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Conexão Literária

Conexão Literária #4: Do que você é feita?

A estudante de Letras Mariana Nunes transforma dor em poesia na quarta edição da coluna

Achei por muito tempo que era feita de dor
A vida nos machuca tanto que não enxergamos nada além de sofrimento…
Mas falar de dor é fácil, difícil mesmo é falar de amor

Falar de amor requer coragem!

Falar de amor é admitir a mentira da independência, é ser vulnerável

Pra falar de amor é necessário se assumir de carne e osso…

Eu, mulher, preta e periférica, falando de amor
Parece besteira, né, mas não é!
Fui feita pra isso!

Me ocorreu de essa vida me tirar a
dignidade a ponto de só enxergar a dor, e fazer dela meu troféu… minha única prova de vida

Ela me fez sentir gravado na minha alma:
“Sofro, logo existo”

Sim, é fácil falar de dor porque ela nos toma tudo, nos leva tão fundo que tudo na superfície se torna utopia…

E sobreviver nos toma tanto tempo que nos resta pouco pra viver, mas eu quero mais!

Quero ver o sol!

Quero poder encher meus pulmões de ar e respirar até o limite… sentir o diafragma tremer e então soltar o ar

Quero sentir a vida entrando pelas minhas narinas
Quero sentir meu sangue vermelho e quente correndo pelas minhas veias
Quero fazer absolutamente qualquer coisa!

Quero vestir a minha pele e desfilá-la
Quero ser humana, e ponto
Sem mas, ser passível ao erro e principalmente à Felicidade plena, e quero amar

Não quero me preocupar com o que pensam de mim, e se os meus voltarão pra casa ou se pertenço a um lugar ou não

Quero pertencer somente a mim e a quem eu amo, e ao que eu quiser

Quero gritar aos quatro cantos que não sou nem nunca fui o que fizeram de mim!

Quero exercer minha existência com êxito e orgulho, e quero amar!

Quero amar
E quero me deixar ser amada
Quero me desnudar de tudo que idealizo sobre mim e expor a parte mole da minha carne livre de carapaças e máscaras

Quero poder andar de peito aberto pro mundo e pra tudo que vier…

Quero amar e quero ser amada!

Quero sentir que o mundo foi feito pra mim
E quero amar
Quero amar até sentir que posso morrer
Quero multiplicar meu amor em mil, dividi-lo e remultiplicá-lo num ciclo sem fim

Quero gritar o meu amor
Quero falar o que eu quiser até não precisar mais falar nada
E quero amar
Quero me deixar ser amada

Quero amar até sentir que posso morrer
Quero multiplicar meu amor em mil, dividi-lo e remultiplicá-lo num ciclo sem fim

E enfim quero realocar o Amor de volta pro centro da minha vida, e quero amar
Pois é pra isso que fui feita!

Mariana Nunes
É poeta, professora, amante de cachorros e estudante de Letras na UFRJ. Ama arte em todas as suas formas, mas a poesia a escolheu. Ela então encontrou na escrita uma forma de redescobrir a si mesma e o mundo. A poeta acredita que as palavras têm poder de transformação e cura.