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Pelo Campus

Museu Nacional celebra o Bicentenário da Independência

Exposições, apresentações artísticas e atividades educativas são um convite para conhecer a fachada restaurada do Paço de São Cristóvão

Os cariocas já podem, a partir deste sábado (3/9), apreciar de perto os detalhes da recuperação da fachada do Paço Imperial da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, que abrigava até 2018 um dos maiores acervos mundiais de história natural, consumido em poucas horas pelo fogo. É o fim da primeira etapa de obras de recuperação do Museu Nacional (MN), instituição pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desde o fim da Monarquia, quando se tornou uma referência da ciência brasileira.

No prédio que abrigou a família imperial brasileira, a imperatriz Leopoldina, aconselhada por José Bonifácio de Andrada e Silva, reuniu o Conselho dos Ministros e, como chefe interina do Brasil, assinou o Decreto de Independência do país, no dia 2 de setembro de 1922. Mais tarde ratificado pelo imperador Pedro I, que de São Paulo deu o grito de Independência.  A entrega da fachada do Museu Nacional na mesma data tem enorme simbolismo no Bicentenário da Independência. Mas não é só a parte externa da estrutura que está sendo entregue ao público. O Jardim Terraço, que ocupa a entrada da construção, está revitalizado. O local abrigará exposições, apresentações artísticas e atividades educativas para celebrar o ressurgimento do espaço cultural.

É no Jardim Terraço que estarão em exposição oito estátuas em mármore carrara de figuras mitológicas greco-romanas, que adornavam o alto do prédio principal. Pela primeira vez na história do Museu, o público pode admirar de perto as obras, que passaram por um minucioso processo de restauração. As esculturas foram atingidas pelas chamas durante horas e depois sofreram com o choque térmico da água utilizada pelo Corpo de Bombeiros para controlar as labaredas. As contrações e dilatações sofridas comprometeram o material e, das 30 peças originais, apenas 25 puderam ser recuperadas.

De acordo com Wallace Caldas, gerente de restauro do Museu Nacional, a equipe do Patrimônio Histórico achou prudente que essas esculturas ficassem guardadas no Museu pensando numa museografia futura. “Ultrassom foi utilizado para detectar os pontos mais frágeis das esculturas. Cinco não puderam ser recuperadas, devido ao alto grau de fragilidade. A decisão foi reproduzir por meio digital, com um escaneamento 3D, feito por uma equipe espanhola especializada nesse tipo de trabalho de resgate. Além das cinco, aproveitamos e remodelamos logo as 30, para uso futuro pela equipe do Museu e até mesmo fazer souvenirs”, explicou Caldas.

Agora, no topo do Museu Nacional, existem 30 réplicas de argamassa de cal com pó de pedra, que restituem a característica neoclássica da edificação. O conjunto escultórico é formado por peças que pesam entre 200 e 300 quilos cada uma. E no Jardim Terraço estão as estátuas de Cibele, Ceres, Hígia, Belerofonte, Orfeu, Luma (ou Selene, para os gregos), Ninfa e Mercúrio (ou Hermes), que podem ser admiradas até o dia 2/11, diariamente das 9 às 18 horas.

Totem informativo com a posição ocupada originalmente no topo do Museu Nacional pelas estátuas restauradas | Foto: Moisés Pimentel (SGCOM)

Polo Minerais

Uma exposição de exemplares de minerais também ocupará o hall de entrada do Palácio (sala do meteorito Bendegó). Será a primeira vez, após o incêndio de 2018, que o público poderá se aproximar do prédio e observar – de suas portas centrais – um conjunto com 17 peças de pequeno e grande portes – algumas delas resgatadas e novos itens recentemente adquiridos com patrocínio da Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

Para o professor Fabiano Faulstich, que trabalha no MN, a exposição cumpre dois papeis essenciais: apresenta minerais que a sociedade brasileira doou para recompor o acervo da instituição e resgata a história do Museu e sua relação com a mineralogia. “Entre os minerais, destacam-se dois, o talco e a goethita, que integravam a Coleção Werner, uma das primeiras a compor todo o acervo do Museu”, disse ele.

Cobiçada por Napoleão, que teria dado ordens para confiscá-la quando seus soldados invadissem Portugal, a Coleção Werner tornou-se no Brasil o primeiro conjunto científico a integrar o acervo do Museu Nacional. A coleção, entre outros bens, veio com a Família Real Portuguesa para o Brasil e era composta de um precioso conjunto de minerais raros. Organizada e classificada no século 18 pelo renomado geólogo e mineralogista alemão Abraham Gottlob Werner (1749-1817), a coleção era composta por pedras originárias de várias partes do planeta, incluindo minas europeias atualmente esgotadas ou fechadas.

Outra curiosidade da exposição é a existência de um quartzo que, antes do incêndio, era um exemplar de cor marrom (fumê). O calor do fogo transformou-o em incolor.  O público também pode conhecer uma calcedônia. As amostras desse mineral, uma variação criptocristalina do quartzo, também resistiram ao incêndio, mas perderam sua cor original, tornando-se brancas e opacas. Entre os acervos recentemente incorporados à coleção, destacam-se dois geodos de ametista com 2,5m de altura, pesando em torno de 500kg cada um, além de uma peça composta por duas chapas de ágata com ametista. A exposição acontece até o dia 6/12, podendo ser vista de terça a domingo, entre 9 e 17 horas.

Polos memória, educativo e cultural

Em uma das alamedas laterais do Jardim Terraço, painéis foram instalados para recontar um pouco da história do Museu Nacional e do resgate do acervo coberto pelas cinzas por servidores públicos da instituição. O espaço foi batizado de Polo Memória e expõe fotografias e histórias na exposição a céu aberto. Destacam-se os momentos marcantes na história da instituição, a relação do público com os acervos, a pujança das atividades científicas e o processo de reconstrução do Museu após o incêndio de 2018. O local pode ser visitado todos os dias até 26/2/23.

A partir do feriado da Independência (7/9), a Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional/UFRJ vai promover um conjunto de atividades educativas, como oficinas e exposições de acervos didático-científicos, no entorno do Jardim Terraço. Sempre aos domingos, das 10 às 16h, o conjunto de educadores do Museu estará disponível para mediar visitas às três exposições temporárias. A comunidade escolar e demais interessados em visitas guiadas podem entrar em contato pelo e-mail nap@mn.ufrj.br. As visitas agendadas ocorrem de terça a sexta-feira, em três horários: 9h, 10h e 14h.

Na programação do #MuseuNacionalVive no Bicentenário estão previstas ainda apresentações artísticas com música, teatro, dança e até shows circenses. No sábado (10/9), a partir das 11 horas, é a Orquestra Sinfônica Brasileira que se apresenta. O Quarteto de Sopros formado por Alexis Ângulo (flauta), Jorge Postel (oboé), Marcio Costa (clarineta) e Felipe Destéfano (fagote) vai interpretar um programa composto por uma seleção de choros brasileiros, com arranjo de Jessé Sadoc, e Quatuor, de Heitor Villa-Lobos. Ainda no mesmo dia, a partir das 13h, é a vez da companhia de Ballet Dalal Achcar. Serão 20 bailarinos performando seis coreografias clássicas e modernas, ao som de reconhecidas composições brasileiras de Vinícius de Moraes, Baden Powell, Milton Nascimento, Fernando Brant, Jacob do Bandolim, Naná Vasconcelos, entre outros grandes nomes da nossa música. O Unicirco Marcos Frota vai se apresentar às 15h, em espetáculo especial, com números circenses que podem ser executados a céu aberto.

Já no domingo (11/9), às 11h, haverá apresentação do Teatro Musical do Grupo Sarau. Na parte da tarde, a partir das 16h, o show fica por conta da Nova Orquestra, criada em 2019 como a primeira orquestra pop do Brasil. Subirão ao palco, na Quinta da Boa Vista, 25 músicos, que, sob a regência do maestro Anderson Alves, vão executar canções como Beija-Flor (Timbalada), Xote das Meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), O Descobridor dos Sete Mares (Tim Maia), Brasil (Cazuza), Aquele Abraço (Gilberto Gil), entre outros grandes sucessos da música brasileira.