O concurso literário promovido durante a quarentena pelo projeto de extensão Compartilhando Leituras já tem “vencedor” e deu frutos. No dia 20/8, às 19h, pelo YouTube, será lançado o e-book Produções em Tempo de Isolamento: Poetizar e Registrar o Inédito. Thiago Luz, com “Colheita”, foi o primeiro colocado entre 678 textos enviados.
Realizado pela decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o concurso recebeu contos, crônicas e poemas que foram avaliados por uma banca examinadora composta por extensionistas do projeto, professores e técnicos-administrativos do CFCH. Ao todo, foram selecionados 31 textos, que estão reunidos no e-book que pretende contar um pouco das experiências humanas durante a pandemia do novo coronavírus.
“No período de confinamento pelo qual estamos passando, após um momento de completa mudança em nossas rotinas e atitudes, as pessoas recriaram suas formas de ser, se permitiram fazer novas experiências nas mais variadas áreas. Os textos reunidos nesse e-book revelam experiências de escrita que servirão para que as futuras gerações conheçam o que vivemos juntos”, explica Rejane Amorim, que coordena a área de Integração Acadêmica de Graduação do CFCH e, juntamente com Valdete Tavares, servidora técnico-administrativa, também o projeto de extensão que organizou o concurso.
Na perspectiva dos extensionistas do projeto, Amanda Ferreira, Ana Lucia Barreto, Felipe de Carvalho, Lidiane Cezario e Rebeca Calado, “a experiência de levar a extensão universitária para o âmbito virtual emergiu de um clima instável, preocupante e inesperado não só no Brasil, mas no mundo todo”. Segundo eles, era preciso traçar novas estratégias, reinventando-se em meio à situação delicada do momento. Seria necessário reorganizar as agendas e reconsiderar certezas, evidenciando a importância da extensão universitária.
“Depois de aproximadamente um mês sem aulas e com as atividades paradas, nossa coordenação trouxe a ideia de criarmos a proposta de um concurso virtual, no qual as pessoas pudessem usufruir desse espaço para compartilhar suas angústias, perspectivas, ideias e sentimentos através de escritas livres. Para isso, foi necessário pensar previamente em alguns detalhes que tornassem nossa proposta atrativa e convidativa para os futuros participantes. Nesse sentido, os processos de design, escrita e divulgação planejaram cada detalhe para que não perdêssemos a nossa identidade de um projeto que visa e prioriza o compartilhamento e a leitura de mundo. Inicialmente, nossa perspectiva era de alcançarmos entre 80 a 100 inscritos. Felizmente, nossas projeções superaram o que havíamos imaginado, extrapolando a marca de 600 textos recebidos via e-mail.”
Carioca graduado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Thiago Luz foi quem “venceu” o concurso Compartilhando Leituras, com um texto que, de acordo com ele próprio, foi escrito com o estado de espírito de total distopia. Justamente por isso, Luz tentou escrever o contrário: “É um texto esperançoso”, diz ele. “Colheita” é, segundo o autor, como uma carta para um amigo de longa data. “Foi assim que imaginei, que comecei a escrever. Há uma cumplicidade no texto que só bons amigos podem ter.”
O professor Marcelo Macedo Corrêa e Castro, decano do Centro e presidente da banca examinadora, conta que a ideia do concurso foi uma maneira saudável de manter vivo o compartilhamento. Qualquer pessoa podia enviar um texto sobre o mundo pós-pandemia. Fixou-se um número máximo de palavras, mas sem determinação de idade, formação ou nacionalidade. Assim, chegaram textos de diversas regiões do Brasil e países como Angola, Estados Unidos e Portugal, o que deixou emocionados os responsáveis pelo projeto.
Alcançando seu objetivo, o Compartilhando Leituras, na opinião de Corrêa e Castro, tornou-se também mais conhecido, proporcionando a muitas pessoas a oportunidade de participar de um concurso que pôde ser um espaço de troca, aprendizado e vivência.
No entanto, para o decano, os textos que ficaram bem colocados no concurso não devem ser vistos como vencedores, e sim como uma “coleção de exemplos do esforço humano de compartilhamento”, já que para os objetivos da ação importa mais valorizar esse compartilhamento como “prática de civilização do que como construção de parâmetros de julgamento e disputa”.
Arremata ele: “Ganhamos todos. Ganhamos porque escrevemos diante de nós, das nossas incertezas e dos nossos desejos. Ganhamos porque essas escritas circularam para além das nossas solidões e dos nossos medos. Ganhamos porque crianças, adolescentes e adultos de idades variadas escreveram a partir de si mesmos, para compartilhar com interlocutores que sequer os conheciam. Ganhamos porque (re)descobrimos a escrita como gesto de humanização que nos aproxima de nós mesmos e do mundo em que vivemos. Ganhamos porque preenchemos um tempo de perguntas com uma escrita de reflexão. Ganhamos a reafirmação do direito de sonhar com futuros”.
Luz, que possui dois livros publicados no gênero poesia e, durante a pandemia, já escreveu mais um livro de poemas e boa parte de um romance, praticamente concorda com Corrêa e Castro: “Ganhar um concurso literário é um acidente. Um belo acidente”.
O lançamento do e-book poderá ser acompanhado pelo canal do Setor de Comunicação (Secom) da Decania do CFCH (https://www.youtube.com/channel/UCxY7tqAoJJ8-J6IKE2JWPmw). Para o evento, estão previstas as participações de Thiago Luz e outros autores finalistas do concurso. Já para ver a publicação, acesse: https://bit.ly/3gJNu41.