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Pelo Campus

Evasão de cursos na Universidade: um fenômeno complexo

Pesquisa mostra que o primeiro ano é o mais importante para a permanência nos cursos de graduação

Dedicar-se ao longo de, pelo menos, um ano para realizar um exame com 180 questões e uma redação, em dois dias, para então aguardar meses até que um sistema de seleção o aprove é exaustivo. No entanto, isso representa apenas o primeiro passo de três para quem sonha em fazer uma graduação em uma universidade pública: é necessário, além de entrar, permanecer e concluir. 

Nenhuma dessas tarefas é fácil, o que se pode comprovar, por exemplo, pelo número de evasões de cursos na UFRJ. Segundo dados da Pró-Reitoria de Graduação (PR-1), na década de 2010 a 2019, a taxa anual média de estudantes que abandonaram seus cursos foi de 11%, mais especificamente de 12,7% no ano de 2019. Esses dados, calculados a partir de informações extraídas dos censos do ensino, ajudam a perceber a relevância do fenômeno. Da mesma maneira, ao estudar os motivos que levam alguns alunos a evadirem de cursos de graduação na UFRJ, a doutoranda da Faculdade de Educação Melina Klitzke evidencia a complexidade do tema. 

Em seu artigo Fatores Associados à Evasão de Curso na UFRJ: uma Análise de Sobrevivência, publicado em 2021, a pós-graduanda analisou um grupo de indivíduos ingressantes no primeiro semestre de 2014, quando o Enem/Sisu já era a única forma de acesso à graduação na UFRJ. Melina acompanhou a trajetória desses alunos ao longo de seis semestres, a fim de observar as taxas de evasão dos cursos de graduação. 

As principais fontes de dados usadas na pesquisa foram os questionários socioeconômicos preenchidos pelos alunos da Universidade ao fazerem a matrícula, o que possibilitou à pesquisadora analisar também dados sobre raça e renda. Segundo ela, as informações obtidas a partir do formulário são satisfatórias e fornecem mais dados do que o próprio Censo da Educação Superior. Melina também utilizou dados sobre os estudantes fornecidos pela UFRJ , tais como origem social e demográfica, escolha de curso, desempenho no Enem) e coeficiente de rendimento (CR) ao longo do curso escolhido.

A partir desses dados, a pedagoga destaca que, nos dois primeiros semestres da graduação, o índice de evasão do curso é mais alto. Segundo ela, o abandono do curso está associado a fatores educacionais e de escolha de curso, bem como ao desempenho acadêmico do estudante. “O primeiro ano do estudante é crucial para a permanência dele. Se ele passa dessa fase, a taxa de evasão cai muito. Por isso, é importante desenvolver tutorias e monitorias que ajudem a sanar dificuldades que venham do ensino médio. É importante para que ele consiga se integrar melhor academicamente e permanecer no curso”, defende Melina.

A pesquisadora Melina Klitzke. Foto: Acervo pessoal

Além do estudo em questão, Melina também está analisando esses e outros dados em sua tese de doutorado, que será defendida e publicada em março. Nesta nova etapa da pesquisa, ela coletou informações sobre alunos contemplados por diferentes auxílios concedidos pela Pró-Reitoria de Políticas Estudantis (PR-7). Os dados apontam que não houve evasão em nenhum caso: aqueles que receberam algum tipo de auxílio não abandonaram o curso. 

Outro fator relevante para a permanência dos estudantes é a escolha do curso. Não à toa, a pesquisadora optou por selecionar dados de 2014 em diante, para que pudesse avaliar a geração mais recente que ingressou pelo Enem/Sisu e com 50% da lei de cotas já implementada na UFRJ. Segundo ela, a dinâmica de escolha de cursos estabelecida pelo Sisu modifica a maneira como o estudante se relaciona com a carreira optada, pois muitas vezes não é a sua opção principal. “A pesquisa e esses dados podem ajudar a gente a refletir sobre esse método de ingresso na Universidade”, conclui ela.

Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Tassia Menezes.