, disse Katya Gualter, candidata a vice do professor Vantuil. E continuou: “Sabemos que nos últimos dez anos, com as ações afirmativas, nós temos uma Universidade mais preta, mais indígena, mais trans, mais homo, mais bi; ou seja, habitada, coabitada com corpos diversos. Mas precisamos reafirmar essas ações como uma política, e também ampliar as políticas de permanência”.

Vantuil Pereira e Katya Gualter, candidatos da chapa 20 | Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

No segundo bloco do debate, foram sorteadas quatro temáticas importantes para a instituição: Políticas de Planejamento, Financiamento e Orçamento; Políticas Voltadas para o Ensino a Distância e Novas Tecnologias de Ensino; Políticas Voltadas para o Campus Duque de Caxias Professor Geraldo Cidade, Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé e Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade Nupem/UFRJ; e Políticas de Ensino de Graduação.

Já no terceiro bloco, os candidatos responderam a seis perguntas sorteadas, escritas por docentes, estudantes e técnicos-administrativos. No quarto e último bloco, os candidatos trocaram perguntas entre si. Gualter começou indagando por que a chapa 10 votou favoravelmente à decisão do Consuni referente à progressão e promoção docente. Medronho questionou qual será a estratégia da gestão da chapa 20 para o CCS e como isso pode impactar na descoberta de novos insumos biológicos que são estratégicos para o país.

Em suas considerações finais, ambas as chapas reforçaram os compromissos de governo. “Compartilho que a nossa proposta de programa para os próximos quatro anos centraliza todas as pautas prioritárias da nossa Universidade Federal do Rio de Janeiro, trazendo também para o centro, para o foco da nossa atenção e do nosso investimento, as pautas que historicamente permaneceram à margem e muitas vezes ignoradas nas práticas de gestão das nossas reitorias. Mas que agora, no nosso programa, passam a ocupar o lugar do centro conjuntamente com todas as demais pautas prioritárias da nossa UFRJ, no mesmo grau de importância”, destacou Gualter.

Vantuil Pereira também concluiu: “Ao longo desses seis debates nós tivemos oportunidade de apresentar um conjunto de propostas, um diálogo aberto e solidário dos afrodescendentes com a comunidade da UFRJ. Pela primeira vez temos uma chapa preta na Universidade; pela primeira vez tivemos a coragem de apresentar uma chapa e vamos mudar a nossa instituição. Essa construção é coletiva, é uma construção que nasceu do seio coletivo de estudantes, técnicos e docentes. (…) A gente não está construindo uma universidade horizontalizada. O nosso diálogo é um diálogo solidário, um diálogo que propõe o aspecto civilizatório. Não vai haver transformação na Universidade Federal do Rio de Janeiro se a gente não reconhecer que nos últimos dez anos houve um conjunto de transformações. O diálogo com o tempo presente é aquilo que se requer de um reitor. Um reitor que tem a capacidade de responder a esse tempo presente e, mais, olhar o futuro; o futuro que a gente está almejando é um futuro de Universidade que dialogue com conhecimento, com conhecimento tradicional, com os povos originários, com as populações tradicionais, com negros, mulheres, travestis, quilombolas, doutores, não doutores, analfabetos, enfim, esse é o diálogo da Universidade do tempo presente. Nos colocamos como chapa 20 com a capacidade de mudar essa Universidade e como reitor que vai ter coragem de iniciar uma transformação estrutural aqui. Esse é o início da história, ela já começou”. 

Cássia Turci fez questão de lembrar que para que tudo aconteça bem é preciso interação.  “Gostaria de colocar que nós ainda nos conhecemos muito pouco. Nós precisamos interagir mais: todas as pessoas dos diferentes centros da UFRJ, dos sete centros, do Nupem em Macaé, também do campus Duque de Caxias. E é lógico que essa interação vai ficar cada vez mais importante à medida que nós nos conhecermos, porque a nossa Universidade tem uma capacidade imensa. Ela é diversa. Temos assuntos importantíssimos para tratar, nós temos aqui a competência para resolver diferentes problemas na UFRJ. Aceitar esse desafio juntamente com o professor Medronho, de dirigir essa Universidade, não é fácil, mas a capacidade, o aprendizado que eu tive ao longo da minha vida acadêmica, não apenas aqui, mas em outros estados do Brasil, trabalhando na gestão acadêmica, isso me dá segurança para enfrentar os diferentes desafios que nós podemos ter aqui ao longo dessa caminhada. Problemas como acessibilidade, insalubridade são questões que nós temos competência para resolver.”

Para Medronho, vive-se um momento muito peculiar na Universidade, que é o exercício da democracia,  da cidadania. Segundo o professor, é necessário, dentro de uma instituição educacional, ter muito clara a importância da democracia, do respeito ao contraditório, da escuta a posições divergentes: “… Porque isso é que vai fazer com que nós cresçamos enquanto seres humanos e enquanto universidade pública gratuita”. 

Medronho também pediu para que todos prestassem mais atenção nas fake news: “Preste atenção na desinformação; isso não cabe no regime democrático. Não temos o direito de o que ocorreu lá fora trazer aqui para dentro, porque vai acabar a eleição e vamos voltar para os nossos fazeres do dia a dia, convivendo ao lado dos colegas, mesmo tendo divergências. Agora, uma coisa que eu faço questão de ressaltar: nós estamos oferecendo à UFRJ o que temos de mais valioso, que é a nossa vivência, a nossa experiência, a nossa capacidade de gestão, o nosso conhecimento profundo da UFRJ e toda a sua diversidade e complexidade. Nós precisamos, na hora de escolher, escolher aqueles que podem, antes e acima de tudo, levar essa Universidade a bom termo. Estamos em um momento histórico. Nós temos hoje um governo que presa a ciência, que é contra o negacionismo contra as vacinas. Nós não podemos nos perder em divisões internas, não podemos nos perder. Nós não podemos depender dos arroubos de A, B ou C contra o governo que aí está porque foi eleito democraticamente, e com muito custo. Nós temos que ter diálogo com esse governo. Nós iremos a Brasília reivindicar o que é nosso. Já estamos conversando com todos, sim, e continuaremos conversando mesmo que percamos essa eleição. Eu oferecerei a ajuda que eu posso dar à chapa adversária para que possamos levar a nossa Universidade pública, gratuita, de qualidade, inclusiva e socialmente referenciada.”

Público acompanhou atento o debate no Quinhentão | Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

As eleições para reitor da UFRJ acontecerão entre os dias 25 e 27 de abril. Acompanhe o especial Eleições UFRJ 2023 e fique por dentro do processo de sucessão da Reitoria da maior universidade federal do país.  As chapas que concorrem ao próximo mandato de quatro anos da Reitoria são:

  • Chapa 10 — UFRJ para Todos: Autonomia, Inclusão e Inovação, com Roberto Medronho como candidato a reitor e Cássia Turci como vice.
  • Chapa 20 — Redesenhando a UFRJ: Democracia, Autonomia e Diversidade,  com Vantuil Pereira como candidato a reitor e Katya Gualter como vice.

Você pode encontrar o programa de gestão de cada chapa aqui. 

O evento de quarta está disponível na íntegra no canal oficial da UFRJ no YouTube. Assista:

*Sob supervisão do jornalista Victor França.