Ao longo do último mês, a comunidade científica e os apaixonados pelas estrelas se uniram para acompanhar uma série de imagens que prometem revolucionar a compreensão sobre o universo. Em 12/7, a parceria formada pela Nasa, Agência Espacial Europeia e Agência Espacial Canadense divulgou as primeiras fotografias tiradas pelo telescópio James Webb (JWST) e arrancou suspiros ao redor do mundo. Mas como as imagens e dados colhidos pelo instrumento poderão influenciar os rumos da Astronomia?
Lançado no final de 2021 após décadas de planejamento, o James Webb é o maior telescópio já lançado no espaço, com um espelho primário de 6,5 metros de diâmetro composto por 18 segmentos hexagonais. Segundo Wagner Marcolino, professor do Observatório do Valongo, o tamanho é um fator muito importante neste caso. A título de comparação, o telescópio Hubble, predecessor do JWST e responsável por boa parte do que se conhece hoje do universo, tem um espelho com apenas 2,4 metros de diâmetro.
Outra característica do James Webb que o torna tão revolucionário é a região do espectro da luz com o qual o equipamento opera: o infravermelho. Essa área do espectro é imperceptível aos olhos humanos, mas possibilitando que aparelhos específicos possam analisar de maneira mais ampla as imagens do universo.
Assim, o JWST possui uma série de instrumentos científicos de ponta, como espectrógrafos e imageadores, capazes de ler o infravermelho e sintetizá-lo em uma imagem mais exata do entorno. O Hubble também observa nessa banda do espectro, mas foi otimizado para trabalhar apenas com a luz visível. Com as ferramentas ultrassensíveis, o James Webb vai tentar encontrar as primeiras estrelas e galáxias, formadas quando o Universo tinha apenas algumas centenas de milhões de anos. Esses dados fornecerão pistas fundamentais sobre como as galáxias se formam e evoluem.
“Sabemos que o Universo se expande, desde o Big Bang. Essa expansão faz com que a luz de objetos distantes seja avermelhada (redshift, em inglês), um efeito conhecido da Física. Quanto mais distante um objeto está, maior a sua velocidade de recessão devido à expansão do Universo e mais avermelhada é a sua luz. O JWST foi configurado para observar uma faixa no infravermelho que corresponde a esses objetos muito distantes, à época das primeiras estrelas e galáxias”, explica Marcolino.
O telescópio também vai investigar os exoplanetas, planetas fora do nosso sistema solar. Atualmente são conhecidos mais de 5 mil astros desse tipo, que poderão ter suas atmosferas estudadas diretamente pela primeira vez. As moléculas presentes na atmosfera possuem muitas transições no infravermelho, permitindo a identificação pelo James Webb e a posterior detecção de sua composição química.
De acordo com o pesquisador, outra possibilidade muito aguardada pela comunidade astronômica é a observação de regiões de formação estelar, com sistemas planetários em formação. Nesses ambientes, existe muito gás e poeira, que acabam bloqueando a luz visível. No entanto, a luz infravermelha atravessa essas “nuvens” e pode ser detectada pelo telescópio.
“Será possível detectar diretamente sistemas planetários em formação, utilizando imagens e espectroscopia. Por exemplo, poderemos tentar detectar moléculas orgânicas nessas regiões, que são importantes para a formação da vida”, comemora.
O Observatório do Valongo possui em seu corpo social docentes e discentes que estudam Astroquímica e Astrobiologia, áreas que poderão ter grande impacto com as descobertas do JWST. Marcolino conta que os estudos avançarão em questões que vêm sendo muito aguardadas pelos cientistas, como a relação entre a composição química das atmosferas e sua ligação com o surgimento da vida no Universo.
Além disso, mediante a aprovação de projetos de pesquisa, os pesquisadores poderão ter acesso à observação do James Webb e trabalhar em parceria com outras instituições, como aconteceu anteriormente com o Hubble.
Acompanhe o telescópio James Webb e suas descobertas no site do projeto. Saiba mais sobre o trabalho do Observatório do Valongo no Instagram do órgão.