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O ciclo da vida galáctico

Estudo brasileiro inédito relaciona a evolução de galáxias conforme formato que aparentam

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentaram um estudo, em novembro, na revista britânica da Real Sociedade Astronômica, que demonstra como a forma das galáxias é determinante para que ela se renove ao formar novas estrelas no universo. Com base em dados observacionais obtidos com telescópios terrestres e espaciais, combinados com análise computacional e o uso de inteligência artificial, os cientistas verificaram que, além da quantidade de gás frio, essencial para permitir o nascimento de novos astros, o formato da galáxia revela a capacidade que há para ela se revigorar.

Os resultados do estudo permitirão avanços na Astronomia, de acordo com Thiago Gonçalves, astrônomo da UFRJ, um dos autores do trabalho.  Para ele, o método pode ser aplicado em outros contextos a fim de entender, de forma definitiva, quais são os processos físicos mais eficientes para a evolução ou não de galáxias no universo.

O trabalho, liderado pela astrônoma Camila de Sá Freitas, mostrou que a velocidade com que galáxias podem “morrer” depende fundamentalmente de seu formato e da quantidade de hidrogênio existente nessas regiões do espaço. Mas esse gás, que dá origem a novos astros, não necessariamente se esgota sozinho, como um carro que fica sem gasolina. Eventos violentos, porém, podem frequentemente remover o hidrogênio, presente no gás frio da galáxia, provocando a “morte” prematura, ou seja, os efeitos gravitacionais das colisões cósmicas podem ejetar o gás da galáxia, limitando o poder de originar novos astros.

Uma galáxia semelhante à Via Láctea, por exemplo, quando colide com outra, pode alterar a forma e mais rapidamente ir perdendo a luminosidade. Quando a aparência se mantém, por outro lado, ela se assemelha a um disco cósmico e vai esvanecendo paulatinamente. “Nossos resultados mostram que o formato atual da galáxia nos fornece pistas sobre seu passado, sua evolução até os dias atuais e seu histórico de fabricação de estrelas”, afirma Sá Freitas.

Com a ajuda da inteligência artificial, os autores do estudo conseguiram determinar os formatos galácticos. Os computadores analisam a distribuição de luz observada em uma galáxia para classificá-la de maneira mais eficiente que o olho humano. Para medir a velocidade com que galáxias morrem, os pesquisadores utilizaram um método desenvolvido pelo próprio grupo, que analisa cuidadosamente a luz que chega dessas galáxias. O método inovador pode inclusive mostrar se uma galáxia está de alguma forma formando estrelas mais rapidamente que no passado.

O trabalho mostrou, também, que algumas galáxias estão mesmo “saindo da cova”. Esse processo é visto sobretudo para galáxias com aparência irregular, assimétrica. “Essa aparência está associada a grandes colisões cósmicas, que permitem um influxo de gás para uma galáxia morta, o que lhe oferece a oportunidade de uma segunda vida, mesmo que seja por um período curto de tempo.”