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UFRJ tem os três maiores meteoritos do Brasil

Pesquisas com as rochas do espaço possibilitarão os estudos das origens do Sistema Solar

Com a chegada do Campinorte ao Museu de Geodiversidade da UFRJ, a Universidade passa a ser detentora dos três maiores meteoritos existentes no Brasil (Bendegó e Santa Luzia, são os outros dois, ambos ficam no Museu Nacional). A rocha, com aproximadamente 1,4 tonelada, chegou na quinta-feira, 12/9, ao Instituto de Geociências no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (Igeo/CCMN) e ficará em exposição na entrada do museu administrado pela unidade, tão logo a UFRJ retome as atividades.

O meteorito é composto por ferro e níquel, sendo classificado como “não grupado”, por ser diferente de todos os outros descobertos na Terra. Por isso, o estudo da rocha fornecerá informações sobre a evolução do Sistema Solar. Ele caiu há cerca de mil anos no planeta, precisamente em uma fazenda do município de Campinorte, que fica a 300 quilômetros de Goiânia, capital do estado de Goiás, mas a descoberta ocorreu apenas em 1992. Adquirida por 365 mil reais, graças a contribuições de pesquisadores, pessoas físicas e, principalmente, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a peça é única, em formato de pera e tem 70 centímetros de altura.

Da esquerda à direita: Ismar Carvalho (Casa da Ciência), Maria Elizabeth Zucolotto (astrônoma do Museu Nacional), Fernando Peregrino (Fundação Coppetec), Jerson Lima (Faperj), Denise Pires Carvalho (reitora da UFRJ) e, atrás, Cassia Turci (decana do CCMN/UFRJ) | Foto: Moisés Pimentel (Coordcom/UFRJ)

Para a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, a união de várias unidades da instituição − Museu Nacional, Observatório do Valongo, Casa da Ciência, Museu da Geodiversidade e Fundação Coppetec − e o apoio da sociedade e da Faperj possibilitaram aquisição, transporte e criação de infraestrutura para um patrimônio que ficará disponível à sociedade brasileira, além do fortalecimento da pesquisa no estado. “Somos todos defensores da ciência, defensores da geração de conhecimento e desse modelo de universidade em benefício da sociedade”, disse a reitora, que se sentiu honrada por receber a rocha e relembrar que outra mulher, a Princesa Isabel, recebera no passado o meteorito Bendegó no Museu Nacional (MN).

Segundo Maria Elizabeth Zucolotto, astrônoma do MN, “os meteoritos são fragmentos de corpos extraterrestres, no caso asteroides, que sobreviveram à passagem pela atmosfera como meteoros, as populares estrelas cadentes, e caíram na superfície terrestre. Milhões de dólares são gastos para enviar sondas espaciais ao espaço e coletar amostra dos asteroides”. A astrônoma destacou que a descoberta do meteorito foi reconhecida pelo Meteoritical Bulletin, número 99, em 2011, não havendo outro semelhante em todo o mundo, tendo fragmentos dele sido analisados em Los Angeles e pela UFRJ a fim de se revelar a composição química.

Do ponto de vista de Zucolotto, além de ser uma curiosidade científica de algo que veio do espaço, a sociedade e a ciência se beneficiam dos estudos que serão realizados com o meteorito para verificar como ocorreu a formação e evolução do Sistema Solar. “Temos meteoritos trazidos da Lua, com amostras coletadas pelo projeto Apolo. Mas esse meteorito caiu em nosso país. Ele é como se fosse o núcleo da Terra, um lugar que dificilmente iremos pesquisar um dia. Assim, permitirá o estudo da formação do planeta e dos outros planetas do sistema”, esclareceu.

O presidente da Faperj, Jerson Lima, ressaltou a importância de o meteorito ficar em território nacional e não ter sido adquirido por estrangeiros. “Estimular talentos na área das ciências é o objetivo da Faperj, e esse investimento é multiplicativo, pois beneficiará estudantes e pesquisadores. Avaliamos o projeto com pareceres de especialistas da área em tempo recorde e decidimos trazer o meteorito para a UFRJ. As agências de fomento têm de apoiar a ciência básica e criar possibilidades para que estudos desse tipo sejam realizados no Brasil.”

A diretora do Museu da Geodiversidade, Katia Mansur, explicou que vai compor parte do acervo voltado para contar a história da Terra. “Nada melhor do que algo que realmente tem a idade do planeta para compor essa narrativa dentro do museu”, disse. Para ela, os diversos visitantes que temos poderão conhecer as nossas origens e entender o que queremos fazer com o nosso planeta. “Por enquanto, estamos fechados ao público devido à pandemia. Mas tão logo seja possível ele ficará em uma base na entrada do museu para que todos possam conhecer o Campinorte”, concluiu.