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Rolé UFRJ #7: Escola de Música

Prédio histórico é dedicado à formação e popularização da cultura musical no país

Ao entrar no prédio localizado na esquina da Rua do Passeio com a Avenida República do Paraguai, é praticamente impossível não se encantar com as notas musicais que saem das salas de aula. Violino, flauta, harpa, piano, percussão e muitos outros instrumentos se unem a vozes e composições poderosas regidas nos corredores históricos da Escola de Música (EM) da UFRJ.

A unidade foi criada em 1848, ainda no período imperial. Sob a alcunha de Conservatório de Música, era localizada no prédio do Museu Imperial – hoje Museu da Casa da Moeda do Brasil – e, posteriormente, no atual Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. Em 1890, após a Proclamação da República, tornou-se o Instituto Nacional de Música, juntando-se à UFRJ com sua denominação corrente em 1920.

Hoje, o pavilhão principal da Escola de Música da UFRJ é um dos principais prédios históricos do Centro do Rio de Janeiro, fazendo parte do corredor cultural da região junto ao Theatro Municipal e à Sala Cecília Meireles, entre outros. Com um estilo predominantemente eclético, com forte influência da arquitetura italiana e neoclássica, o edifício inspirou muitas outras construções durante os séculos XIX e XX.

“Vivendo avanços e retrocessos na política do país e com uma localização invejável, no corredor cultural da cidade, a ‘Musa do Passeio’ viu, de suas varandas, mais de um século de história e, em seus corredores, mais de 173 anos da formação musical brasileira”, declara Eliane Magalhães, técnica em assuntos educacionais da unidade.

Paulo Bellinha, arquiteto do Escritório Técnico da Universidade (ETU), explica que o prédio, antes mesmo de sediar a Escola de Música, já era um símbolo da arquitetura. Uma reforma realizada em 1858 promoveu mudanças necessárias a fim de adequar o espaço para receber o então Instituto Nacional de Música. Entre elas, está a construção do pavilhão de aulas, localizado na parte de trás do terreno; a renovação da fachada, que incluiu uma colunata em estuque; e a construção do Salão Leopoldo Miguez – três dos principais destaques arquitetônicos do conjunto da Escola de Música. Desde 1994, junto à Rua do Passeio, a edificação foi tombada pela Secretaria de Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro (Sedrephac) por sua importância arquitetônica, histórica e cultural.

“O pavilhão principal, que tinha sua fachada neoclássica idêntica à do edifício Automóvel Club, situado ao lado, passou por obras entre 1918 e 1922 para abrigar a sala de concertos e receber a imponente fachada em estilo italiano de Cipriano Lemos, acrescentando mais um pavimento. Já o prédio dos fundos foi construído para abrigar o conservatório e tem um dos primeiros elevadores da América Latina”, conta.

O Salão Leopoldo Miguez, dedicado a óperas e a tantos outros espetáculos da EM, foi inspirado na Salle Gauve de Paris, espaço criado por um notório fabricante de pianos que expunha seus modelos no salão térreo e realizava concertos no piso superior. Bellinha destaca a decoração interna do espaço, com afrescos de Antônio Parreiras e Carlos Oswald. A acústica do salão é considerada uma das melhores do país, sendo frequentemente utilizado por inúmeros artistas, conjuntos e orquestras para gravações. Ali também são realizados diversos eventos, entre concertos de câmara, sinfônicos e óperas, além de uma série de atividades como aulas, ensaios, palestras e formaturas.

A joia que coroa o espaço é o órgão de tubos Tamburini, instalado em 1954 e considerado, até hoje, o maior órgão da América do Sul. Construído pela Fabbrica D’Organi Comm. Giovani Tamburini, em Crema, na Itália, e encomendado por Joanídia Sodré, então diretora da EM e um dos maiores nomes que passaram pela escola, o instrumento conta com 4.620 tubos, quatro manuais, pedaleira e 52 registros reais. Desde sua chegada, inúmeros recitais foram realizados por grandes organistas internacionais, como Fernando Germani, Karl Richter (1926-1981) e Pierre Cocherreau (1924-1984), e nacionais, como Antônio Silva (1908-1960), Gertrud Mersiovsky, Dorotéa Kerr e José Luis Aquino, entre outros.

Em 1982, na parede externa voltada para o Largo da Lapa, foi pintado o painel Paisagem Urbana, de Ivan Freitas, que reproduz uma paisagem natural e o prolongamento do prédio. A obra também é tombada pela Sedrephac e aguarda restauração.

História em manutenção

Maurício Castilho, coordenador de Preservação de Imóveis Tombados (Coprit/ETU), esclarece que a UFRJ vem realizando intervenções importantes nos dois pavilhões históricos da EM, como a renovação da parte elétrica do Salão Leopoldo Miguez, do foyer, das áreas administrativas e de algumas salas de aula – iniciativas que conferem maior segurança para o funcionamento da instituição.

O pavilhão de aulas teve seu telhado completamente restaurado, assim como suas fachadas e a escadaria de ferro fundido. As esquadrias, por sua vez, ainda aguardam a liberação de orçamento para que possam ser renovadas. O arquiteto também informa  que uma nova licitação para reforma dos elevadores do pavilhão principal deve ser realizada em breve. A tentativa anterior foi considerada fracassada, dada a diferença entre os preços dos índices do governo e os preços do mercado, principalmente nas áreas de aço, cobre e eletroeletrônicos.

O ETU finalizou os orçamentos para a restauração do terceiro e quarto andares do pavilhão principal e deve enviar o processo para a contratação. Porém, por questões orçamentárias, será realizada uma parceria com a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec) para a captação de recursos necessários à referida intervenção.

“O curso de Restauro, da Escola de Belas Artes, tem nos auxiliado e está iniciando um trabalho de avaliação dos bens integrados desse patrimônio para indicar melhores práticas para a conservação das edificações”, conclui.

Parte da história da música no país

A EM sempre esteve ligada diretamente à história do ensino musical no país. Em 1985, por exemplo, criou o primeiro programa de pós-graduação de música no Brasil, tornando a instituição ainda mais relevante para a pesquisa na área. Em 1924, foi criada a primeira orquestra do Rio de Janeiro, atualmente conhecida como Orquestra Sinfônica da UFRJ, que visa, principalmente, proporcionar um espaço de formação de excelência no país.

Músicos e regentes aclamados pela crítica compuseram a comunidade acadêmica da EM, tanto como alunos quanto como servidores, a exemplo de Henrique Alves de Mesquita, Zaíra de Oliveira, Anacleto de Medeiros, Francisco Braga, Leopoldo Miguez e Henrique Morelenbaum.

“Pixinguinha e Tom Jobim também passaram brevemente pelas salas da Escola de Música. Já José de Lima Siqueira foi professor na instituição e teve um importante papel na profissionalização de músicos no Brasil, mas foi afastado após o Ato Institucional nº5 (AI-5), durante a ditadura civil-militar”, lembrou Magalhães.

A Biblioteca Alberto Nepomuceno, batizada em homenagem ao professor e diretor da EM, também guarda  em seu acervo relíquias da história musical do país, como manuscritos, partituras, livros, registros fonográficos e documentos únicos. Entre elas, a coleção The New Grove Dictionary of Music and Musicians, uma importante enciclopédia histórica publicada no século XIX.

A EM não é apenas testemunha da trajetória musical do Brasil, mas também guarda importante ligação com a história do país. Um exemplo é a criação do Hino Nacional Brasileiro, cujo autor, Francisco Manuel da Silva, foi um dos fundadores e presidentes do Conservatório. A partitura encontra-se, hoje, sob guarda da Universidade, junto dos originais de outros três hinos mais importantes do país: o da Independência, o da Bandeira e o da Proclamação da República. O último é de autoria de Medeiros de Albuquerque e Leopoldo Miguez. Atualmente, esses documentos históricos foram enviados para Minas Gerais onde, junto a outras importantes partituras, marcarão as comemorações do bicentenário da independência do Brasil.

Comunidade musical

A história da Escola de Música se confunde com a de centenas de pessoas que visitam o prédio para viver e multiplicar a arte. Um dos exemplos é o Quinteto Lorenzo Fernandez, originado nas salas de aula da instituição. Formado atualmente pelos estudantes da UFRJ Rômulo Barbosa, Cesar Bonan, Jeferson Souza e Alessandro Jeremias, e por Juliana Bravim, aluna da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o grupo nasceu do projeto de extensão Quinteto Experimental de Sopros.

Alessandro Jeremias, aluno do curso de Trompa, explica que a EM tem um papel fundamental para o grupo, por ser um espaço aberto para ensaios e apresentações, além de estimular parcerias que fortalecem os laços na comunidade, como a colaboração com as disciplinas de composição que resultaram em mais de 20 peças para quintetos de sopro desde 2014. O trompista afirma também que estar em um ambiente que fez – e faz – parte da história musical do país é uma grande inspiração para seguir desempenhando a atividade.

“A prática de música de câmara é fundamental na formação de um instrumentista por conta da possibilidade de se trabalhar os mínimos detalhes sonoros e musicais. Os ensaios e apresentações são nosso estilo de vida. Entregamos nossa existência a essa arte e seguir desempenhando esse papel é um privilégio e uma honra”, defende.

Suelen Dias, bibliotecária da UFRJ há 12 anos, também se inspira na história da Escola e de seus personagens – do passado e do presente. Para a servidora, viver o dia a dia na instituição faz com que valorizemos ainda mais a arte e a história da música brasileira, sempre cumprindo a função social da Universidade de promover a cultura e a ciência. Nesse sentido, entre as ações mais importantes de extensão realizadas pela EM, estão as apresentações abertas ao público, que permitem maior aproximação com obras e estilos considerados, muitas vezes, elitistas. O Coral Infantil da UFRJ, por exemplo, é considerado um dos mais importantes do país, promovendo a musicalização de crianças de 7 a 15 anos. Criado há mais de 30 anos pela maestrina Maria José Chevitarese, o coral já realizou centenas de apresentações em todo o país.

Um dos concertos mais recentes da Escola de Música, em parceria com a Escola de Comunicação e a Escola de Belas Artes, foi a ópera O Engenheiro, composta por Tim Rescala e apresentada em sessões no Salão Leopoldo Miguez, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Centro de Tecnologia da UFRJ, além das cidades de Teresópolis e Juiz de Fora. O salão também recebe rotineiramente apresentações das orquestras e projetos da Universidade, sempre de forma gratuita.

“Fico muito feliz em fazer parte da instituição e ver nossa história e atividades ultrapassarem as portas da UFRJ”, comemora Dias.

Como chegar

A Escola de Música da UFRJ fica na esquina da Rua do Passeio com a Avenida República do Paraguai, no Centro do Rio de Janeiro. É possível chegar até lá de metrô, descendo na estação Cinelândia ou de ônibus. Há ainda estacionamentos particulares no entorno.

Saiba como se localizar no entorno da Escola de Música | Imagem: Heloísa Bérenger (SGCOM/UFRJ)

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